A Illy Caffè foi a primeira marca italiana de café a conseguir o certificado B Corp, de boas práticas ambientais e sociais. Ainda assim, Andrea Illy, herdeiro e chairman da empresa, considera a lei antidesmatamento europeia (EUDR) dura demais com os cafeicultores.
Andrea quer discutir regras mais suaves na Plenária do Conselho Internacional do Café, principal reunião do 138º encontro do International Coffee Council (ICC), que ocorre nesta quinta-feira (12/9), em Londres.
“A intenção é boa, mas precisamos manejar a implementação”, disse Andrea em entrevista à edição inglesa do canal Bloomberg. “Minha recomendação pragmática é: mantenha o início da regulação em 1º de janeiro, mas tente introduzir um período de teste. Talvez seis meses, talvez um ano. Nele, poderemos finalizar todos os procedimentos e fazer o sistema funcionar para os países que exportam e também para os importadores”.
Aprovado em 2023 pela União Europeia, com vigência a partir de 1º de janeiro, o Regulamento Anti Desflorestamento (European Union Deforestation Regulation - EUDR) vai barrar a entrada de produtos agrícolas – entre eles o café – que não tiverem comprovação de que não vieram de áreas de desmatamento.
Segundo o chairman da Illy, a nova lei ambiental europeia tenta resolver um problema sem estar claro se ele existe. “O desmatamento relacionado ao cultivo de café é quase zero, a meu conhecimento, então o setor é gravemente afetado sem razão”, afirma. “Se houver desmatamento, devemos buscar certificação. Mas isso deve ser feito depois de encontrar, e não antes”.
Três meses e meio antes de entrar em vigor, a EUDR ainda não tem regras claras, afirma Andrea. “A complexidade faz com que os países exportadores não possam cumprir. Ainda não sabemos os procedimentos, as metas que devem ser alcançadas, as formas de reportar, os certificados... tudo isso precisa ser finalizado”, diz.
As novas regras europeias dificultam o acesso ao maior mercado consumidor de café do mundo, com 40% do total. O risco de não poder exportar se soma a um momento difícil para os cafeicultores. A seca no Brasil e no Vietnã, os dois maiores países produtores, faz a cotação da commodity disparar – a tal ponto que, em Uganda, fazendeiros contrataram seguranças para impedir o roubo nas plantações. O Indicador Café Arábica, calculado pela Cepea/Esalq, acumula alta de 44,5% em 2024.
Representantes do Brasil também participam da reunião em Londres, como o Cecafé, Conselho Nacional dos Exportadores. Em entrevista recente ao AgFeed, o diretor do Cecafé, Marcos Matos, também disse que o setor esperava mais clareza sobre as regras, mas ainda assim se prepara para o cenário em que a norma entre em vigor em janeiro de 2025. Segundo Matos, houve um aumento expressivo nas exportações de café brasileiro para a Europa ao longo deste ano, em função das incertezas dos compradores sobre o que vai ocorrer no início do ano que vem.