Aos poucos a “Faria Lima” vai se acostumando com a terra vermelha e o clima quente da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola do País. O CEO da Genial Investimentos, Rodolfo Riechert, é a prova disso.

No ano passado ele conversou com o AgFeed ainda impressionado com o tamanho da feira e o perfil dos produtores rurais que estava conhecendo, uma combinação de simplicidade na pessoa física e faturamento bilionário com os resultados da lavoura.

Era o primeiro ano que a Genial montava um estande na feira de Ribeirão Preto, com seu touro de Wall Street chamando a atenção na praça que reúne os principais bancos que atuam no agronegócio.

Desta vez o touro lá estava novamente. Mas ele nos recebeu falando com ainda mais confiança sobre o setor, mesmo tendo que lidar com um período atípico no agronegócio: combinação de preços mais baixos das commodities e quebra de safra em algumas regiões, como o caso do estado líder na produção de grãos, Mato Grosso.

“Para o nosso negócio é muito melhor quando tem mercado mais desafiador do que trabalhar com linhas pré definidas, naquele modelo que todo mundo já fazia”, afirmou Richert.

Ele explica que o modelo da Genial é baseado em assessoria para diminuir os riscos de produção.

“Nosso interesse continua o mesmo no setor, fizemos um investimento até um pouco maior na Agrishow, mas queremos oferecer um serviço de inteligência, não só o crédito. Os produtores não precisam só do credito”, disse.

Um dos motivos desta visão é o fato da Genial já possuir a segunda maior mesa que opera derivativos de milho na B3, que fez parte do CME Group, da Bolsa de Chicago. A empresa também tem participação importante no mercado futuro de boi gordo.

“Estamos fazendo uma catequese, percebemos que os produtores realmente não olhavam pra isso, mas eles ficaram muito grandes está na hora de se organizar mais”, avaliou o CEO da Genial.

Foco no longo prazo

Além de oferecer as ferramentas de hedge, mais necessárias em tempos de incerteza, Rodolfo Richert diz que a Genial está ganhando o espaço na concessão de crédito porque, em meio à maior preocupação com o aumento das recuperações judiciais no agro, alguns bancos ficaram ainda mais restritivos para liberar linhas tradicionais.

Ele diz o produtor, neste caso, procura o banco de investimentos, descobre que há “algo diferente”, mas é orientado sobre o caminho para se organizar melhor, ter um fluxo de caixa estabelecido, por exemplo.

Nas linhas tradicionais, como um Finame, por exemplo, há um modelo de risco de crédito estabelecido “há milênios”, segundo ele, e muitos produtores acabam surpreendidos ao perceber que não terão a renovação automática de seus financiamentos.

“Entramos no lugar desse banco, afinal, muitas vezes não é que o produtor não esteja saudável, ele pode ter tido uma safra um pouco mais difícil no Centro-Oeste, mas ele segue produzindo e a perspectiva futura é ótima”, ressaltou.

Riechert diz que a Genial olha mais para a condição de pagamento do produtor no médio e longo prazo. “E faremos uma operação estruturada com ele. O que falta nesse mercado são as linhas mais longas. Não é pra financiar máquina ou terra, mas sim para que o produtor tome o recurso por 5 ou até 8 anos, usando para equilibrar o negócio ter caixa, ou mesmo abater dívida mais cara”.

Operações estruturadas e mercado de terras

O agronegócio já representa entre 20% e 25% da carteira da Genial Investimentos. E nesta conta nem entram muitas das operações estruturadas, em que o banco só presta o serviço, para oferecer o produto ao mercado. Foram mais de R$ 1 bilhão em operações para o agro somente em 2023, segundo o CEO.

Não está nesta lista, por exemplo, o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) que está sendo lançado agora pela JBS, podendo chegar a R$ 1,8 bilhão. A Genial é um dos 9 bancos envolvidos na operação.No CRA de quase R$ 80 milhões da Alcoeste, a empresa também esteve envolvida.

A Genial também estruturou um “FDIC de boi”, como contou Rodolfo Riechert, de R$ 50 milhões. Nesta modalidade um produtor rural paga 10% ao ano de retorno ao investidor, mas no final do terceiro ano, o pagamento pode sofrer acréscimo ou decréscimo, seguindo a variação do preço da arroba do boi.

“Nós acreditamos que o mercado da pecuária tende a melhorar, neste cenário o investidor recebe mais e o produtor se beneficia do preço mais alto, mas se o valor cair, ele pode perder no produto, mas se beneficia por ter conseguido um crédito mais barato, é bom para ambos os lados", diz.

Riechert diz que tem planos de montar o Fiagro com foco em terras degradadas. “É algo com potencial grande, o próprio governo tem interesse, afinal é bom para o meio ambiente, já que o próprio comprador da mercadoria está passando a exigir um produto sem relação com o desmatamento”.

Na visão do CEO da Genial, até um empresário rural que teve problemas financeiros ao longo dos anos é beneficiado pela valorização das terras. Ele admite que o mercado se assusta um pouco porque a alta no preço da terra agrícola foi muito expressiva nos últimos anos, mas ressalta que “a terra vai ser sempre escassa”.

O executivo afirma que não se assusta em entrar em novos negócios e não experimentar “só porque teve seca”. Lembrou que nas criptomoedas, por exemplo, a Genial começou aos poucos, e depois passou a ser o principal banco custodiante deste segmento.

Neste cenário, o CEO diz que quando se fala em agro “ainda somos novos nesse negócio”. Mas acredita que está havendo maior entendimento sobre o mercado de capitais por parte do tomador e que a tendência é de crescimento.

Faria Lima vai para o interior

O CEO da Genial contou que em breve deve abrir um escritório em Campo Grande, Mato Grosso do Sul e que já está operando desde o ano passado com uma unidade em Cuiabá.

O modelo envolve parceria com os produtores locais, para entender melhor as demandas e estreitar o relacionamento. Também está no plano ter um escritório no estado de Goiás.

A empresa criou ainda uma “célula técnica”, composta de 8 profissionais, exclusivamente dedicados ao agronegócio.

Outra iniciativa que deve crescer ao longo deste ano envolve visitas e eventos nas fazendas pelo Brasil, onde a Genial está levando investidores e gestores de fundos.

Riechert considera esse movimento ainda mais necessário, em meio às notícias de RJs no agro, que pode deixar o investidor mais cauteloso, embora garanta que no caso da Genial não houve impactos diretos deste cenário.

“Cabe a nós promover essa orientação, vamos levar a Faria Lima para conhecer os produtores. Um gestor que estava assustado, quando chega lá e vê o tamanho da coisa, acaba entendendo mais a dinâmica e tendo clareza das oportunidades”, disse.