Com produção de soja e milho quase do tamanho da Argentina, Mato Grosso é um estado com cara de país, o que inclui até uma espécie de USDA (o departamento de Agricultura dos Estados Unidos) local, com os indicadores e estimativas de safra acompanhados no mundo inteiro, mas produzidos em Cuiabá, pelo time do Imea, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
“Uma vez ouvi do primeiro superintendente do Imea que, na época que foi criado, período de estruturação do estado, quem falasse o primeiro número era tido como o dono da verdade. Era um período de crise no setor, era necessário ter dados”, contou o engenheiro agrônomo Cleiton Gauer, atual superintendente do instituto, na entrevista exclusiva ao AgFeed.
Gauer se refere a Amado de Oliveira Filho, falecido em fevereiro deste ano, que comandou as primeiras pesquisas quando a instituição foi criada, em 1998, ainda como um departamento da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, a Famato.
O crescimento da produção agropecuária de Mato Grosso foi tão expressivo que até hoje o desafio dos técnicos é acompanhar essa evolução, produzindo estatísticas fidedignas, que impactam no cenário mundial de commodities como soja, milho e carne bovina.
Em 2008, o antigo departamento foi transformado em instituto, sem fins lucrativos, e passou a ser mantido não apenas pela Famato, mas também pelas principais associações de produtores de Mato Grosso.
Hoje são 45 pessoas que produzem cerca de 300 indicadores, para 16 cadeias produtivas. Um desafio e tanto, ainda mais em tempos de problemas climáticos, como ocorreu na safra 2023/2024.
“Foi um dos anos mais difíceis de se mensurar a safra por conta dos ruídos. Nós tínhamos diferentes cenários, produtores sendo afetados de maneira muito distinta”, admite Gauer, que está há 9 anos no Imea e desde 2021 como superintendente.
Gauer revelou ao AgFeed que, em função disso, está acelerando o projeto para ampliar os chamados “Crop Tours” promovidos pelo instituto para reforçar os levantamentos de safra e contabilizar em campo tudo o que ocorre nas lavouras de Mato Grosso. “Queremos fazer algo ainda mais robusto”, disse ele.
O fato é que, mesmo antes deste reforço, os dados do Imea já são acompanhados de perto no Brasil e no exterior. Como estado líder em produção de soja e milho no Brasil – maior exportador do agro mundial – o tamanho da safra mato-grossense é fator crucial no balanço de oferta e demanda, com consequências nos preços.
Para a safra 2024/2025, Cleiton Gauer traz alertas importantes. Um deles é o fato de o ritmo de compra de insumos por parte dos produtores rurais ter “o menor avanço desde que começou a ser monitorado”. Ou seja, nunca se comprou tão pouco agroquímico, por exemplo, a esta altura do ano.
O AgFeed teve acesso aos números da compra de insumos – que não são divulgados em relatórios regulares pelo Imea, são utilizados apenas nas análises internas. O ritmo está 10 pontos percentuais atrás da safra passada.
“O produtor tenta pressionar as revendas na expectativa de conseguir custos menores”, explicou o líder do Imea.
Na entrevista a seguir, Cleiton Gauer também revela sua expectativa para a margem dos produtores na próxima safra, que pode cair drasticamente.
Outra mudança prevista para a próxima temporada é onde o produtor deve buscar os recursos para custear a safra, com a expectativa de maior participação das revendas e multinacionais.
Confirma os principais trechos da entrevista do superintendente do Imea, Cleiton Gauer.
Como surgiu o Imea?
O Imea vai completar 26 anos em 2024. Nasceu em 1998 como um departamento técnico da Famato que era responsável por levantar informações, principalmente cotações, das principais cadeias, como boi e soja, do estado de Mato Grosso, e monitorar alguns indicadores para dar suporte a federação nas discussões, principalmente na pauta política. O Amado, que foi primeiro superintendente, dizia que naquela época quem falasse o primeiro número era visto com quem tinha a verdade. Um político soltava um número aleatório e, para tentar desconstruir aquilo, tinha que provar que meu número era melhor que o dele.
Qual era a conjuntura naquele momento?
