A boa safra de versão, com colheitas fartas de soja em grande parte dos estados produtores, trouxe, no primeiro trimestre de 2025, uma maré de otimismo moderado ao setor de máquinas agrícolas. Mas, a julgar pela avaliação da gigante americana John Deere, essa maré começou a virar, no sentido de uma nova vazante.

Assim, expectativa de que o mercado brasileiro de tratores, colheitadeiras e implementos, que até recentemente variava entre a estabilidade e uma alta de 5% em 2025 sobre o ano passado, já virou de lado.

A taxa básica de juros perto dos 15% ao ano e os sinais de que o governo não terá caixa para bancar uma equalização decente para os financiamentos no Plano Safra 202/2026 levaram a empresa a prever recuo de até 5% no mercado este ano.

“O momento atual com juro alto, volatilidade e incertezas globais, é certamente muito negativo e nossos produtores não estão comprando as tecnologias que poderiam trazer mais produção e mais gestão de custo”, disse Antonio Carrere, vice-presidente de vendas e Marketing da John Deere para a América Latina.

Segundo ele, os juros têm grande impacto na indústria, que começa a diminuir o ritmo de produção e negócios. “Hoje achamos que seremos similar a 2024, ou de zero a 5% menos, enquanto há alguns meses era de zero a 5% positivos”, afirmou o executivo durante conversa com jornalistas na Agrishow, em Ribeirão Preto.

Para Horacio Meza, diretor de vendas da John Deere Brasil, os pequenos agricultores têm sido os mais atingidos com os juros altos e com a restrição no crédito, principalmente no Sul do País. A região tem sofrido com perdas por seguidas safras devido à estiagem e, em parte do Rio Grande do Sul, enchentes como a do ano passado.

“Pouco mais da metade dos tratores é comercializada para pequenos produtores e no Sul a criticidade é ainda maior”, explicou Meza.

Agrishow

Com investimentos de US$ 2,3 bilhões globalmente e de R$ 3,3 bilhões no Brasil nos últimos cinco anos, a tecnologia é o destaque da John Deere na Agrishow. Um dos principais espaços do estande da companhia foi reservado para o 8R, o primeiro protótipo do trator movido a etanol da montadora.

“Se ano passado tivemos os primeiros motores a etanol e esse ano temos protótipo, logo vamos ter outras máquinas e as testaremos no campo”, disse Cristiano Correia, vice-presidente de Sistemas de Produção da John Deere para a América Latina.

Segundo a companhia, o motor foi calibrado com ajustes específicos de software para ter desempenho semelhante ao a diesel, mas com a vantagem de contribuir para a redução das emissões.

O foco inicial para o veículo será o mercado brasileiro, que já conta com redes consolidadas de produção e distribuição de etanol, além de ser o segundo maior produtor global do biocombustível, atrás dos Estados Unidos. Ainda não há prazo para o lançamento comercial do trator.

No estande, o 8R divide a atenção com o 9RX, o maior modelo produzido em série no mundo. Com potência que varia entre 710 cavalos e 830 cavalos, o trator é equipado com quatro esteiras e, segundo a montadora, é capaz de entregar até 40 hectares a mais de eficiência operacional por dia.

Outro destaque da John Deere são as soluções de conectividade ofertadas, que prometem atender pequenos produtores com investimentos a partir de R$ 30 mil. A companhia informa ter 775 mil máquinas conectadas atualmente em todo mundo e, até 2026, espera quase dobrar esse número e chegar a 1,5 milhão de máquinas conectadas.