Agentes de mercado vêm apostando na retomada forte da indústria de Fiagros, os Fundos de Investimento das Cadeias Produtivas Agroindustriais, enquanto os CRAs, Certificados de Recebíveis de Agronegócio devem ter menor quantidade de emissões – e os dados da CVM divulgados hoje mostram que a tendência já é uma realidade.
Entre junho e setembro de 2023 o patrimônio líquido total dos Fiagros subiu de R$ 14,7 bilhões para R$ 18,7 bilhões, de acordo com o boletim trimestral da CVM, o que representa um avanço de 27%.
Na comparação com dezembro de 2022, quando foi divulgado o primeiro boletim CVM de agronegócio, os Fiagros cresceram 78%.
O relatório da autarquia traz também números dos fundos como um todo, para efeito de comparação e análise da evolução do agro no mercado de capitais. A soma de fundos de investimento, renda fixa e renda variável chegou a R$ 13,71 trilhões em setembro, um aumento de apenas 7%, desempenho bem inferior aos Fiagros.
"O que mais nos chamou a atenção foi o crescimento do Fiagro, que subiu de R$ 10 bilhões para R$ 18 num mercado que cresceu em media 7%, quer dizer, o mercado teve só uma correção monetária praticamente, enquanto o Fiagro realmente cresceu", destacou o superintendente de agronegócio e securitização da CVM, Bruno Gomes, em entrevista hoje ao AgFeed.
Gomes ressaltou ainda que o Fiagro já conta com 500 mil investidores e agora que terá sua regulamentação definitiva, com a consulta pública que está em aberto. “Os fundos imobiliários levaram 25 anos para chegar a estes 500 mil”, lembrou.
Já os CRAs, título que vinha crescendo muito nos últimos anos, avançou apenas 4,3% entre setembro deste ano e dezembro de 2022, ou seja, abaixo do mercado em geral.
Na comparação trimestral, houve um recuo de 10%, já que o volume total de direitos creditórios que lastreiam os CRAs que era de R$ 111 bilhões em junho, caiu para R$ 100 bilhões em setembro.
"Nós ainda estamos tentando entender esta redução, talvez seja algumas securitizadoras não tenham reportado ou seja um rearranjo de estruturas, afinal o Fiagro continua sendo um grande comprador de CRA”, disse Bruno Gomes, da CVM.
O relatório indica que 89% dos recursos captados nos CRAs foram destinados a produtos agropecuários e 11% estavam relacionados aos insumos. As debêntures representam 40% do lastro em estoque nos CRAs.
O produtor rural foi o principal captador de recursos neste título, com 59% do total, ou R$ 58,7 bilhões. Em seguida aparecem outros perfis como terceiros compradores e fornecedores.
As cooperativas representaram apenas 3% entre os tomadores. No boletim divulgado hoje a CVM confirma que já foi publicada a norma que flexibiliza as regras relacionadas ao modelo de demonstração financeira das cooperativas agropecuárias. Em entrevista recente ao AgFeed, o superintendente de agronegócio da CVM, Bruno Gomes, havia adiantado que a mudança deveria ser feita em breve.
Com isso, a expectativa é facilitar o acesso das cooperativas ao mercado de CRAs. "Acreditamos que agora terá um número grande de cooperativas acessando os CRAs, vai trazer um funding novo, afinal antes havia um limitador para este setor”, reforçou Gomes na conversa de hoje.
Como antes as cooperativas precisavam seguir a lei societária para as demonstrações financeiras, "muitas vezes era preciso unir 5 cooperativas" para justificar a operação, segundo Bruno, o que ficava inviável.