O instituo surgiu em um momento de construção política e estruturação do estado. Era também um momento sensível que foi a época da securitização. Era momento de crise no setor. Assim, como departamento foram 10 anos. E em 2008 ganhamos um CNPJ, ganhou o corpo de instituto. Era o momento que o estado também estava se organizando quanto aos fundos. Associações também estavam nascendo na época e algumas delas se uniram na execução, principalmente pela articulação e visão política, visão institucional de algumas pessoas. Todo mundo pensou, olha, ao invés de eu criar um departamento estatístico para cada uma das cadeias, eu crio um Instituto único, separado, que vai ter condições de fazer e até dar uma lisura para o processo, porque vai ser independente. Ele começa a construir os indicadores para fomentar as associações na discussão política.
Esse é um objetivo do Imea?
O Instituto tem sempre esse viés. Ele vai até a pauta, ele produz o número, a informação e a partir dali as associações, os interessados vão produzir a sua defesa, a sua construção política em cima disso. Naquele momento, então, foi instaurado e constituído o Instituto, quando ele surge como um CNPJ e começa aos poucos a ganhar um pouco mais de tração. É um instituto sem fins lucrativos.
Quais são os principais indicadores que trabalham?
São cerca de 300 indicadores que nós acompanhamos para as principais cadeias. Hoje são 16 cadeias, que nós monitoramos em algum grau, algumas mais profundamente, outras não tanto. Nossa atividade principal é a produção de dados primários, então é realmente acompanhar e fazer o levantamento das informações no maior grau de profundidade possível do estado de Mato Grosso. Sempre somos questionados se nós temos interesse de expandir isso para outros estados, mas como core business não temos interesse de ir até Goiás, Mato Grosso Sul, Pará. Nosso foco é realmente conhecer o Mato Grosso em profundidade e ser a instituição que mais tenha essas informações sobre o agronegócio do estado. Temos condições de dizer o que está acontecendo no interior de Sorriso, como funciona a agricultura lá no Vale da Araguaia, por exemplo, realmente é acompanhar e levantar informações sobre o setor no maior grau de profundidade que consegue nos indicadores.
Quais têm sido os maiores desafios para liderar este trabalho do Imea?
O maior desafio é acompanhar a velocidade do estado. Mato Grosso cresce muito, ele tem uma grande movimentação. Precisamos nos adaptar a essas mudanças, tecnologias também que vêm surgindo ao longo do caminho, para cada vez mais trazer um dado que represente a realidade do produtor. Este ano vimos os desafios disso. O produtor cada vez mais trazendo essa preocupação, mais cuidadoso com isso, também cobrando os resultados.
Fomos muito demandados este ano para tentar replicar um pouco da visão que ele enxerga no campo, mas também com um viés metodológico que represente, consiga trazer uma representatividade da realidade que o estado esteja atravessando. Não para atender interesses, mas para realmente trazer, traçar desenhos. Até colocamos na nossa missão, ajudar e auxiliar o estado de Mato Grosso a se desenvolver. Informações que consigam ajudar a tomar decisão, planejamento, organização, tanto para os produtores, quanto para as instituições, quanto para as empresas também, quanto para o Estado como um todo se organizar nesse processo.
Entre os projetos que estão a caminho, qual você destacaria?
Estamos migrando cada vez mais para um ambiente com grande volume de dados, principalmente com acesso à informação disponível que nós temos, e o papel do Instituto não é só levantar, mas é juntar todas essas informações que estão dispersas em diversos locais para conseguir elaborar estudos e análises que consigam auxiliar todos os agentes que citei anteriormente nesse processo. Um projeto que acho interessante citar, é algo que estamos gestando há quase dois anos, é uma parceria com a Secretaria da Fazenda do Estado de Mato Grosso (Sefaz), para ter acesso à informação das movimentações no interior do estado. Nosso interesse não é levantar a informação da pessoa física, de quem é o produtor, mas sim principalmente explicar a movimentação da produção agropecuária no estado de Mato Grosso, mostrar como funciona essa movimentação de origem e destino.
A safra 2023/2024 foi marcada por polêmicas sobre qual seria o tamanho da quebra e diferenças nas estimativas da Conab e consultorias. Foi um desafio para o Imea também à medida que tem uma entidade representativa de produtores rurais como mantenedora?
