Os combustíveis renováveis estão na pauta de grandes empresas e de governos de países desenvolvidos, que precisam controlar suas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Por estar nesta categoria, o etanol brasileiro de cana de açúcar já registra este aumento na demanda global, tendência que deve se acentuar nos próximos anos, segundo especialistas.]

Dados do último relatório mensal do Observatório da Cana e Biotecnologia, elaborado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, a Unica, mostra que as exportações de etanol acumuladas até abril de 2023 cresceram 74% na comparação com o mesmo período de 2022.

Nos quatro primeiros meses deste ano, foram pouco mais de 821 mil metros cúbicos, o equivalente a 821 milhões de litros do produto vendidos para outros países. No ano passado, até abril, foram 472 mil metros cúbicos.

Em valores, foram R$ 2,9 bilhões em etanol exportado até abril, segundo o relatório da Unica. E neste quesito, o crescimento em relação a 2022 é ainda maior, de 81%.

Isso porque o preço de exportação começou o ano em alta, acima dos R$ 3.700 por metro cúbico. Mas este valor está em queda, chegando a R$ 3.265 em abril. No mesmo mês de 2022, o valor de exportação do etanol estava acima dos R$ 3.400 por metro cúbico.

O consultor Rodrigo Aguiar, da Íntegra Associados, e que já foi presidente da Tonon Bioenergia e liderou a reestruturação da Infinity Bioenergy, acredita que a demanda pelo etanol brasileiro, e por consequência as cotações, vão aumentar muito nos próximos anos.

“Se todos os países desenvolvidos adotarem uma mistura de 20% de etanol na gasolina, por exemplo, já haverá um aumento do consumo muito importante”, diz Aguiar.

O consultor lembra que a União Europeia deve investir centenas de bilhões de euros para incentivar o uso de fontes renováveis de energia até 2030.

Os Estados Unidos têm um plano para fazer investimentos massivos em energia renovável, de cerca de US$ 270 bilhões até 2030, segundo Aguiar.

“Como combustível, o etanol reduz em cerca de 75% a emissão de gases de efeito estufa. E os países são obrigados a acelerar seus investimentos, porque têm metas a atingir até 2030, e postergaram o início dos programas”, afirma André Araújo, diretor da consultoria BiO3.

Mesmo sendo o maior produtor mundial de etanol, 94% originados do milho, segundo o Departamento de Energia, os Estados Unidos estão entre os grandes compradores do produto brasileiro. Foram mais de 100 milhões de litros em 12 meses até abril, segundo a Unica.

Os maiores compradores são a Coreia do Sul, com 312 milhões de litros em um ano, e a Holanda, com pouco mais de 215 milhões de litros.
No acumulado da safra 2022/23, até a primeira quinzena de março, o Brasil produziu 28,5 bilhões de litros de etanol, crescimento superior a 4% em relação à safra anterior.

Para André Araújo, diretor da consultoria BiO3, a tendência é que esta produção continue crescendo, mas sem elevar a área plantada no Brasil. “Os investimentos que vemos é na produtividade e em tecnologia, que permite a produção da segunda geração de etanol, feito a partir do bagaço de cana”.

Em seu balanço referente ao último trimestre da safra, ou primeiro trimestre fiscal de 2023, a Raízen relata que produziu 30 milhões de litros do etanol de segunda geração, volume 64% maior que na safra anterior.

A empresa vai concluir oito novas plantas para produzir o E2G até 2027. Ainda em seu balanço, a Raízen apontou um crescimento de quase 20% nas vendas da safra 22/23.

A BiO3 afirma que a demanda por certificações ambientais pelas empresas produtoras de etanol subiu entre 20% e 30% neste ano. A Europa só aceita o produto de usinas certificadas, explica Araújo.

“A guerra na Ucrânia também fez aumentar a procura por etanol brasileiro, por conta do aumento do preço do gás”, afirma Araújo.

Ele lembra que o Brasil está avançando na produção de etanol de milho, que é mais eficiente que o de cana em relação à produtividade. Uma tonelada de cana produz de 70 a 90 litros de etanol, enquanto no milho, a tonelada produz até 410 litros.

O engenheiro afirma que o ponto negativo do milho é a área necessária para produzir cada tonelada. São 6 por hectare, enquanto a produção de cana, em média, é de 77 toneladas por hectare.

Mas com a crescente demanda global, o Brasil passou a produzir mais etanol também de milho. Segundo a Unica, foram 4,2 bilhões de litros na safra 22/23 até o começo de março, avanço de 27,6%.