A diversificação dos negócios mais uma vez ajudou a 3tentos a seguir crescendo em receita e resultado líquido, em pleno período de “ajuste” do agro, que vem apertando margens dos produtores rurais e causando preocupação entre as revendas de insumos.
A companhia de origem gaúcha, listada na bolsa brasileira B3, atua na venda de insumos, mas também tem participação importante na comercialização de grãos e farelo de soja, além de operar como indústria esmagadora e produtora de biodiesel.
No balanço divulgado nesta segunda-feira, a 3tentos reportou uma receita operacional líquida de R$ 3,496 bilhões no terceiro trimestre de 2024, o que representa um aumento de 45,4%.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos e depreciação) ultrapassou R$ 365 milhões, 105,6% de avanço no trimestre. Já o Ebitda ajustado, que desconta outros itens contábeis não recorrentes, ficou em R$ 394 milhões, alta de 194%.
O lucro líquido da empresa subiu de R$ 217,8 milhões no terceiro trimestre do ano passado para R$ 318,4 milhões de julho a setembro de 2024 – aumento de 46,1%. Se considerado o indicador do lucro líquido ajustado, houve um recuo, de 3%, ficando em R$ 194,5 milhões.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO da 3tentos, Luiz Osório Dumoncel reafirmou que a diversificação e verticalização adotadas pela companhia justificam o crescimento constante, mesmo no período adverso.
“Essa integração eu vejo como o principal fator (para o crescimento). Essa atuação que nós temos como ecossistema, uma empresa verticalizada dentro daquilo que a gente sabe fazer. Conseguimos uma fórmula que consegue passar anos mais desafiadores e que aproveita os momentos mais saudáveis do mercado e da agricultura”, avaliou.
A fórmula, neste momento, está sendo ainda mais necessária, porque o mercado de insumos vem enfrentando atrasos nas compras por parte dos produtores, preços mais baixos e estoques elevados.
Até mesmo na 3tentos, que segue aumentando os lucros, o pilar de insumos foi o que menos cresceu. A receita operacional do segmento ficou em R$ 757,5 milhões de julho a setembro, alta de apenas 3,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Ainda assim, as vendas de fertilizantes e defensivos, em volume, cresceram 24% e 25%, respectivamente. Já nas sementes, houve queda de 61% no volume comercializado.
Dumoncel explicou que os problemas climáticos que afetaram o Rio Grande do Sul, principalmente, reduziram a oferta de sementes de qualidade nas culturas do trigo e da soja. A empresa acaba optando por vender como grãos as sementes que não chegam nos padrões desejados.
“No caso da semente especificamente que a 3tentos produz, ela teve um resultado de decréscimo em função principalmente do trigo na safra 23, onde nós tivemos chuva na colheita, tivemos uma perda dos campos de produção ao redor de 30%”, disse o CEO.
“E nesse ano, que foi o ano da enchente, nós tivemos muita chuva na colheita da semente de soja e cancelamos os campos de produção por problemas de qualidade, então tivemos que destinar esse grão para a indústria”.
Nos defensivos e fertilizantes, a empresa avalia que não houve crescimento significativo “porque o produtor vem decidindo escalonar suas compras”. Dumoncel diz que ele (o produtor) “não está comprando agora o que vai usar só em janeiro ou fevereiro”.
A empresa informou que os preços dos insumos tiveram queda entre 10% e 15%, mas foram compensados por maiores volumes comercializados.
Nos nove primeiros meses do ano a receita da 3tentos chegou a R$ 9 bilhões, alta de 50% em relação ao mesmo período de 2023.
Mercado mais promissor para grãos e biodiesel
Os números mais animadores do balanço aparecem nos segmentos de grãos e indústria. No primeiro a receita operacional alcançou R$ 885,4 milhões, um crescimento de 126,5% em relação ao mesmo semestre do ano passado.
Já na indústria, houve um avanço de 44,9%, com receita de R$ 1,85 bilhão.
O resultado nesse segmento vem sendo impulsionado pelo avanço da empresa em Mato Grosso, que já responde por 35% de toda a receita da 3tentos.