O principal desafio é ter a confiança dos diretores, principalmente do conselho e do presidente, e demonstrar isso por meio de tudo o que fizemos aqui. Tenho orgulho de falar que é um órgão respeitado por ambos os lados da cadeia, tanto pelo produtor quanto pela parte das empresas, dos terceiros envolvidos nesse processo.
"No momento inicial dessa safra, tínhamos uma pressão muito maior por parte da produção, de que a safra seria menor do que nós estávamos estimando"
Sempre tento trazer clareza para ambos os lados. Não posso omitir informações, não posso tentar criar um cenário que não existe porque ele vai ser ruim para ambos os lados. Você prefere brigar de foice no escuro, como diziam antigamente, no ditado popular, ou simplesmente quer ter às claras todas as informações, tentar ter um dado que represente a realidade e que você consiga monitorar e estruturar a sua estratégia de comercialização?
Há muitos interesses em jogo...
O processo é feito junto aos agentes de mercado, com tradings, revendas e compradores. Do outro lado, nós também envolvemos os produtores dessas regiões e ainda vamos a campo. Então, por mais que eu tenha uma pessoa tentando interferir no processo, eu consigo excluir essa informação que ela gerou, para que não contamine o restante.
E o resultado fala por si só. Realmente no momento inicial dessa safra, nós tínhamos uma pressão muito maior por parte da produção, de que a safra seria menor do que nós estávamos estimando. E no final, chegamos numa consolidação lá, próxima de 52 sacas (por hectare de soja, média de produtividade) que basicamente o produtor se sente representado e as empresas também enxergam aquilo como um número que o estado produziu. Acaba trazendo essa tranquilidade de conseguir mostrar toda essa construção. A safra de soja deste ano fechamos em 39,05 milhões de toneladas. Na primeira perspectiva, feita com um ano de antecedência, se projetava 43,7 milhões de toneladas.
Não foi a pior da história...
Pensando em volume, não, porque Mato Grosso já produziu muito menos no passado. Mas comparada à safra anterior, é a maior queda de um ano para outro desde que o Imea começou o monitoramento no formato que temos hoje, em 2008. O ano passado foi excelente, muito positivo para a produtividade, o que acabou ajudando nesse processo. E teve um salto de área cultivada da 2021 para 2022, que também contribuiu nesse cenário.
A safra 2023/2024 realmente foi a mais difícil de fazer estimativas?
Foi um dos anos mais difíceis de se mensurar por conta dos ruídos. Nós tínhamos diferentes cenários. Produtores sendo afetados de maneira muito distinta. O clima foi muito disperso dentro da própria microrregião. E as pessoas que se manifestam são realmente as mais afetadas. E naquela dúvida, principalmente no meio de safra, quando estava acontecendo toda aquela seca, era um desafio muito grande, porque a soja ainda estava em desenvolvimento. O que estava se vendo ali não necessariamente era o que se iria colher lá no final. Nós tivemos que ir mais cedo para o campo, para rodar as regiões, seguir nossa metodologia de Crop Tour, para conseguir checar isso com os próprios olhos e consolidar essa informação.
Uma das questões foi a área plantada. A Agroconsult, por exemplo, concluiu que o aumento de área foi maior do que se esperava...
Nós fechamos com uma área maior em relação ao ano passado. É um efeito das margens bastante atrativas nos últimos anos. Vimos que os planejamentos de conversão de área estavam acontecendo. Isso acabou aumentando um pouco a área produtiva nessa temporada. Só que em uma velocidade muito menor que nós vimos no último ano e muito menor que nós vimos dois anos atrás. Na safra 2021/2022 a conversão foi de mais de um milhão de hectares. Esse ano foi bem mais tímido, mas ainda assim, nós tínhamos produtores fazendo essa migração de pastagem para lavoura, principalmente. Foram 356 mil hectares de aumento na área de soja. Na anterior havia sido 650 mil hectares. Essa redução da velocidade de conversão é um movimento que já era esperado.
E para a próxima safra, a 2024/2025, o que estão esperando?
Nós projetamos um leve aumento. É um processo que a gente vê naturalmente acontecendo, mas não é aquele boom, não é aquela aceleração que nós vimos nos últimos anos. O produtor também está bem mais receoso, mais cauteloso nesse processo. Não é um ano de dar aquele passo maior que a perna. Até porque realmente os produtores são preocupados. As margens não são muito atrativas. E o produtor, pensando também na hora de formação dos custos, as relações não tão favoráveis, coloca um pouco de receio. Estamos prevendo um leve aumento, de 0,6% para a área de soja em Mato Grosso na próxima temporada, que ocorre principalmente nas áreas de fronteiras agrícolas.
