No começo da tarde desta segunda-feira, 17 de junho, a cotação do dólar comercial superava, mais uma vez, a casa dos R$ 5,40.
Nesse mesmo momento, o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Agro, fazia uma palestra a empreendedores e investidores no evento Harvesting Innovation 2024, promovido pela SP Ventures, no Cubo Itaú, em São Paulo. Com o dólar, é claro, na pauta.
“Estamos recomendando aos nossos clientes que, acima dos R$ 5,30 ou R$ 5,40, ‘somos vendedores”, afirmou ele, questionado pelo AgFeed.
Os produtores, atentos aos movimentos do câmbio, parecem não estar perdendo a oportunidade. Na semana passada, já com cotações acima do patamar citado por Mendonça de Barros, a comercialização de grãos no mercado brasileiro – que havia ficado praticamente paralisada dias antes, em virtude dos efeitos da proposta de mudança nas regras do PIS/Cofins para exportadores – voltou a ocorrer com força.
O movimento da moeda, que saiu de R$ 4,80 há um ano atrás para o patamar atual, americana dá um alento aos produtores rurais que, nas últimas safras, viram o preço das principais commodities despencar em Chicago. Some-se isso a preços de insumos que não seguiram o movimento, as margens foram se apertando.
Portanto, o momento é de alívio passageiro ao agro exportador. Mas a janela de oportunidade, entretanto, tende a se fechar nas próximas semanas, segundo Mendonça de Barros.
O sócio da MB Agro ressaltou que é sempre difícil fazer previsões sobre o comportamento do câmbio, mas que acredita que a taxa de troca de reais por dólar volte para um intervalo entre R$ 5,10 e R$ 5,20 até o fim do ano.
“A tendência é que, conforme os juros americanos começarem a cair e conforme o ano avance para o fim e confirme nosso superávit comercial gigante, o câmbio volte para os patamares anteriores. Parece fazer sentido”, disse.
Mendonça de Barros afirmou não acreditar que a “confusão fiscal” vivida no País em função das idas e vindas de propostas para aumentar a arrecadação tributária gere efeitos de mais longo prazo, contaminando a economia.
Se o “curtíssimo prazo” visto pelo especialista anima os produtores, a conjuntura mais ampla também tende a ser positiva.
Na avaliação de Mendonça de Barros, o cenário atual do setor, deprimido por uma conjunção de baixas nos preços das commodities e “uma anomalia global de juros altos”, pode ser encarado como um exemplo de uma nova era de “enormes volatilidades” que o setor pode enfrentar, mas ressaltou que ela pode abrir espaço para oportunidades para o surgimento de novos negócios.
“Temos que desenvolver ferramentas para adaptar o agro a essa volatilidade grande de preços, que ajudem o produtor a fixar preços, proteger custo e obter crédito”, afirmou.
Mendonça de Barros foi o palestrante que abriu o primeiro evento de uma série que transformou esta semana em uma maratona para o ecossistema de inovação do agronegócio.
Com pelo menos quatro grandes eventos ocorrendo em apenas cinco dias - neste terça, por exemplo, começa o World Agri-Tech South America Summit –, networking, debates e, por que não, negócios vão movimentar diferentes palcos em São Paulo, transformada nesses dias na capital agtech da América Latina.
O economista usou parte de sua apresentação para explicar, a partir da exposição de dados, como os atuais preços das principais commodities e dos insumos agrícolas, se dolarizados, se encontram em patamares semelhantes aos do fim da década passada.
“A mensagem deste ano é que estamos de volta aos preços de antes da pandemia, esse é o novo normal”, disse. Para ele, a dinâmica causada com a Covid-19 alterou o arranjo de preços do setor, provocando “um choque gigante de preços”, que elevou os valores de insumos, carnes e grãos.
Na visão do consultor, novos choques podem voltar a acontecer no futuro a partir de diferentes fatores. “Daqui a pouco podemos ver outra pancada de preços e viveremos essa movimentação que requer competência gigantesca para lidar com volatilidade de preços relativos”, disse.
O economista vislumbra, por exemplo, um novo período com alta demanda por commodities provocada pela elevação da produção global de biocombustíveis. E, com isso, um novo ciclo de preços atraentes para o produtor.
“Estamos prontos para responder a outro choque de preços”, disse. “A elasticidade de oferta no Brasil é gigante e, se tivermos estímulo de preço, o produtor vai responder de uma forma que é muito difícil de ver em outras partes do mundo.
Ele lembrou que o País saltou, em poucos anos, de um volume de 60 milhões de toneladas de grãos exportados para mais de 230 milhões no ano passado. Em 2024, deve haver uma queda para níveis em torno de 206 milhões de toneladas, em sua visão, em decorrência de uma produção menor no Brasil.
“Quando esse choque de preços vier, vamos crescer a produção. E quando crescer, os preços caem. É uma tendência fantástica, em uma era com enorme volatilidade”, concluiu.