Cerca de 25% das dívidas listadas na recuperação judicial do grupo AgroGalaxy estão protegidas por seguros de crédito, de acordo com um levantamento feito pelas empresas que operam com esse tipo de produto.

Esse percentual pode ser maior se consideradas apenas as dívidas da empresa com fornecedores, segundo Felippe Astrachan, country manager da Avla, insurtech chilena que opera há três anos no mercado B2B de seguros no Brasil e tem visto disparar a demanda pelo seguro de crédito no agronegócio.

De acordo com Astrachan, a indústria seguradora estima estar exposta em cerca de R$ 1 bilhão dos cerca de R$ 3 bilhões devidos aos fornecedores. “De um lado, é um valor muito alto”, afirma.

“Mas o que mais me espanta é ver que há R$ 2 bilhões de fornecedores do AgroGalaxy que não estão protegidos simplesmente pela não contratação do produto”.

O espanto do executivo deve-se ao fato de os seguros de crédito não serem novidade no Brasil, embora, segundo ele, ainda pouco difundido.

No caso de uma recuperação judicial, a empresa depende da formalização do processo para validar as dívidas em aberto. A partir dessa validação, explica Astrachan, o segurado recebe os valores protegidos em 30 dias.

“O contratante do seguro não precisa esperar o desfecho da recuperação judicial para receber o valor de volta”, diz. “A seguradora indeniza e passa a deter o direito a receber conforme a recuperação judicial”.

O objetivo desse tipo de seguro é garantir à empresa que vende produtos ou serviços com algum tipo de financiamento que essas vendas serão pagas.

“De uma maneira genérica, o produto garante o contas a receber de empresas”, afirma.

No caso do agronegócio, os seguros podem ser utilizados como garantia na emissão de recebíveis, como CRAs. Foi nesse âmbito que a Avla, criada há 10 anos e com operações em cinco países, percebeu uma oportunidade que tem impulsionados seus negócios no setor.

“Fomos os primeiros a garantir os recebimentos de produtores rurais, pessoas físicas, além de empresas com empresas”, diz Astrachan.

Hoje, a companhia tem cerca de R$ 1 bilhão em exposição total com os seguros de crédito. O agro corresponde, segundo ele, a um terço desse valor.

E é, disparado, o segmento que mais cresce em demanda dentro da empresa. De acordo com Astrachan, há pelo menos um ano tem havido um interesse maior de companhias do setor em buscar proteção para suas operações de crédito.

“Hoje a gente recebe o dobro de cotações do agro se c omparado com o varejo, que é o segundo com maior procura”, diz. Há um ano e meio atrás, conta, a relação era invertida, com o varejo na liderança e o agro com 20% menos demanda.

“Dado o tamanho da procura e da situação, estão sendo bem seletivos em definir com quem a gente vai operar”, diz o executivo.

Ele avalia que esse interesse maior coincide com um momento de maior instabilidade no setor. “Não relaciono isso a um efeito AgroGalaxy, porque é muito recente. O setor já vinha sofrendo com o aumento de número de RJs. Existe uma percepção maior de risco no agronegócio”, afirma.

Ele ressalta, entretanto, que a percepção não reflete a boa avaliação que a empresa tem do setor. “É generalizar demais dizer que o setor é problemático. Na verdade, é bastante rentável. Como diz o clichê, o motor da economia brasileira”.

Na visão de Astrachan, o que aconteceu, há alguns anos, foi que, algumas companhias e alguns investidores operaram no sentido inverso, com uma percepção de que não existia risco no agro.

“Então, o pessoal começou a criar as operações que eles chamam de high yield, operando com produtores rurais muito mais complicados, com excesso de exposição no mundo dos distribuidores e revendas, que é mais complicado de se operar”, diz.

Astrachan conta que a Avla trouxe da matriz, no Chile, a expertise de trabalhar com produtores rurais e empresas do agronegócio. Lá, a companhia opera com a maior cooperativa do país, a Copeval, com cerca de 20 mil associados.

“É um negócio que funciona muito bem, muito rentável para a gente”, diz. A escala no Brasil é muito maior, mas o executivo acredita que a experiência adquirida foi fundamental para “destravar um volume relevante de negócios associados ao agro”.

Hoje, a empresa afirma ter entre seus clientes indústrias, tradings, revendas e produtores, inclusive os que ainda operam com seus CPFs.

A contratação, nesse caso, é feita pelas empresas, que acabam “vendendo” aos produtores com quem fazem negócios, como forma de garantirem seu crédito.

A plataforma digital da Avla avalia o risco das operações e a qualidade da governança dessas empresas, que são levados em consideração na hora de precificar os seguros.

“A gente está entrando para proteger as empresas. Se eu estou trabalhando com uma empresa tem um processo de avaliação de crédito robusto, isso naturalmente melhora e abaixa o preço”, diz.

Segundo Astrachan, a operação da empresa é baseada em tecnologia, com modelos de inteligência artificial para análises de risco que permitem, em alguns produtos, a emissão das apólices 100% online.

Do lado do cliente, a plataforma da Avla permite a gestão das operações em praticamente todas as jornadas. “Hoje em dia a gente já trabalha com mais de 40 mil clientes no Brasil. Para conseguir atingir essa escala, precisa de tecnologia e capacidade de atender o volume de clientes”, afirma.

O Brasil hoje é o segundo mercado da seguradora, com o Chile se mantendo como a principal operação. Mas de acordo com Astrachan, isso deve se inverter no ano que vem, a se manter as taxas de crescimento por aqui.

Junto ao mercado agro, a oferta de produtos aumentou recentemente, com a entrada da empresa no segmento de riscos de equipamentos.

A Avla pretende usar o relacionamento já estabelecido com companhias do setor para oferecer também a cobertura para as frotas de equipamentos dos produtores e empresas rurais.

Na iniciativa, a seguradora estará sempre associada aos financiadores, aos distribuidores e empresas de consórcio.