Em relação às margens, qual foi o pior momento que o produtor passou?
Estamos sentindo os efeitos disso nesta temporada. O pior cenário é este, de operações muito alavancadas. A situação é preocupante porque está aparecendo mais estes problemas de recuperação judicial e acaba contaminando todo o setor. Eu não acredito que este seja um movimento em onda, a não ser que perdurem essas margens por um bom tempo. Mas os demais são impactados com dificuldades de crédito, maior exigência de garantias.
"Eu não acredito que este seja um movimento em onda, a não ser que perdurem essas margens por um bom tempo"
Para a frente, é um desafio. Vai depender de como se comportar a safra 2024/2025. Estamos no início da safra americana, há previsão de uma safra maior que o consumo, vai depender do clima para ver se vai se consolidar neste momento. O produtor precisa ter bastante cautela. Fazer travas, fazer comercialização. Não é o ano da melhor margem possível, mas é o ano que ele vai precisar sobreviver, se estruturar para conseguir aproveitar os melhores momentos de luz e sol mais à frente. Há muita incerteza para o segundo semestre e para a próxima temporada.
Se os patamares de preço se mantiverem como estão agora para a soja, já seria uma margem melhor do que foi?
Melhor que a média não, mas seria melhor do que aqueles momentos em que a margem ficou negativa. Se ele fizer um processo mais comedido, ainda tem uma margem que não é a pior da história. A pior até então havia sido na safra 2015/2016, quando a “lajida” (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) que calculamos ficou em R$ 421,71 por hectare. Agora, em abril, a margem está em R$ 471,21. Mas o cenário inicial para a próxima safra é muito pior, com chance de ficar inferior a R$ 100 por hectare, já que custo inicial está mantido e receita está caindo. É uma projeção que considera o custo e o preço atual, à medida que a comercialização ainda está ocorrendo. É por isso que o produtor não está comprando os insumos.
Mas a relação de troca por insumos está melhor?
Depende do produto. Em alguns está próximo da relação do ano passado, já outros estão próximos da média histórica dos últimos cinco anos. O produtor busca opções para fazer a substituição de alguns formulados ou segura para tomar a decisão mais para a frente. Ele consegue decidir até junho e julho, e a partir dali começa a pressionar por conta da logística de entrega.
Como avalia o atraso na compra de insumos?
Desde que nós monitoramos, é o menor avanço percentual na comercialização de insumos no estado. Com exceção da safra 2023/2024, nas duas anteriores, o que vimos foi um adiantamento, com o produtor fazendo um movimento contrário, aproveitando os melhores preços e trocas para fazer a comercialização. Agora o produtor tenta pressionar o fornecedor, como ele ainda tem um tempo. Ele joga essa pressão pela redução de preços nas revendas, na expectativa de que os custos fiquem menores.
"O produtor tenta pressionar o fornecedor, joga essa pressão pela redução de preços nas revendas, na expectativa de que os custos fiquem menores"
Calculamos uma média que inclui compra de defensivos, sementes e fertilizantes. Até o fim de abril, 46% dos insumos foram comprados, enquanto na mesma época do ano passado o índice estava em 56.3%. A média dos últimos cinco anos é de 63,3%. O mais atrasado é em defensivos, porque tem mais espaço para negociar.
Qual o efeito disso?
Há dois caminhos. A estratégia pode dar certo. Mas, se der errado, pode haver um repique de preços ou uma dificuldade na logística para que o produto seja entregue a tempo na fazenda. Esse seria o pior cenário, em função da necessidade, do volume significativo para atender o estado inteiro. O produtor precisa ficar atento.
Sobre os produtores alavancados, como o Imea monitora?
