Fundos de investimento em tecnologia e inovação, os chamados VCs - Venture Capitals, parecem ter finalmente ajustado suas ofertas de investimento para níveis mais palatáveis e bem fundamentados.

Analisando mais profundamente os recentes movimentos desses fundos, me dei conta da enorme oportunidade que nós, empreendedores brasileiros de inovação e tecnologia no Agro, temos pela frente.

Pensem comigo: O Brasil tem a agricultura mais pujante, sustentável (ambiental e economicamente) e desenvolvida do mundo. Lidera a produção de alguns dos itens alimentares mais importantes e consumidos e faz tudo isso aplicando o que há de mais moderno em tecnologia em um dos ambientes mais desafiadores e difíceis do mundo - a Agricultura Tropical.

Qualquer tipo de praga ou doença imaginável na agricultura parece nascer e prosperar aqui. Além disso, temos o custo de capital mais alto do mundo, níveis educacionais iguais ou inferiores aos piores no ranking da Nações Unidas, estamos entre os piores em qualquer ranking de eficiência do trabalho.

Mesmo assim e apesar de tudo isso, nos destacamos como os melhores produtores de alimentos do planeta.

Muito bem, mas tudo isso a maioria de vocês já sabia.

O que poucos parecem ter se dado conta, em especial investidores e stakeholders do Agro Brasileiro, é que tal ambiente desafiador forja empreendedores resilientes, criativos e altamente adaptáveis.

Isso é o que chamo de Valor Real. Temos empreendedores excepcionais, criando soluções únicas e especiais e que serão exportadas nos próximos anos para os principais mercados agrícolas do mundo.

E por que não foi assim até agora, nas duas primeiras ondas de agtechs nascidas em nosso país ao longo dos últimos 10 a 12 anos?

Em minha humilde visão, provavelmente porque a grande maioria dos empreendedores parecia estar mais preocupada com o Valor Percebido (ou como gosto de chamar, com a "fumaça"), tentando convencer o mercado (clientes, investidores, times, etc), do que com o Valor Real.

Há uma clara evolução na maturidade dos empreendedores que chegaram ao mercado nos últimos anos e uma preocupação genuína em construir Valor Real. Ou seja, gerar resultados para seus clientes, seu mercado, seus investidores e outros stakeholders, em lugar de se preocupar em fazer barulho antes de performar.

A escassez de investimentos dos últimos 12 meses contribuiu para que muitos destes empreendedores fossem chamados à realidade

Claro que a escassez de investimentos dos últimos 12 meses contribuiu para que muitos destes empreendedores fossem chamados à realidade que sempre foi a única que deveria importar, independente do volume de capital disponível.

Ter um produto ou serviço que entrega Valor Real, pelo qual alguém está disposto a pagar e que resolva um problema genuinamente grande deve ser o foco diário de qualquer empresa.

Todo o resto, incluindo a "fumaça" que faz parte do tal Valor Percebido, só se sustenta no tempo se o Valor Real estiver de fato sendo entregue ao mercado.

Seguimos juntos, muito obrigado pelo tempo e atenção de cada um de vocês!

Rodrigo Iafelice dos Santos é empreendedor, investidor e conselheiro em AgTechs e FoodTechs no Brasil e no Exterior.