O sobrenome Levy foi, durante décadas, uma grife do universo de informação econômica no País. A família paulistana criou e comandou a Gazeta Mercantil, diário que foi referência para o setor até o final do século passado.
A família Levy comandou o grupo até o início dos anos 2000. Neto do fundador, Herbert Levy, Luiz Fernando Ferreira Levy Filho, atuou durante cerca de 20 anos no jornal, do qual foi diretor executivo no Brasil e no exterior. No mesmo período, foi diretor geral do Fórum de Líderes Empresariais.
Há dez anos, porém, o empresário, também conhecido como Finho Levy, tem buscado criar uma grife também em empreendimentos na bioeconomia. Após um período atuando como consultor na área, criou, em 2021 o AgroReset, um hub especializado no agro ESG.
A proposta da plataforma é reunir empreendedores, produtores e investidores para colocar em prática, no campo, conceitos do agro regenerativo.
“O AgroReset nasce para criar mercado para o agro regenerativo, cada vez mais sustentável, bem como na bioeconomia, mercado de carbono e uma produção net zero nas fazendas”, explica Levy.
O empreendedor colocou em campo seu networking e sua expertise profissional de articulação empresarial, negócios e também na produção de conteúdos de economia para, segundo diz, “empresariar ativos ambientais do Brasil”.
Levy explica que o hub tem duas frentes de atuação. A primeira, mais focada em conteúdo e articulação de negócios, e a segunda, em projetos especiais, especialmente no mercado de carbono.
Na primeira frente de atuação, chamada de AgroReset Radar, a empresa realiza estudos que ajudam produtores a adotarem práticas sustentáveis. O estudo mais recente está relacionado a práticas ESG na cultura de café.
Para esse projeto, Levy explica que o hub se juntou com produtores de cafés especiais de estados do Sudeste e do Mato Grosso do Sul para realizar o levantamento chamado “Sustentabilidade na Cadeia de Valor do Café”.
A ideia, segundo ele, é usar o estudo como base para uma série de ações de comunicação e articulação empresarial, como eventos, para “levar adiante esse valor agregado”.
Nesse estudo, o hub também envolveu a CNA, o Sebrae e a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), bem como entidades regionais mineiras.
Um dos objetivos do trabalho é transformar algumas regiões de Minas como pólos de referência na produção de café, assim como a Serra da Canastra faz com o queijo local.
Nisso, o hub conta com uma parceria com a startup AgTrace, que traz rastreabilidade para as ações de sustentabilidade que agregam valor ao café.
“Usamos o conteúdo como content as a service, pois vai além de só informar e funciona como um radar para ajudar investidores a se situar nas oportunidades de investimento”, ressalta Levy.
A área também ajuda investidores a encontrarem oportunidades de negócio. Levy cita que recentemente executou um projeto com a startup brasileira Nanofert, que trouxe uma tecnologia de fertilizantes nitrogenados da Índia para o Brasil.
“A AgroReset ajudou essa empresa a se apresentar para produtores e formadores de opinião para entrar no circuito comercial”, diz.
Potencial milionário
Na outra frente, chamada de AgroReset Carbon, o hub atua como uma “boutique de projetos de carbono”. Levy explica que se utiliza do seu relacionamento com proprietários de terras, degradadas ou não, fazendas e florestas para estruturar projetos de recuperação ambiental.
Levy cita que o hub tem acesso a algumas famílias com propriedades na Amazônia, incluindo a de Sérgio Vergueiro, um dos pioneiros na domesticação de castanha no País.
Atualmente, o hub está trabalhando em dois projetos em duas áreas que totalizam 36 mil hectares na região. Segundo ele, uma das propriedades atua com silvicultura e outra com a produção de castanha.
“Estamos calculando, para cada uma dessas propriedades, um potencial de 2,2 milhões de toneladas de carbono equivalente, o que poderia trazer de 30 a 40 milhões de dólares em 40 anos, considerando uma tonelada de carbono por 10 dólares”, afirma.
Para além da medição do potencial de sequestro de carbono e gerar créditos, a ideia é pensar em outros projetos ligados à sustentabilidade nessas propriedades.
“Não teremos o tamanho de grandes empresas de carbono que buscam milhões de hectares, mas estamos preocupados na produtividade bioeconômica da área. Quanto mais dinheiro um produtor ganhar por sua biodiversidade, mais a gente ganha junto”, diz.
A proposta, segundo Finho Levy, é ver o projeto como um abre-alas para várias atividades em áreas não produtivas nas fazendas que também gerem receitas.
Com tudo isso, seria possível gerar um crédito de carbono mais robusto, acredita o executivo, o que facilita na hora de buscar um investidor para bancar o projeto em troca de uma porcentagem dessa receita.