Depois de um 2024 marcado por um aumento de inadimplência e condições menos favoráveis de mercado, a fintech mineira Nagro está apostando no controle da inadimplência, na manutenção de sua carteira atual, de cerca de R$ 180 milhões, e na tokenização de títulos de dívida, como estratégias para 2025.

Focada em emprestar recursos a pequenos e médios produtores rurais de forma totalmente on-line, via aplicativo, a empresa chamou a atenção de investidores nos últimos anos por digitalizar e agilizar um processo que é reconhecidamente tido como burocrático, conseguindo liberar crédito em 48 horas, em média.

Depois de ter lançado no mercado dois Fiagros-FIDCs, captando R$ 360 milhões em diferentes operações ao longo dos últimos quatro anos e meio, a Nagro não planeja o lançamento de novos fundos neste ano e pretende manter o tamanho de sua carteira no nível atual.

A fintech preferiu ir por outro caminho, ao avancar mais alguns passos na tokenização de dívidas dos produtores rurais, instrumento recente do mercado financeiro e que vem sendo usado pela Nagro desde o fim de 2023.

A tokenização nada mais que é a representação digital de um ativo existente no mundo real – no caso da Nagro, a CPR – em uma plataforma que utiliza a tecnologia blockchain.

A ideia da fintech é que investidores pessoas físicas consigam investir no agronegócio de forma mais fácil, comprando tokens a partir de R$ 25 dentro de uma plataforma da tokenizadora Liqi.

“Com a tokenização, o investidror que não tinha esse tipo de acesso ao produtor consegue investir, e o produtor que, às vezes, muito refém de fundo ou de banco, também pode captar dentro de uma estrutura dessas”, afirma Leonardo Rodovalho, um dos cofundadores e COO da Nagro.

Ao todo, mais de 1,5 mil investidores já embarcaram na ideia da Nagro, totalizando R$ 20 milhões em títulos tokenizados, segundo Rodovalho.

O cofundador da fintech salienta que o volume é pequeno diante de todo o montante de crédito já desembolsado pela empresa.

“Mas é a construção de um novo mercado no qual a gente acredita muito. A Nagro está envolvida, fazendo parte dessa construção, e achamos super importante e estratégico para a empresa”, diz Rodovalho.

A maior parte da operação da Nagro funciona a partir de dois Fiagros-FIDC, um com a gestora Okios, de São Paulo, e outro com a gestora Ghia, de Minas Gerais.

Um desses fundos chegou a trazer preocupações para os investidores da Faria Lima na metade do ano passado. Em um relatório gerencial de abril de 2024 do Nagro Ghia, um gráfico indicava que a taxa global de inadimplência teria chegado à marca de impressionantes 37,1%.

Rodovalho afirma que, na verdade, houve um erro de interpretação envolvendo títulos baixados, conhecidos pelo termo write-off no jargão do mercado financeiro, e PDD, que designa títulos considerados de difícil recuperação, mas que ainda não foram baixados.

“Esse fundo tinha um patrimônio líquido de mais ou menos de R$ 140 milhões e reduzimos o PL para em torno de R$ 35 milhões. Só que não fizemos o write-off dos títulos, porque esses são títulos que estavam em PDD, e nesse fundo, passam mais de 300 milhões. Títulos da inadimpência você pode dar baixa ou recuperar, então, não era aquela inadimplência”, diz Rodovalho.

Isso não quer dizer, no entanto, que a fintech não tenha ficado imune aos problemas do ciclo 2023/2024.

“A Nagro chegou a bater, no período de 2023/2024, uma inadimplência em torno de 9,5%, maior do que nós tinhamos nos modelos anteriores, quando a inadimplência ficava na casa dos 5%”, afirma Rodovalho.

“Fizemos um ajuste aqui na nossa política de crédito, mudamos nossos modelos, e hoje ela está bem controlada”, diz o COO, sem revelar, no entanto, o percentual exato de inadimplência no momento.

A Nagro surgiu em 2017, na esteira do boom que o setor teve ao longo da década passada, simbolizado pelo crescimento de instituições de pagamentos hoje conhecidas do público como Nubank e C6 Bank, para citar apenas dois exemplos mais famosos.

Naquele momento, o engenheiro agrônomo Gustavo Alves e o economista Leonardo Rodovalho tinham consultorias focadas em captação de recursos para produtores rurais em Minas Gerais e, percebendo as dificuldades de financiamento dos agricultores, se juntaram à Vinicius Dutra, que trabalhava na área de tecnologia, para fundar a Nagro.

"Vimos o movimento de fintechs, de várias startups de tecnologia surgindo no Brasil e falamos: “Aqui tem uma oportunidade””, recorda Rodovalho.

