Jeffrey Ubben. O nome parece familiar? Não? Tudo bem, existem mais 8 bilhões de pessoas no mundo. Em algumas grandes companhias de capital aberto, porém, ele é bastante conhecido. Ubben tem se notabilizado, nos últimos anos, como o calcanhar de Aquiles de executivos que as comanda.

Investidor-ativista, ele compra ações das companhias em quantidade suficiente para ter voz e influência a ponto de fazer mudanças em suas políticas de ESG (Governança ambiental, social e corporativa). E, então, faz o que for necessário para ser ouvido.

O caso mais recente foi a troca do CEO da Bayer, Werner Baumann, em 8 de fevereiro passado. O ex-presidente da gigante química - que estava no cargo a sete anos - foi responsável pela compra, em 2018, da Monsanto.

Uma aquisição que transformou a Bayer na liderança absoluta na indústria de soluções para proteção de cultivos, mas trouxe discussões em torno de prejuízos de imagem e uma pesada carteira de processos judiciais.

A avalanche de ações levou a companhia alemã a provisionar nada menos de US$ 16 bilhões para cobrir eventuais sentenças judiciais negativas em torno do controverso herbicida RoundUp e sua possível relação com casos de câncer em agricultores.

Um dos casos com maior repercussão gerou indenização de US$ 25 milhões ao agricultor norte-americano Edwin Hardman, de 73 anos, que disse ter desenvolvido câncer provocado pelo uso do herbicida em suas lavouras.

Apenas um mês antes do anúncio da saída de Baumann, Ubben, de 62 anos, comprou um lote de 8,18 milhões de ações da Bayer, equivalente a 0,83% das ações disponíveis em mercado. O acionista desembolsou 407 milhões de euros (US$ 435 milhões), considerando o preço do fechamento daquele dia. E partiu para o ataque.

Já nos dias seguintes, passou a pressionar a companhia para que Baumann saísse do posto. Contatou outros acionistas relevantes, ressaltando sua posição sobre a importância de mudanças urgentes na gestão da Bayer, sobretudo no posto de comando.

Baumann já havia anunciado, no ano passado, sua intenção de se retirar do cargo, mas apenas em abril de 2024, quando seu mandato se encerrava. A pressão recente, no entanto, apressou a decisão. Para o seu lugar foi indicado Bill Anderson, de 56 anos, ex-CEO da farmacêutica Roche. A transição do comando deve durar até maio.

A escolha agradou ao investidor-ativista. A decisão rápida, também. Ubben se notabilizou por obter ganhos rápidos propondo mudanças duradouras baseadas em sua visão de ESG, que tem surtido impacto positivo no mercado de ações.

O simples anúncio de que ele havia adquirido uma fatia da Bayer e pleiteava um assento no conselho fez os papéis da companhia se valorizassem em 10% em menos de 10 dias, cinco vezes mais que o índice alemão Dax no mesmo período.

O foco inicial de Ubben na Bayer foi mesmo a figura do CEO Baumann. Ele acredita que o executivo se perdeu na gestão dos processos judiciais e deixou que eles ofuscassem pontos positivos dos investimentos da divisão agrícola da empresa, como nas tecnologias de edição de sementes e em programas de redução de emissões na agricultura.

A mesma percepção foi compartilhada por analistas de investimentos europeus, que afirmam ter dificuldade em convencer investidores mais ligados a questões ESG a “comprar” a Bayer de Baumann.

“Muito do trabalho que precisa ser feito para deixar a Bayer mais verde não exige a mudança do negócio em si, mas a percepção dele”, disse Emily Field, analista do Barclay, ao jornal Financial Times.

A compra de ações da Bayer, assim como de outras companhias de capital aberto, é feita por intermédio da Inclusive Capital Partners, empresa de Ubben focada em investimentos-ativistas.

Segundo dados compilados pela Bloomberg, o negócio tem posições na fabricante de caminhões elétricos Nikola Corp., na geradora de energia AES Corp. e na empresa de bioenergia Enviva Inc.

“Ao estabelecer parcerias ativas com a administração (das empresas) em métricas ambientais e sociais focadas, a Inclusive Capital Partners se compromete a tornar os modelos de negócios mais sustentáveis”, informa o site da companhia de Ubben.

Sua reputação ativista também o levou a ser nomeado para o conselho da Exxon Mobil, empresa multinacional de petróleo e gás, em março de 2021, após a companhia ser criticada por investidores por não abraçar um mercado mais verde.

Com a entrada do investidor no board da companhia, foi anunciado o montante de US$ 3 bilhões para projetos de captura de carbono e outras tecnologias com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa.

A expectativa do mercado era que a entrada de Ubben também alavancasse o preço das ações, o que aconteceu. Os papéis da Exxon Mobil chegaram a subir 38,69% no mês em que ele assumiu o posto no conselho.

O método Ubben

O empresário atuou na Fidelity Investments por oito anos, foi sócio-gerente da Blum Capital de 1995 a 2000, e é co-fundador da ValueAct Capital, hedge-fund onde liderou diversas campanhas ativistas.

Em algumas entrevistas, porém, ele queixou-se de que “era difícil de fazer na ValueAct algo voltado ao ativismo social e ambiental, já que os investidores estavam mais interessados em quanto dinheiro poderiam alocar nas companhias do que nas mudanças de gestão”. Dessa forma, optou por criar, em 2020, a Inclusive Capital.

“Mesmo que fossem impostas mudanças nas agendas dos conselhos (pela ValueAct), a aderência e a continuidade das práticas não eram tratadas de forma mais pragmática e eficaz”, declarou na ocasião.

Segundo Bruno Monsanto, sócio da RJ Investimentos, “por conta de seu conhecimento, Ubben traz uma visão inovadora e usa toda sua capacidade de argumentação e articulação, assim parece natural que os executivos estejam se sentindo pressionados".

O AgFeed entrou em contato com o investidor-ativista para saber quais serão os próximos passos com a saída do CEO da Bayer e em quais outras empresas planeja realizar mudanças, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Educação

Formado pela Duke University e pós-graduado em administração pela Kellogg Graduate School of Management, escola de negócios da Northwestern University, Ubben busca levar seus conceitos também para o mundo acadêmico.

Ele atua no conselho da Northwestern e tem como meta trazer acessibilidade ao preço dos cursos, um dos principais entraves à inclusão de jovens no ensino superior americano. O investidor e sua esposa, Laurie Ubben, assumiram um compromisso de doar US$ 50 milhões para bolsas de estudo.

“Laurie e eu não conseguimos pensar em nada mais valioso do que tornar um diploma da Northwestern acessível ao maior número possível de alunos excelentes”, afirmou Ubben, em publicação realizada na página da universidade após o anúncio do apoio financeiro, em setembro de 2019. Assim, procura influenciar na formação de uma geração de capitalistas-ativistas.