Quase seis anos de vida serviram para a startup reNature impactar, segundo dados da própria empresa, 150 mil produtores e 50 milhões de hectares. São números que impressionaram grandes empresas e ajudaram a fazer do fundador, Felipe Villela, uma espécie de porta-voz internacional de iniciativas de agroflorestas.
Sob o comando do brasileiro desde o dia zero, a companhia com sede na Holanda executou projetos para alguns dos principais grupos do agronegócio por combinar boas práticas agrícolas e tecnologia para produzir alimentos ao mesmo tempo em que também traz condições para a natureza do entorno de uma propriedade se recuperar.
Mas essa página está virada, pelo menos para Villela. Ele liderou a empresa até outubro, quando decidiu deixar seu próprio negócio depois de passar por uma autorreflexão.
Ele contou ao AgFeed que, com o nascimento de seu filho Caetano, em março deste ano, repensou seus propósitos e refletiu como poderia tornar o impacto ambiental do seu negócio mais escalável.
E concluiu que a operação da reNature, que atua mais como uma espécie de consultoria para produtores e empresas, não daria conta de suas ambições pessoais, e decidiu deixar o projeto.
Passado o “período sabático que durou um mês”, Villela já encontrou seu novo desafio: comandar a operação da América Latina da fintech ambiental alemã LandBanking Group.
A empresa foi fundada em 2022. Segundo Villela, ela cria, através de uma tecnologia própria, uma espécie de conta para o capital natural que uma propriedade tem.
Felipe Villela gosta de usar o slogan da nova empresa para explicar o que ela faz. Os dizeres “a natureza oferece serviços no valor de US$ 140 trilhões gratuitamente. Ela precisa de um banco melhor”, assinatura do LandBanking, de fato ajudam. Mas ele completa.
“Um produtor rural registra sua terra, via um tipo de CAR, na nossa plataforma. Com as informações captadas via satélite e outras metodologias de mensuração dos bioativos presentes na propriedade, geramos um ativo econômico para empresas na Europa fazerem compensação de impactos negativos”, explica.
Assim, na prática, cria-se um mecanismo para remunerar o produtor pela biodiversidade existente na fazendo, em um conceito mais amplo que o sequestro de carbono ou apenas a floresta em pé. A quantidade de água e animais que estão na propriedade, por exemplo, tem seus impactos levados em consideração.
“Estamos indo além do carbono. A proposta é capital natural para regenerar e manter a natureza. Temos feito projetos pilotos de crédito de água e de biodiversidade e oferecemos para os donos de terra uma oportunidade de receber o capital pelo seu trabalho”, comenta Villela.
Quem paga esse crédito, segundo ele, são as empresas que têm parte da cadeia do agro ou as que não tem, além de bancos e securitizadoras.
Oficialmente no cargo a partir desta semana, Villela será responsável por trazer produtores para registrarem seu capital na plataforma e também buscará clientes locais e europeus que queiram comprar os ativos.
Ele conta que a atuação do LandBanking Group será focada nas áreas do Cerrado e da Mata Atlântica, por considerar que a Amazônia já possui muitas iniciativas semelhantes.
Ele pretende trabalhar em conjunto com cooperativas e ajudar a captar os incentivos para esse capital natural em uma transição de uma agropecuária tradicional para uma mais sustentável.
“Quero desenvolver fundos com assets no Brasil e conseguir criar incentivos financeiros para produtores migrarem para as práticas regenerativas”, acrescenta.
Lá fora, o LandBanking Group levantou recentemente 11 milhões de euros em uma rodada do tipo seed em outubro.
A rodada foi liderada por BonVenture e André Hoffmann, um entusiasta do setor. Além disso, contou com a participação da 4P Capital, Vanagon, Planet A, SUN Institute da Deutsche Post Foundation e de investidores anjos e family offices como os do príncipe Maximilian, de Liechtenstein, de Alexa Firmenich, de Jan-Hendrik Goldbeck e de Fabian Strüngmann.
A empreitada de Villela no agro regenerativo começou há quase dez anos. Neto de produtores de cítricos em Limeira, interior de São Paulo, ele retomou o viés agro na família ao estudar agricultura sustentável na Holanda.
Avaliando a relação entre agricultura e meio ambiente no Brasil, ele quis buscar formas mais inclusivas de tratar o tema. Foi quando conheceu as agroflorestas. “Vi o potencial dessa agricultura para recuperar o solo e aumentar a resiliência ambiental, além de ajudar o produtor a ter mais lucratividade no longo prazo”.
Nos Países Baixos, onde morou por cerca de 8 anos, teve contato com a agenda ambiental da União Europeia e conheceu diversos investidores locais que olhavam para isso. Em 2018, fundou a reNature junto com o holandês Marco de Boer.
A companhia atua tanto como uma fundação sem fins lucrativos quanto como uma empresa, mas sempre com foco em negócios em torno da agricultura regenerativa.
A empresa, que continuará com de Boer no comando, atua em países da África, no México, na Indonésia e América Latina. No Brasil, possui parcerias com a Amaggi e Nespresso.