A BrasilAgro é peculiar em alguns sentidos. Um deles é o calendário: hoje a empresa divulgou os resultados do 4T e de 2024 (referentes ao ano-safra 2023/2024). Outro é sua diversidade de frentes de negócio: além da produção agrícola, há uma relevante atuação no setor imobiliário.
“A gente identifica ativos com potencial de mudar o EBITDA com gestão de capital e gestão humana. A terra valoriza e a gente sai um dia”, disse o CEO, André Guillaumon. “Por que eu estou reforçando isso? Porque tivemos um ano agrícola bastante duro”.
Os negócios imobiliários seguraram o resultado da BrasilAgro no azul, apesar do ano ruim na produção agrícola. “No campo nós tivemos custo alto, produtividade não tão alta, preço de commodities deprimido, muito deprimido”, disse Guillaumon.
A empresa concluiu 2024 com lucro líquido de R$ 226,9 milhões (queda de 16% em relação a 2023) e um EBITDA ajustado de R$ 279,8 milhões (queda de 48%). Da receita líquida de R$ 1,1 bilhão (queda de 20%), R$ 248,4 milhões vieram da venda de fazendas e R$ 771,1 milhões da venda de produtos agrícolas.
O comunicado da BrasilAgro reflete os dois lados. No lado imobiliário, comemorações. “Este ano foi especialmente notável para o nosso segmento imobiliário. Em março, realizamos a venda de 12.335 hectares da Fazenda Chaparral, na Bahia, marcando a primeira venda parcial dessa propriedade, adquirida em 2007. O valor nominal da transação foi de R$ 364,5 milhões, com uma TIR projetada de 15,0% em reais”, afirma o texto.
“Em linha com nossa estratégia de diversificação, anunciamos o arrendamento de mais de 7 mil hectares no Estado de São Paulo para a produção de cana-de-açúcar, abrindo caminho para nossa entrada no mercado de açúcar. Também adquirimos a Companhia Agrícola Novo Horizonte S.A., que inclui um contrato de arrendamento de 4.767 hectares úteis em Primavera do Leste, Mato Grosso, um dos principais polos agrícolas do país”.
No lado agrícola, dificuldades. “A safra 2023/2024 foi marcada por desafios significativos, tanto climáticos quanto operacionais. Enfrentamos uma escassez de chuvas no início, impactando o plantio e exigindo replantio, especialmente na Bahia e em novas áreas no Mato Grosso. Isso nos levou a realocar áreas de soja para o cultivo de feijão, ampliando nossa área de cultivo desse grão. A queda nos preços do milho também resultou em uma redução na área plantada e uma revisão no mix de produtos”, diz o comunicado da BrasilAgro.
Em busca de melhores condições de mercado, a BrasilAgro estocou a produção num nível bem acima do habitual. “No ano passado a gente carregou 30 mil toneladas de soja, 14% do total, para a safra seguinte”, disse Gustavo Javier Lopez, CFO e DRI. “Esse ano, carregamos 75 mil toneladas, quase 40%”.
A BrasilAgro está mais otimista para a safra 2024/2025. A empresa planeja elevar sua produção em soja (26%), milho safrinha (12%), feijão safrinha (38%) e algodão safrinha (51%). Com a normalização do cultivo, o feijão deve recuar (-70%). A empresa estima uma redução de custos para a próxima safra em quase todos os cultivos: soja (-10%), milho (-26%), milho safrinha (-19%), e feijão (-10%).
“Para a safra 24/25 as perspectivas são otimistas, com previsões climáticas mais favoráveis e menores atrasos nas chuvas”, disse Guillaumon. “Isso deve ajudar o plantio na janela ideal. Estamos confiantes na recuperação da produtividade e das margens afetadas pelos preços das commodities”.