A companhia paulista Citrosuco, controlada pelos grupos Votorantim e Fischer e a maior produtora de suco de laranja do mundo, vai buscar nos próximos dias, na Europa, uma nova forma de irrigar seu caixa e plantar as sementes do futuro.

Orlando Nastri, head de ESG da Citrosuco, está embarcando para o continente europeu na tentativa de negociar a venda, ainda este ano, de créditos de carbono que estão sendo gerados a partir de seus pomares em um projeto-piloto.

No tour, Nastri vai se reunir com potenciais compradores, apresentar o projeto e, se possível, já voltar com acordos fechados.

"São grandes empresas que têm intenção, têm estratégia, têm compromissos de carbono. E a gente está apresentando essas oportunidades a eles", adiantou Nastri em primeira mão ao AgFeed durante conversa em um evento promovido pela consultoria Eccon Soluções Ambientais e pelo escritório de advocacia Santos Neto Advogados, em São Paulo, nesta quarta-feira, dia 19 de março.

Os créditos que a Citrosuco pretende comercializar utilizam uma metodologia chamada PSA Carbon Agro Perene, que foi lançada em agosto do ano passado pela companhia e foi criada em parceria com a Eccon e a Reservas Votorantim, empresa de gestão florestal do Grupo Votorantim, após dois anos de desenvolvimento.

A metodologia dos créditos envolve a avaliação de critérios como a quantidade de biomassa acima e abaixo do solo, densidade de nascentes na área (que indica o nível de conservação do ecossistema), indicadores de fauna e flora, boas práticas agrícolas e manejo de solo, entre outras características das propriedades.

“É como se você tirasse uma primeira fotografia que mostrasse como está a fazenda hoje em termos de práticas de sequestro de carbono, práticas de conservação, recursos hídricos, biomassa. Depois de um ano, eu volto e tiro uma nova fotografia que diz: ‘Olha, melhorou a eficiência hídrica, consegui sequestrar mais carbono e investir mais na minha operação responsável’”, exemplifica Nastri.

Nessa metodologia, os créditos ganham o nome de Carbono Plus, identificado pela sigla C+. Cada C+ corresponde à redução ou remoção de 1 tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO2e).

A ideia é que esses créditos sejam transacionados no mercado voluntário de carbono, mas também podem estar no mercado regulado.

“O PSA é uma agenda um pouco mais ampla, porque não é só o carbono em si, mas você conseguiria transacionar como se fosse um instrumento do crédito de carbono”, afirma o executivo.

Inicialmente, a Citrosuco está fazendo um piloto em seis fazendas, totalizando 20 mil hectares. Os créditos que serão oferecidos nesta primeira etapa virão dessas propriedades do projeto-teste.

Se os planos da companhia derem certo, a ideia é que abranja entre 70 e 80 mil hectares, considerando apenas fazendas próprias da Citrosuco.

Mas o potencial é muito maior, segundo Nastri. Isso porque o PSA Carbon Agro não se restringe à Citrosuco e não precisa ser utilizado apenas na laranja.

“São 2 milhões de hectares de culturas perenes do Brasil, como cacau, café e frutas. É um método público, open-source e está disponível para qualquer pessoa do mundo implantar inclusive em suas operações”, afirma.

Todo esse movimento faz parte de um plano da Citrosuco para aumentar a geração de valor nos laranjais, ao mesmo tempo em que busca cumprir a meta de diminuir sua emissão de gases de efeito estufa em 28% nos escopos 1 e 2 até 2030.

Por isso, a companhia planeja acelerar, ao longo deste ano, o processo de desenvolvimento de créditos de suas operações – uma forma de gerar valor do alto e à sombra dos laranjais.

O processo funciona assim: depois de plantado, um pomar leva geralmente três anos para começar a produção comercial de laranjas. E permanece produtivo entre 15 a 20 anos.

Ao longo do tempo, enquanto vários laranjais vão se formando no horizonte, o solo vai estocando carbono. Dessa forma, durante décadas, a Citrosuco consegue gerar valor tanto nas árvores quanto na terra.

Do ponto de vista ambiental, isso já acontece hoje. A companhia estima sequestrar cerca de 400 mil toneladas de CO2e por ano em suas operações.

Os créditos vão trazer a compensação financeira. “A gente possui 28 fazendas em São Paulo que já têm conservação, têm práticas produtivas sustentáveis, mas até agora não tínhamos como ‘premiar’ essas práticas”, afirma Nastri.

Não à toa, além da metodologia de pagamento de serviços ambientais, em paralelo, a Citrosuco viu outra oportunidade de geração de créditos de carbono ao expandir suas operações para estados como Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

O movimento não é exclusivo da companhia e vem sendo feito por todo o setor, antes quase todo concentrado no interior de São Paulo, e que vem buscando novas áreas para a produção citrícola, em função da proliferação do greening, uma doença que vem afetando os pomares paulistas.

Nas novas fronteiras, a Citrosuco viu a possibilidade de incrementar suas receitas, segundo Nastri, ao se deparar com áreas degradadas que poderiam ser recuperadas com a produção de laranja.

Nastri diz que o processo de sequestro de carbono dos pomares funciona como uma curva exponencial.

"Você tem um solo abandonado, começa a preparar o solo, a planta vai crescendo e você vai tendo uma geração de sequestro contínua, com o pico ao redor de 10 anos após o plantio", explica.

Como a expansão para as novas "fronteiras citrícolas" está acontecendo agora, a expectativa da Citrosuco é de que os créditos possam ser gerados nos próximos anos.

"Depois de três anos do plantio, você já tem laranja e consegue sequestrar carbono tanto na biomassa da planta em si, quanto no solo", explica Nastri.

No momento, a prioridade é gerar créditos em fazendas próprias. "Mas já há diálogo para a expansão com parceiros", adianta Nastri.

Ainda no primeiro semestre deste ano, a Citrosuco vai lançar oficialmente o projeto, que Nastri chama de "plataforma", em parceria com parceiros "estratégicos" que já atuam no mercado de carbono.

"Para você tirar essa plataforma do papel, você precisa de várias competências: técnica, de coleta de solo, competência de investimento, competência de vários parceiros”, afirma.

De acordo com Nastri, os créditos poderão utilizar tanto a metodologia do PSA Carbon Agro quanto de certificadoras internacionais reconhecidas no mercado, como Verra e Gold Standard.

"O desafio é tropicalizar isso para o Brasil e garantir que tenha aplicação e escalabilidade", afirma o executivo.