O inverno do setor de máquinas agrícolas parece não ter fim. Se de um lado o Brasil vive subsequentes ondas de calor, que chegam até a atrapalhar a produção de grãos pelo País, as vendas de tratores e colheitadeiras estão muito frias.

Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a venda de máquinas agrícolas recuou 11,6% no primeiro quadrimestre deste ano quando comparado com o mesmo período do ano passado.

De janeiro a abril deste ano, foram vendidas 14,6 mil máquinas agrícolas, quase 2 mil a menos que as 16,1 mil vendidas no mesmo intervalo em 2023.

Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea, vê um quadro negativo, mesmo considerando que as vendas foram maiores em abril do que em março deste ano. No quarto mês de 2024, foram 4,2 mil máquinas vendidas, enquanto que em março o número bateu 3,8 mil máquinas.

Segundo ela, o menor preço das commodities somada a um financiamento mais escasso no mercado ajudam a explicar a queda.
“Ficamos uma grande parte do ano-safra 2023/24 com recursos do Plano Safra já esgotados. Isso influencia essa performance abaixo do que foi visto nos últimos dois anos”, comentou em coletiva realizada nesta terça.

Alexandre Bernardes, também vice-presidente da Anfavea e diretor de relações institucionais da Case IH, pontuou que as taxas de financiamento subsidiadas encontram um certo descompasso frente às expectativas de queda da taxa Selic, a taxa básica de juros do País, o que também pressiona as vendas.

“Essa dificuldade não é vista só na fábrica, mas na cadeia toda. São concessionários e toda uma rede de fornecedores complexa. Precisamos de medidas que sanem dificuldades e, se surgir algo nesse sentido que melhore o apetite do cliente, a queda nas vendas pode minimizar até o final do ano”.

De janeiro até abril, a venda de tratores caiu 5,7% do ano passado pra cá. Até o final do quadrimestre, foram 13 mil tratores vendidos no País, 780 a menos que o visto no intervalo equivalente em 2023.

Nas colheitadeiras, a queda é ainda maior. Comparando o primeiro quadrimestre de 2024 com o de 2023, as vendas desses veículos recuaram 41%. De janeiro até abril deste ano, foram 1,6 mil colheitadeiras vendidas.

Se considerarmos as vendas em reais, essa queda mostra um mercado ainda mais prejudicado, já que as colheitadeiras possuem um ticket médio mais elevado do que o dos tratores.

Nos tratores, Bernardes afirma que o mercado das máquinas de baixa potência, geralmente utilizadas por pequenos produtores, têm “sofrido menos do que as de grande porte”.

O vice-presidente da Anfavea disse que o governo “está sensível às demandas do setor” e que o próximo Plano-Safra deve diminuir o descompasso entre as linhas de financiamento. “Os ministros Fávaro e Haddad estão atentos e verificando as problemáticas não só para o setor de máquinas, mas também para armazenagem e irrigação, outras linhas importantes para produtores”, afirma.

No acumulado de 2024 até agora, a exportação de máquinas está 30% menor do que estava neste momento em 2023.

Agrishow ainda longe da conta

A Anfavea acredita que ainda é cedo para colocar os efeitos da Agrishow, a maior feira de agronegócios da América Latina, nas vendas, e que as vendas da feira ainda devem acontecer nos próximos meses.

“O evento teve uma movimentação muito interessante, e notamos os agricultores menos refratários a investir. Mas uma coisa é a intenção de compra e outra é o que vamos registrar de pedidos daqui pra frente. Ainda é cedo”, comentou a vice-presidente da Anfavea.

Segundo números divulgados pela própria Agrishow, foram registrados R$ 13,6 bilhões em intenções de negócios nos cinco dias de feira neste ano, um número bem próximo ao visto no ano anterior. Para algumas montadoras ouvidas pelo AgFeed, o movimento foi acima do esperado.

Bernardes afirma que historicamente, de 10% a 30% das intenções de negócios acabam, efetivamente, virando vendas. “Um produtor que roda a Agrishow vai em vários estandes e faz propostas para todas. Então, de cinco marcas que ele vai, apenas uma vira venda. Isso mostra um pouco a dificuldade de conversão. Além disso, alguns esperam melhores momentos de mercado para a compra”, conta o vice-presidente da Anfavea.