As máquinas da nova fábrica da gaúcha 3tentos, no município de Vera, região da BR-163, em Mato Grosso, já estão esmagando soja para extrair óleo e farelo, de forma experimental, no chamado comissionamento, desde meados de abril.

A partir de junho, a unidade estará 100% operacional e deverá processar 2,6 mil toneladas de soja por dia, embora a capacidade seja de 4 mil t/dia.

Nos próximos meses a 3tentos, que se denomina um “ecossistema” de fornecimento de insumos agrícolas, trading e originação de grãos, também inaugura mais duas lojas em Mato Grosso, em cidades ainda não reveladas.

Com isso, as 8 unidades previstas para o estado até 2025, incluindo a fábrica, que faziam parte do plano de IPO da companhia há dois anos, já estarão instaladas.

O movimento é estratégico para a expansão da companhia gaúcha. Com atuação já consolidada no Rio Grande do Sul, as principais oportunidades de crescimento estão no Centro-Oeste, não apenas na soja, carro-chefe da empresa, mas agora também no milho e, quem sabe, nos seus subprodutos.

“Temos muita confiança no crescimento do setor e na expansão da 3tentos”, disse o CEO Luiz Osório Dumoncel, em entrevista ao AgFeed, se referindo principalmente ao aumento do market share da empresa nos mercados em que atua.

Ele admitiu, no entanto, que a queda nos preços das commodities agrícolas como soja e milho e as variações no câmbio – o dólar chegou a ser cotado em R$ 4,89 na metade de abril – representam riscos para o faturamento das empresas do setor.

Dumoncel preferiu não comentar efeitos no desempenho da companhia e a expectativa para o ano considerando este cenário, já que os números do primeiro trimestre de 2023 serão divulgados nesta quinta-feira, 4 de maio.

Já a perspectiva de uma safra recorde de milho este ano deve contribuir para que a originação de milho da 3tentos em Mato Grosso chegue a 300 mil toneladas.

É uma guinada e tanto para a 3tentos, que até a safra passada praticamente não tinha nenhuma atuação com o grão e, agora, deve destinar a maior parte do volume adquirido à exportação.

Para Dumoncel, o início das exportações de milho para a China e o cenário positivo para a segunda safra no Brasil foram fatores que estimularam esta nova posição.

Luiz Osório Dumoncel, CEO da 3tentos

“Já estamos acessando o mercado chinês, primeiramente foi com participação em alguns navios, com volumes menores. Mas este ano será de forma mais firme, com um programa de exportação bem adequado não apenas de milho, mas também de soja e farelo”, revela o executivo.

Um possível investimento no etanol de milho também está em estudo. O número de novas usinas vem se multiplicando na região Centro-Oeste e atraindo novos investidores.

Segundo dados da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), nos últimos seis anos foram investidos cerca de R$ 15 bilhões na construção ou ampliação de usinas para a produção do combustível no Brasil. A maior parte desses recursos foi para o Mato Grosso.

Uma quantia semelhante está prevista para ser desembolsada em novos projetos até 2030, de acordo com a Unem. Isso devido ao aumento na demanda pelo biocombustível, oferta maior de milho segunda safra e crescimento de subprodutos como o DDG, utilizado na ração animal, que também poderá ser exportado em maior volume.

“Por enquanto são apenas estudos, está tudo no papel, queremos observar como será o programa de milho esse ano, se vai ter matéria-prima, ter onde colocar, ver os resultados consolidados da safra para falar em planos futuros”, pondera Dumoncel.

Diversificação de serviços

Com valor de mercado hoje estimado em cerca R$ 5,5 bilhões, a 3tentos foi criada em 1995, quando Dumoncel e o irmão voltaram da faculdade e, junto com o pai, montaram um negócio para fornecer sementes e agroquímicos aos agricultores da região de Santa Bárbara do Sul, no Rio Grande de Sul.

Aos poucos foram agregando outros serviços, como armazenagem, compra e venda de grãos. Em 2013, montaram a indústria para fazer o esmagamento da soja e vender seus subprodutos, chegando até o biodiesel.

Atualmente cerca de 30% do faturamento da empresa vem da venda de insumos aos agricultores, 10% da comercialização de grãos e 60% da indústria. Essa divisão chega a variar 5 pontos percentuais a cada safra, dependendo de qual mercado está mais atrativo.

A característica do negócio que, segundo Dumoncel, “é difícil de replicar” baseia-se em buscar um relacionamento mais próximo com o agricultor, agregando novos serviços.

Um dos mais recentes foi o lançamento da TentosCap, braço financeiro da companhia, que está oferecendo crédito aos produtores rurais.

“Já emprestamos R$ 60 milhões no ano passado e devemos chegar a 100 milhões em 2023”, disse o CEO. Ele explica que a intenção não é competir com as operações de barter da própria empresa nem com bancos tradicionais, é apenas um “crédito complementar ao agricultor”.

Neste sentido, o principal produto lançado foi um cartão de crédito com vencimento “na safra”, ou seja, até 31 de maio. O público-alvo são os 20 mil clientes da empresa que já teriam um crédito pré-aprovado.