Menos de um mês após receber um aporte de R$ 100 milhões de um grupo de investidores, incluindo o fundo francês de investimentos de impacto Stoa, a startup franco-brasileira NetZero acaba de obter outro apoio de peso.

A empresa, que desenvolveu um método para produzir em larga escala o biochar – fertilizante orgânico, produzido ancestralmente pelos povos amazônicos a partir da queima de resíduos de plantas – anunciou ter fechado uma parceria com a Nespresso, do grupo suíço Nestlé, para impulsionar a produção e uso do produto em cafezais brasileiros.

A parceria se dá em torno de uma planta da NetZero em construção no município de Machado, em Minas Gerais. Ali, segundo comunicado divulgado pela empresa, centenas de cafeicultores – incluindo integrantes do Programa AAA de Qualidade Sustentável da Nespresso fornecerão 16 mil toneladas de resíduos de processamento de café para a produção de 4.000 toneladas de biochar por ano.

Com a parceria, a Nespresso se torna a primeira marca voltada para o cliente a promover o uso do biochar em escala industrial. O fertilizante será usado nas lavouras pelos próprios produtores que fornecem à marca, em um modelo de economia circular.

Também participa da parceria a Eisa, empresa controlada pela trading Ecom, uma das maiores na comercialização das chamadas commodities leves, como café, cacau e algodão. A Eisaatua na prestação de serviços aos produtores, com operações junto a programas de sustentabilidade.

“O solo é fundamental em nosso compromisso com a agricultura regenerativa”, afirmou, em nota, Jérôme Perez, diretor de Sustentabilidade da Nespresso.

“É por isso que estamos entusiasmados em apoiar a Ecom e a NetZero com essa inovadora instalação de biochar, uma solução natural semelhante ao carvão vegetal que melhora a saúde e a regeneração do solo, ajudando a neutralizar as emissões de carbono.”

O produto tem recebido atenção de grandes grupos por suas propriedades que conciliam ganhos de fertilidade do solo com retenção de umidade e nutrientes. Ao mesmo tempo em que reduz o uso de fertilizantes químicos, que contribuem para uma parcela significativa da pegada de carbono do café, o biochar é visto como um aliado no aumento da resistência das plantas aos eventos climáticos extremos.

Assim, as empresas também vislumbram no seu uso um caminho para remover carbono da atmosfera e, com isso, ajudar no cumprimento de suas metas de descarbonização. No projeto da Nespresso, por exemplo, a expectativa citada é de remover 6 mil toneladas de carbono da atmosfera.

Segundo a companhia suíça, esse projeto faz parte de um roteiro para produção de cafés com emissão líquida zero de carbono até 2030. Segundo o comunicado da NetZero, trata-se do primeiro com o uso do biochar a reunir todos os participantes de uma cadeia de valor, de agricultores a cooperativas, de comerciantes a marcas finais.

“Estamos orgulhosos por termos sido escolhidos pela Nespresso como seu primeiro parceiro industrial de biochar e estamos confiantes de que esse primeiro projeto será replicado em muitos outros locais” afirmou Axel Reinaud, cofundador e CEO da NetZero.

“Essa parceria comprova ainda mais a relevância do biochar nos trópicos e demonstra a capacidade do nosso modelo de alinhar os interesses de todos os participantes das cadeias de suprimentos agrícolas.”