Não é comum ver juntas, em uma mesma frase e de maneira positiva, as palavras fertilizantes e carbono. Cristiano Veloso, CEO e fundador da Verde Agritech, não hesita, no entanto, em fazer essa combinação.

E, para comprovar que está certo em fazê-la, atesta com o resultado de um estudo realizado pelo professor e especialista em solos David Manning, da Universidade de Newscatle, na Inglaterra. De acordo com esse estudo, cada tonelada do fertilizante K-Forte, produzido pela Verde, é capaz de retirar 120 quilos de carbono da atmosfera.

A constatação fez crescer a expectativa de Veloso com um plano ambicioso da companhia. Ele acredita que eventuais créditos de carbono gerados pelo uso do K-Forte podem financiar o caminho do Brasil à autossuficiência na produção de fertilizantes.

Não é uma jornada curta nem simples. Atualmente o País importa quase 90% de todo o NPK (sigla que reúne os três principais componentes dos fertilizantes, nitrogênio, fósforo e potássio) que é utilizado aqui. Somente para o potássio (K), essa porcentagem passa para uma faixa de 95%.

A Verde Agritech produz exatamente fertilizantes à base de potássio, extraído da mina de São Gotardo, em Minas Gerais.

O K-Forte utiliza a matéria prima de São Gotardo e é produzido sem a utilização de processos químicos, além de contar com a adição de microorganismos que auxiliam na sua incorporação pelas plantas.

Segundo o CEO, a mina de São Gotardo oferece um diferencial à empresa pelo tipo de produto que é extraído. A origem do produto é mais antiga, de uma matéria orgânica sedimentada de mais de 500 milhões de anos. Sem incorporar elementos como o cloro – obtido por processos químicos e altamente demandantes de energia – o fertilizante da Verde acaba tendo a pegada de carbono compensada e ainda gera saldo positivo.

“Antes do resultado da pesquisa de carbono, nosso plano de expansão era para suprir cerca de 50% da demanda de potássio brasileira nos próximos anos”, afirma Veloso ao AgFeed. “Com a notícia do estudo, não tem porque pensar em menos de 100%”.

As contas de Veloso são baseadas no potencial do mercado de créditos de carbono, que pode chegar a cerca de US$ 1 trilhão nos próximos 15 anos, segundo dados da Bloomberg New Energy Finance (BNEF).

Nas estimativas da Verde, em 2024 a produção de potássio da companhia já deve atingir o equivalente a 16,4% da necessidade brasileira do produto, um salto em relação a pouco menos de 4% neste ano.

Considerando a capacidade atual de produção da empresa, de 3 milhões de toneladas por ano, a companhia poderia capturar até 360 mil toneladas de CO2 anualmente.

Mas em 2024 a capacidade deve saltar mais de quatro vezes, fazendo a produção bater em 13 milhões de toneladas de potássio, com a inauguração de uma nova fábrica em São Gotardo, fruto de um investimento de R$ 270 milhões. Então, o potencial de captura de carbono pode passar para 1,5 milhão de toneladas por ano.

A ideia de Veloso é transformar esse carbono sequestrado em créditos e vendê-los no mercado internacional. Se tudo correr bem, essas operações começariam ainda em 2023. Os recursos obtidos seriam usados na ampliação da própria produção.

É dessa forma que a Verde Agritech pretende suprir a demanda brasileira de potássio. Veloso afirma que a mina de São Gotardo, operando em sua plenitude e fornecendo 100% do que o mercado precisa, teria vida útil de cerca de 100 anos.

Nesse tempo, ele calcula que podem ser produzidas 6 bilhões de toneladas de potássio. “Estamos falando em uma captura de 0,72 gigatoneladas de carbono ao longo da vida da mina. É o maior projeto de captura de carbono do mundo”, diz.

Para comprar esse carbono, Cristiano Veloso afirma, sem citar nomes, que gigantes agrícolas dos setores sucroenergético, do milho e de eucalipto já entraram em contato para desenvolver projetos em conjunto.

No fim do ano passado, a empresa solicitou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorização para construir um ramal ferroviário interligando as plantas da companhia ao Triângulo Mineiro. O projeto, que vai se conectar a sete estados, poderá atingir até 50 milhões de toneladas transportadas por ano.

Mesmo com os dois pés da operação no Brasil, a empresa foi criada em 2005 na Inglaterra, onde Veloso estudou e morou parte da vida.

Em 2007, o executivo tornou-se o empresário mais jovem a abrir capital na Bolsa de Toronto no Canadá. As ações da empresa são cotadas atualmente a 2,50 dólares canadenses, um valor duas vezes maior que a cotação inicial, de menos de 1 dólar.

Apesar disso, apresenta uma baixa de mais de 80% frente às duas máximas históricas, atingidas em abril de 2011 e maio de 2022, quando bateu patamares próximos aos 10 dólares.

Veloso conta que a empresa já foi consultada por diversos bancos para abrir capital também na Bolsa brasileira, algo que ele diz ser avaliado pela Verde Agritech.

“Falta tempo para analisar com atenção, tem muita acontecendo com a empresa, como a expansão e a entrada no mercado de crédito de carbono, por exemplo. Mas vejo o ambiente econômico favorável no Brasil e considero a Bovespa um excelente mercado”, afirma.

Ao mesmo tempo, os indicadores econômicos da companhia mostram avanços ao longo dos anos. Em 2022, o lucro líquido da empresa cresceu 405% frente a 2021, com US$ 17,3 milhões no ano. Enquanto isso, a receita foi de US$ 80 milhões, 190% acima do visto no ano anterior.

“O momento da empresa é excepcional. Mesmo num ano em que o preço das commodities agrícolas caiu, é um período de crescimento recorde. A perspectiva de resultado é boa e sou grato aos agricultores brasileiros que entenderam que o caminho para fortalecer o agro nacional é privilegiar os produtores de fertilizantes no Brasil”, completa Cristiano Veloso.