Comprovar que a sua forma de produzir é sustentável de ponta a ponta. Esse é o desejo de dez entre dez grandes empresas e companhias do agro. É bom para o planeta, bom para a imagem da companhia e, sobretudo, bom para os negócios.

“Nos últimos anos, atrelamos nossa estratégia de negócio a metas sustentáveis”, afirma o diretor de Sustentabilidade e Excelência Operacional da Tereos no Brasil, Renato Zanetti. “Assim, realizamos algumas operações de financiamentos verdes que são atreladas a essas iniciativas”.

A meta geral de uso de cana certificada nas unidades de processamento do grupo sucroenergético francês, por exemplo, está atrelada a esses financiamentos.

Uma das líderes na produção de açúcar, etanol e bioenergia do País, a Tereos se comprometeu a utilizar, até a safra 2029/30, 75% de matéria-prima comprovadamente sustentável em suas unidades.

“Contamos com redução das taxas de juros ao atingirmos essas metas”, declarou ele.

A boa notícia para a Tereos, é que esses objetivos vêm se materializando e alcançaram novos contornos em 2023.

A empresa antecipou ao AgFeed que acaba de atingir importantes resultados: mais de 60% da cana processada pela companhia atualmente é certificada. Além disso, passou a contar a certificação em 100% das suas unidades.

A última delas a celebrar essa conquista foi a unidade Tanabi, localizada no município com o mesmo nome, na região de São José do Rio Preto (SP). A usina acaba receber a certificação Bonsucro, comprovação internacional que atesta o compromisso com a sustentabilidade socioambiental de toda a cadeia produtiva das usinas de cana-de-açúcar.

“O reconhecimento mostra que estamos no caminho certo para tornar nossa cadeia produtiva cada vez mais sustentável”, diz Zanetti.

Antes de chegar à usina, porém, o desafio das grandes empresas do setor é atuar junto aos fornecedores de cana, para que eles também adotem boas práticas agrícolas, sociais e ambientais.

Entre canaviais próprios e de terceiros, a empresa moeu cana oriunda cerca de 300 mil hectares na safra 2022/23. Mais de 17 milhões de toneladas de cana foram processadas nas suas usinas.

Desse total, cerca de 43% são produzidos por terceiros. Por isso, para atingir as metas é preciso que esses produtores busquem a certificação.

O índice de 60% de cana certificada, por exemplo, foi obtido após três novos fornecedores de matéria-prima receberem reconhecimento da plataforma internacional SAI (Sustainable Agricultural Initiative), organização independente que avalia a sustentabilidade das matérias-primas agrícolas.

Foram eles a Bulle Arruda S/A Agropastoril, MPN Agrícola Participação Empreendimentos LTDA e Antonio Lucente e Outros, que se juntaram aos outros 10 fornecedores da empresa que já receberam o reconhecimento em anos anteriores.

Zanetti explica que tanto a certificação Bonsucro quanto o reconhecimento de sustentabilidade pela Plataforma SAI exigem a apresentação de planos e projetos de melhoria contínua que busquem, por exemplo, a redução do consumo de agroquímicos e de fertilizantes sintéticos, tendo como substitutos o controle biológico de pragas e a utilização de fertilizantes orgânicos.

“Esses temas estão no dia a dia da Tereos, que tem a preocupação de tornar o processo produtivo sustentável de ponta a ponta, em todas as etapas de nossa cadeia de valor”, diz.

“Aproveitamos a vinhaça, um resíduo da produção de etanol, para fazer a fertirrigação dos canaviais, que é rica em matéria orgânica. Também temos grande atenção com a gestão dos recursos hídricos e reaproveitamos parte da água usada na indústria na fertirrigação”, contou Zanetti.

A tecnologia tem sido outra grande aliada. A empresa tem avançado no uso de novas ferramentas, seja em agricultura de precisão ou no uso de data analytics, com dados capturados por tablets e drones.

Apoio, capacitação e novas metas

Dentro do programa de relacionamento Amigo Produtor, que mantém desde 2018, a Tereos lançou no ano passado o Amigo Produtor Sustentável, de adesão voluntária.

Por meio da iniciativa, os produtores têm acesso a serviços como: linhas de crédito atreladas a sustentabilidade, planejamento de gestão sustentável, consultoria personalizada voltada às práticas mais eficientes, sustentáveis e em conformidade com a legislação, além de apoio e acesso à plataforma SAI.

“Partimos do princípio de conscientização do fornecedor de cana, mostrando ao longo da consultoria de adequação para atestação SAI que é possível aumentar produtividade, ter maior qualidade de produto e manter a sua produção sustentável”, diz Zanetti.

Até a safra 29/30, a meta é alcançar 27% de produtores reconhecidos pela plataforma, o que, somando a cana própria, permitirá atingir os 75% de toda cana processada certificada.

“Não são apenas números obtidos ou metas atingidas, são mudanças de paradigma”, afirma Zanetti. “Mudamos o perfil de empresas, mudamos o pensamento de empregadores, e no final, vemos a mudança em cada trabalhador, feliz em ver seu ambiente de trabalho organizado e com políticas bem consolidadas”, finaliza.