Gostaríamos de conseguir medir isso e acompanhar, mas não temos acesso à informação dos processos de recuperação judicial, por isso não produzimos esse material. Ocorre algo semelhante com preço de terra. Até hoje avaliamos, mas preferimos não fazer um acompanhamento porque é algo particular, regional, que às vezes beira a irracionalidade. Às vezes um produtor quer comprar o vizinho e propõe pagar valor muito maior que a média que os preços praticados. Como não é um negócio que ocorre todos os dias, não há valor indicativo que traga segurança para nós. Optamos por não levar adiante esse indicador, é algo que precisa ser maturado.
Para monitorar este momento mais desafiador, nosso foco são as margens. Ajudamos nas discussões em Brasília, para mostrar que o setor vem se espremendo. Ele não tem caixa. O produtor está sempre focado em investir. Tudo o que ele tem de receita ele reinveste na propriedade ou na expansão da produção. Nos momentos de aperto acaba ficando mais exposto.
Como deve ficar o funding da safra de soja? É outra pesquisa importante que o Imea faz...
Não vamos ter ampliação significativa de recursos federais, pensando no perfil de Mato Grosso e tamanho das propriedades. Não vai voltar para aquele patamar acima de 10% que já tivemos no passado. Vai aumentar a participação, mas nem de perto será o que se tinha no passado.
Teremos uma redução dos recursos próprios. É natural, porque produtor está com margens mais espremidas. Acabam migrando para outras estruturas, principalmente revendas e multinacionais, em função da troca e do travamento do produto, definir quanto ele vai entregar de soja no final do ano por todo o pacote de insumos dele, fazendo um hedge das duas pontas. E ele também acaba sendo jogado para este outro tipo de crédito naqueles casos de produtores mais alavancados.
E a participação dos bancos privados?
No caso de recursos do sistema financeiro, vimos uma velocidade mais forte nos últimos anos e acreditávamos que ia subir significativamente, mas vimos uma migração desses recursos. Foram irrigados e pulverizados nas multinacionais e nas revendas, fomentados por outras estruturas de crédito. E esses agentes, que já conhecem a operação e os produtores, acabam fornecendo o crédito. É quem vai ganhar mais nessa temporada. No momento de maior risco, ninguém vai entrar direto ao produtor financiando, é mais difícil.
É um cenário diferente da safra 2023/2024...
O relatório que divulgamos em dezembro passado mostra 31% recursos próprios e 4% de recursos federais, mais do que na safra anterior. As multinacionais estavam com 30% e as revendas 18%, devem seguir crescendo. O sistema financeiro estava com 17%. Pode até ampliar um pouco o financiamento nos bancos, mas não muito.
E o milho, pode ajudar a fechar a conta?
O milho será o principal driver de redução do uso de recursos próprios. É um ano muito difícil de margens no milho, mesmo com melhores preços nos últimos meses. Dependendo da produtividade e da tecnologia que o produtor tem, realmente precisa colher muito além da média para atingir margens positivas. Não é um ano muito atrativo para a cultura, tanto é que vimos uma redução de área cultivada em Mato Grosso por conta disso.
Mas a safra de milho se desenvolveu bem?
Sim, está indo bem, até melhor do que se projetava inicialmente. Inclusive nós projetávamos um cenário um pouco pior. Normalmente, em anos de El Niño, a chuva cessava mais cedo para o milho e não foi o que ocorreu este ano. As chuvas se estenderam por abril, que favoreceram as últimas áreas cultivadas, garantindo uma produtividade um pouco melhor. Estamos com as equipes rodando no campo. Para confirmar se é um número maior, precisamos aguardar o final do mês e até a colheita engrenar, mas já é uma perspectiva melhor do que projetamos inicialmente. Já reajustamos em 4% a produção em relação a estimativa inicial.
O Imea tem mais algum plano para lançar em breve?
Em setembro vamos divulgar a perspectiva para os próximos10 anos. É o outlook 2034, algo que divulgamos a cada dois anos. Nossa expectativa é lançar no início próxima safra, atualizando esses indicadores. Além disso, estamos prevendo crop tours mais abertos, com mais trabalho em campo. Dado o desafio da última safra para separar os ruídos, trazer dados ainda mais fidedignos, nossa ideia é trazer mais robustez para as informações levantadas a campo. Fazíamos parte já de um consórcio levantando informações em conjunto com outros parceiros, mas esse ano entendemos que precisamos ficar mais próximos das lavouras em momentos mais decisivos, com uma frente mais aberta e maior para o monitoramento.