Em um cenário de alta dos juros e o impacto direto no financiamento agropecuário, o Banco do Brasil prevê uma alta de 5% a 9% na carteira de crédito para o setor em 2025, ante aumento de quase 12% no ano passado.
Os dados estão no guidance para este ano e no balanço do último trimestre de 2024, divulgados após o fechamento dos mercados, na noite da quarta-feira, 19 de fevereiro.
Segundo o relatório financeiro do banco, a carteira ampliada Agro de crédito do BB atingiu R$ 397,710 bilhões em dezembro de 2024, alta de 2,9% sobre os R$ 386,571 bilhões de setembro, no fechamento do trimestre anterior, e de 11,9% sobre igual mês de 2023, com R$ 335,305 bilhões.
Os destaques seguem para o custeio, com aumentos de 18,6% na carteira de crédito na comparação anual e de 5,2% na comparação trimestral, para R$ 128,202 bilhões ao final de 2024. O custeio respondeu por 32,2% da carteira total ampliada em dezembro e foi a principal linha de fomento.
Destaques positivos também para as carteiras agrícolas de crédito do BNDES/Finame Rural e da Industrialização, com altas, respectivamente, de 66,9% e 62,1%.
As maiores quedas foram do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), de 39,2%, para a agricultura de baixo carbono, de 24%. O crédito agroindustrial recuou 42,2% no ano.
Entre bovinocultura, com 22,4%, lidera a carteira de crédito agrícola do BB por setor, seguida de máquinas e implementos agrícolas, 14,7%, e soja, com 12,7%.
Calote no radar
A alta nos juros e os problemas enfrentados por produtores rurais na safra passada, elevaram a inadimplência do setor no BB, que saiu de 0,96% em dezembro de 2023, para 2,45% em dezembro de 2024. A inadimplência considera as dívidas vencidas há mais de 90 dias.
Com a alta no calote, o BB mais que dobrou o saldo de provisão de crédito entre dezembro de 2023 e de 2024. O valor saiu de R$ 5,751 bilhões para um saldo de R$ 11,796 bilhões ao final do ano passado.
A variação se deu por causa do aumento da provisão contra calote na faixa de classificação D-H, onde hoje estão os tomadores com maior risco. O saldo de provisão saiu de R$ 5,006 bilhões para 10,815 bilhões.
Estabilidade na safra
O banco informou que no primeiro semestre da Safra 2024/2025, entre julho e dezembro do ano passado, desembolsou R$ 114,8 bilhões em crédito ao agronegócio e outros R$ 18 bilhões desembolsados na cadeia de valor do agro, um total de R$ 132,8 bilhões no período. O valor é estável ante os R$ 132,7 bilhões no mesmo período da safra anterior.
O BB mantém-se, assim, como o principal agente financeiro do agronegócio no País. Dados do Banco Central do Brasil, replicados pelo BB, apontam que o banco detinha 50,1% de participação nos financiamentos destinados ao setor. Nos créditos diretos ao produtor rural pessoa física, a participação de mercado é de 56,8%.
Maiores regiões produtoras de grãos e fibras do Brasil, Centro-Oeste e Sul lideram também o ranking de participação na carteira do agronegócio do BB, com 34,7% e 22,6%. A região Sudeste está logo em seguida, com 22,5%, e Norte e Nordeste têm 10,1% de participação cada.
O AgFeed procurou o BB para que um porta-voz comente a perspectiva de crescimento menor na carteira de crédito agrícola em 2025, os aumentos na inadimplência e na provisão contra o calote, bem como o desempenho no setor no ano passado.
Até a publicação da reportagem a posição da assessoria de comunicação é de que não havia uma sinalização de disponibilidade de agenda para uma entrevista.