Enquanto os trâmites de governo podem atrasar e o governo chega a anunciar o Plano Safra depois do período previsto, nas instituições de crédito o planejamento começa cedo e o contato com os produtores para financiar a safra 2024/2025 já vem acontecendo.
É o caso do Sicredi, considerado o maior agente privado de financiamento do agronegócio – perde apenas para o Banco do Brasil no ranking geral, que inclui os bancos públicos.
Em entrevista ao AgFeed, o superintendente de Agronegócio do Sicredi, Thiago Rossoni contou que o diferencial do sistema é a proximidade com o produtor rural.
“Buscamos entender muito a necessidade dele (do produtor) e de seu ciclo produtivo, e quando a gente avalia e constrói com as cooperativas o nosso planejamento, o nosso número deriva disso, não está só conectado com o estímulo do governo, mas com a necessidade do produtor rural”, explicou.
O “plano safra” do Sicredi para 2024/2025 está disponibilizando R$ 66,5 bilhões aos produtores rurais, o que representa um aumento de 17% em relação ao que foi ofertado no ano passado.
Do total, a estimativa do Sicredi é liberar R$ 30,6 bilhões para operações de custeio, R$ 14,1 bilhões para investimentos e R$ 1,3 bilhão para comercialização e industrialização, além de R$ 20,5 bilhões no crédito concedido via CPRs – Cédulas do Produto Rural.
O sistema Sicredi inclui cinco centrais regionais, que reúnem 104 cooperativas, com 2,7 mil agências, em 2 mil municípios do País.
Na safra 2023/2024 o banco havia divulgado uma meta de atingir R$ 60 bilhões em crédito destinado ao agronegócio. Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Sicredi informou que fechou o último ciclo com R$ 56,9 bilhões liberados.
Rossoni disse ao AgFeed que o resultado levemente inferior ao projetado se deve a uma menor demanda dos produtores para fazer investimentos.
“Esse ano teve várias adversidades, o El Niño que pegou de uma forma um pouco mais severa o Centro-Oeste do Brasil, mais recente uma adversidade no Sul do Brasil, isso fez com que o próprio investimento que o produtor estava estimando ficasse um pouco aquém do que a gente tinha estimado para o ciclo produtivo”, ressaltou.
Segundo o superintendente do Sicredi, as liberações de custeio ficaram dentro do orçado. Nas linhas de investimento, “toda a demanda recebida foi atendida”, mas houve “menor apetite” do produtor.
Expectativa otimista (e inadimplência baixa)
A base de clientes agro do Sicredi tem 95% dos produtores enquadrados no perfil Pronaf e Pronamp, ou seja, pequenos e médios, que utilizam linhas subsidiadas pelo Plano Safra do governo.
É por isso que a instituição está aumentando a oferta de recursos em percentual maior do que o próprio governo. A expectativa é de uma retomada, inclusive nos investimentos, por parte dos pequenos e médios.
O AgFeed mostrou que uma das novidades do Plano Safra da Agricultura Familiar anunciado hoje pelo governo foi a criação de uma linha específica, com 2,5% ao ano de taxa de juros, para a compra de “microtratores”, por exemplo.
Dos R$ 66,5 bilhões que serão disponibilizados pelo Sicredi, cerca de metade são linhas controladas (com juro subsidiado) e o restante com “recursos livres).
Thiago Rossoni avalia, no entanto, que mesmo nos livres a expectativa é praticar juros mais baixos, em função da queda na taxa Selic, de uma safra para outra.
“Quanto mais baixa é a taxa de juros, menor é a diferença que o governo precisa subsidiar para que os produtores, especialmente os pequenos, acessem o crédito em boas condições. Então, acreditamos que, de certa forma, as alternativas de recursos livres se tornam mais atrativas para os médios e grandes. Iniciamos a safra em 13,5% (de Selic) e agora estamos em 10,5%”, afirmou.
A entrevista de Rossoni, porém, foi concedida antes do anúncio desta quarta, por parte do governo. E as taxas de juros baixaram apenas para algumas linhas da agricultura familiar. Na empresarial, somente uma linha do Moderfrota teve queda de 1 ponto percentual.
O plano 2024/2025 do Sicredi acertou ao projetar um crescimento mais significativo em investimentos – considerando que tem mais clientes de Pronaf e Pronamp. Segundo Rossoni, o avanço é de 22% para o crédito de investimento, de 17% nas CPRs e de 16% nas linhas de custeio.
A CPR é uma das apostas promissoras, segundo o Sicredi, que vem se destacando pela maior agilidade na hora do produtor tomar o empréstimo.
Esses títulos vêm sendo usados como lastro na emissão de outros mecanismos de financiamento do agro, via mercado de capitais, como CRAs e Fiagros.
Rossoni diz que o crescimento deste segmento contribui para a maior demanda de CPR.
“Diferente do custeio e investimento, que por vezes não tem toda a digitalização disponível, na CPR o associado tem isso na palma da mão, por vezes a agilidade é muito importante para ele para fazer um negócio rodar”, avaliou.
O Sicredi garante que o perfil de cliente – e a proximidade com o associado, novamente – também ajuda a manter a inadimplência em níveis historicamente baixos.
Na carteira em geral (incluindo outros setores), a inadimplência em maio estava em 2,35%. Já no crédito rural, especificamente, o índice era de 0,48%. Ainda assim, o Sicredi admite que percebe no mercado uma maior preocupação com segmentos que foram mais afetados, como em Mato Grosso. A inadimplência em maio do ano passado era ainda menor, de 0,12%.
O índice é considerado excelente já que outras instituições financeiras chegam a falar em 2%, desde que as margens ficaram mais apertadas para os produtores, e aumentou o número de recuperações judiciais. “Não é nossa realidade passar de 1%”, afirmou Rossoni.
Os ativos totais do Sicredi são estimados em R$ 356 bilhões. A carteira total é de R$ 224 bilhões, sendo que metade deste valor tem relação com o agro, ou pelo crédito rural, ou por produtos como seguros, demandados por clientes deste segmento. A carteira de crédito rural está em R$ 87 bilhões.