A Nagro foi crescendo ao longo dos anos e, além das operações envolvendo FIDCs, também fez rodadas de equity com investidores-anjo e, na mais recente delas, do tipo série A, finalizada em meados de 2023, contou com a participação dos fundos Kinea Ventures, da gestora Kinea, ligada ao Itaú Unibanco, e Revolution, da gestora Oasis Ventures.

O que chamou a atenção dos investidores foi o processo de concessão de crédito da Nagro, feito de forma digital, utilizando inteligeência artificial, via aplicativo em smartphone ou pelo site.

“O produtor pode baixar o app, fazer todo o processo de solicitação, assinatura e formalização no app. Também pode entrar no site para solicitar e, depois, a equipe comercial entra em contato para entender melhor o que ele quer até a formalização”, diz Rodovalho.

Ao contrário do que pode parecer, o principal desafio da Nagro, no entanto, não é controlar a inadimplência, captar recursos no mercado ou até mesmo o risco envolvido em operações de crédito totalmente on-line. A maior dificuldade continua sendo a digitalização dos produtores, explica Rodovalho.

"Ainda tem muita desconfiança, principalmente no pequeno e médio produtor, que geralmente é um produtor mais simples, e ainda tem muitas objeções para contratar um crédito 100% digital", afirma o COO.

A fintech possui linhas de capital de giro de R$ 50 mil a R$ 1,2 milhão, e linhas de investimentos de médio prazo, de até R$ 5 milhões.

Até hoje, a Nagro já atendeu mais de 7 mil produtores de mais de 40 culturas espalhados por 1,3 mil municípios de todas as regiões do Brasil.

A maior parte das operações está nos estados de Minas Gerais, onde fica a sede da Nagro, na cidade de Uberlândia, Mato Grosso, Paraná, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. Boa parte dos produtores está concentrado nas culturas de soja, café, pecuária de corte e de leite.

A operação da Nagro funciona a partir de dois Fiagros-FIDC, um com a gestora Okios, de São Paulo, e outro com a gestora Ghia, de Minas Gerais. Ao todo, a carteira geral da startup é de cerca de R$ 180 milhões, segundo Rodovalho.

Um desses fundos chegou a trazer preocupações para os investidores da Faria Lima na metade do ano passado. Em um relatório gerencial de abril de 2024 do Nagro Ghia, um gráfico indicava que a taxa global de inadimplência teria chegado à marca de impressionantes 37,1%.

Rodovalho afirma que, na verdade, houve um erro de interpretação envolvendo títulos baixados, conhecidos pelo termo write-off no jargão do mercado financeiro, e PDD, que designa títulos considerados de difícil recuperação, mas que ainda não foram baixados.

“Esse fundo tinha um patrimônio líquido de mais ou menos de R$ 140 milhões e reduzimos o PL para em torno de R$ 35 milhões. Só que não fizemos o write-off dos títulos, porque esses são títulos que estavam em PDD, e nesse fundo, passam mais de 300 milhões. Títulos da inadimpência você pode dar baixa ou recuperar, então, não era aquela inadimplência”, diz Rodovalho.

Isso não quer dizer, no entanto, que a fintech não tenha ficado imune aos problemas do ciclo 2023/24.

“A Nagro chegou a bater, no período de 2023/2024, uma inadimplência em torno de 9,5%, maior do que nós tinhamos nos modelos anteriores, quando a inadimplência ficava na casa dos 5%”, afirma Rodovalho.

“Fizemos um ajuste aqui na nossa política de crédito, mudamos nossos modelos, e hoje ela está bem controlada”, diz o COO, sem revelar, no entanto, o percentual exato de inadimplência no momento.

Novas frentes

Além da tokenização, a Nagro também lançou recentemente, há dois meses, a possibilidade de contratação de consórcios dentro do aplicativo da empresa. “É que nem o crédito, você contrata pelo aplicativo”, afirma.

A fintech também pensa em retomar o negócio de contratação de seguros via app. Em 2022, a empresa chegou a fazer um piloto com a corretora Wise para oferecer seguros de vida e prestamista, mas o projeto não foi adiante.

“O app não estava tão maduro. Mas agora vemos que talvez possa ser o momento da gente voltar a oferecer o seguro”, afirma Rodovalho.

Um outro negócio da Nagro que corre em paralelo e de forma separada da fintech é uma plataforma de gestão de risco chamada AgRisk, que consegue juntar em um mesmo ambiente análise de crédito e de compliance, somando mais de 30 possibilidades.

A ferramenta nasceu da necessidade de avaliação de risco da própria Nagro e já foi utilizada por gigantes como Mosaic, ICL, UPL, Coopercitrus e Galvani, para citar apenas alguns exemplos.

“A ideia é consolidar o AgRisk como a maior plataforma de crédito do agro. Temos hoje 1.070 clientes e a ideia é chegar ao fim do ano com 1,7 mil empresas utilizando”, afirma Rodovalho.