Uma etapa importante foi o início das operações da fábrica de biodiesel da 3tentos no município de Vera (MT).
“A indústria de Vera está numa performance incrível, assim como em Ijuí e Cruz Alta. Sem dúvida nenhuma, a indústria e e os grãos, que são dois dos pilares da empresa, foram muito bem nesses primeiros nove meses do ano”, afirmou Dumoncel.
A empresa diz que em função de “melhor eficiência e cenário positivo para o biodiesel” está atualizando suas projeções de volume para 2024 de 490 mil m3 para 560 mil m3.
A favor da indústria conta o recente aumento no percentual de mistura de biodiesel ao óleo diesel comum e a expectativa de que siga crescendo. Ao extrair o óleo de soja para produzir o biocombustível, a empresa obtém o farelo, produto que segue com demanda aquecida para a exportação.
“É um mercado que tem um crescimento, que tem uma demanda constante, contratada. E aí ficamos cada vez mais confiantes na decisão da companhia”.
Sobre possíveis efeitos das recuperações judiciais de produtores nos negócios da 3tentos, o CEO garantiu que não há reflexos significativos na inadimplência, que seguiria praticamente sem alteração.
“Nós sabemos que é um cenário desafiador, mas o fato da 3tentos ser uma companhia muito próxima do agricultor, ter uma intimidade com o cliente, temos uma carteira muito saudável. Não que os agricultores não enfrentem problemas, inclusive de clima, de preços, de custo, receita, mas nós administramos muito bem isso junto com o produtor”.
O executivo diz que a empresa “seleciona” os clientes e também “é escolhida” pelos agricultores. “Buscamos sempre estar com os melhores, em todos os aspectos, começando por caráter, passando por todo um desenvolvimento de tecnologia dele, e pela gestão”.
FIDC a caminho
O balanço da 3tentos mostra que a dívida líquida da empresa em setembro de 2024 estava em R$ 149 milhões, um aumento de 182% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a companhia, o número está relacionado aos investimentos feitos no primeiro semestre deste ano, de acordo com o plano de expansão da 3tentos anunciado em janeiro.
Ao AgFeed, o CEO da empresa disse que a relação dívida/ebitda, que era de 0,01x em setembro 23, agora estaria em 0,19x.
O foco da 3tentos agora é seguir implementando o plano de investimentos com ajuda das operações recentes que foram anunciados. Uma delas foi a emissão de debêntures em maio, de R$ 625 milhões e outra foi a confirmação na semana passada de um empréstimo do BNDES, de R$ 500 milhões, via Fundo Clima, que tem prazo de 15 anos com dois de carência.
A prioridade é a indústria de etanol que está sendo construída em Porto Alegre do Norte (MT). O plano total de expansão da empresa era de R$ 2 bilhões. Nesta segunda-feira, a companhia também divulgou um fato relevante para informar um acréscimo de R$ 120 milhões neste valor total.
O motivo foi um aumento na capacidade da usina de etanol para processar 2,8 mil toneladas de milho e sorgo por dia. A indústria poderá produzir 1.223 m3 de etanol por dia, 798 toneladas de DDGS e 50 toneladas de óleo de milho.
“Lá nós devemos iniciar a operação no primeiro trimestre de 2026. Estamos muito confiantes, já estamos iniciando um projeto de fomento do uso do DDG na região”, revelou Dumoncel.
Em paralelo, a 3tentos deve lançar nos próximos dias um FIDC, fundo de direitos creditórios, com objetivo de financiar os produtores rurais na compra de insumos. O valor será de aproximadamente R$ 300 milhões.
“O FIDC é uma operação estruturada comercial. Nós compramos com mais competitividade agora, no à vista, vendemos para o produtor com preço competitivo a prazo e ainda ganhamos um spread”, explicou.
Luiz Osório Dumoncel se disse otimista em relação a safra 2024/2025.
“Temos uma previsão melhor, um ano de normalidade, de clima no sul do Brasil e no Centro-Oeste. Isso vai trazer uma perspectiva de uma safra positiva de soja, positiva de milho, e com as contas do produtor sendo trabalhadas com maior previsibilidade”.