A Ceva Saúde Animal tem uma boa e uma má notícia para seus negócios no Brasil. A boa é que, com o apoio das vacinas produzidas pela empresa e alguns concorrentes, o País avança a passos rápidos para atingir o status de livre da febre aftosa sem vacinação.

A má notícia é que, à medida em que se dá esse avanço, as indústrias de vacinas perdem vendas – que podem culminar até com o encerramento de um mercado. “Nós já tivemos uma queda significativa no ano passado, e esse ano vamos vender 40% menos em doses. Em breve, não venderemos mais”, conta Giankleber Diniz, diretor geral da Ceva Saúde Animal Brasil, em entrevista ao AgFeed.

O plano do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é que o fim da necessidade da vacinação – que confere melhores condições de mercado para a exportação da carne bovina brasileira – aconteça até 2026. A partir de abril, por exemplo, mais sete estados passarão a exibir esse status.

Com esse cenário previsível, a Ceva foi buscar alternativas. E, mesmo vendendo menos vacinas, Diniz projeta um crescimento de 12% para a Ceva em 2024, impulsionado principalmente pelo lançamento de novos produtos.

A multinacional francesa é a quinta maior do mundo em saúde animal e tem 32 fábricas espalhadas pelos continentes. No Brasil, a empresa é a sexta no ranking do setor, com faturamento anual de R$ 700 milhões.

“Desde 2017, nós dobramos de tamanho no Brasil. Nós temos quatro grandes áreas, sendo que três delas voltadas para a pecuária, que responde por 80% das nossas receitas”, afirma Diniz.

Globalmente, a Ceva tem um faturamento anual de 1,6 bilhão de euros (cerca de R$ 8,8 bilhões). Segundo Diniz, os produtos da fabricantes são vendidos em 110 países e o Brasil é o terceiro mais relevante em resultados para a companhia.

O crescimento recente e a perspectiva positiva tem muito a ver com os investimentos feitos em inovação, segundo o diretor da Ceva no Brasil. Ele conta que, somente em 2024, serão oito novos produtos lançados.

“Nós acabamos de desenvolver, por exemplo, o primeiro hormônio recombinante do mundo para bovinos. A produção desse hormônio dependia de uma glândula localizada no cérebro de suínos e, para fabricar uma dose, eram necessárias oito destas glândulas. Nós conseguimos desenvolver uma forma de clonagem e uma única dose desse novo produto equivale a oito da versão anterior”.

A empresa é líder em vacinas de aves no Brasil. “Por muito tempo, as granjas sofreram com a bronquite infecciosa de galinhas, uma doença tipicamente brasileira. Em oito anos, nós desenvolvemos uma vacina”, diz o executivo.

A Ceva tem três fábricas no Brasil, sendo duas muito próximas, nas cidades de Paulínia e Campinas, no interior de São Paulo, e outra em Juatuba, cidade que fica a 50 quilômetros da capital mineira, Belo Horizonte. No total, são 600 funcionários.

Diniz revela que as metas da Ceva são mais voltadas para oferecer novas soluções, sem preocupação em subir no ranking de participação de mercado. “A Ceva, recentemente, esteve na liderança de empresas que mais fazem investimentos no mundo. Globalmente, são 10% do faturamento voltados para Pesquisa e Desenvolvimento”, conta.

O centro global de P&D voltado para bovinos é localizado no Brasil. “Estamos construindo mais um centro de pesquisa na área da nossa sede, em Paulínia”. Diniz afirma que ainda não pode revelar quanto a empresa vai investir nesse novo centro.

A Ceva também é parceira do AgTech Innovation, hub de inovação voltado inteiramente para o agronegócio. “Somos a única empresa de saúde animal que sustenta o hub”, afirma Diniz.

O diretor da companhia afirma que tem 16 projetos rodando com startups neste momento. “Acredito que entre 2027 e 2028, nós já teremos produtos no mercado que vão sair destas parcerias com as startups”.

Outra curiosidade sobre a Ceva é a estrutura administrativa. A empresa não tem um controlador e o “bloco de controle”, que tem 51% de participação, é formado por diretores e gerentes seniores.

“Nós temos um comitê executivo que é responsável pela administração. Mas os maiores acionistas somos nós, que trabalhamos na empresa. Os outros 49% estão nas mãos de um grupo de investidores, que não participam das decisões, só recebem os resultados”, explica Diniz.

O diretor da Ceva Brasil acredita que o caminho natural da empresa, que vai fazer 24 anos de atuação no país, é abrir o capital. “Fazer um IPO vai acontecer em algum momento, mas ainda não sabemos quando”.