Na equação de um clima mais favorável somado a uma janela mais adequada para o plantio, a safra de inverno de milho ganhou força.
A Agroconsult, consultoria que promove o Rally da Safra, revisou para cima sua expectativa de produtividade média no Brasil para a safrinha, e agora espera uma colheita de 100,5 milhões de toneladas no ciclo 2023/24.
Em março, antes do Rally, a expectativa era de uma safra de inverno de 96,7 milhões de toneladas para o grão. O número final mostra, contudo, uma redução de 10% frente a colheita da temporada 2022/23, de 111 milhões de toneladas de milho na segunda safra.
Mesmo ainda abaixo da safra passada, essa é a segunda temporada na história onde o cultivo de inverno do grão ultrapassou as 100 milhões de toneladas.
Em âmbito nacional, a produtividade da safrinha de milho deve ficar em 100,6 sacas por hectare cultivado, uma queda de 5,2% frente à safra anterior.
Os principais estados produtores tiveram queda na produtividade. Segundo André Debastiani, sócio da Agroconsult que coordena o Rally da Safra, houve uma redução no investimento por parte dos produtores, principalmente na escolha de sementes.
“Vimos uma safra com menos tecnologia embarcada, mas numa condição climática boa e janela favorável. Notamos uma população de plantas menor por conta disso e pela pressão da cigarrinha do milho e do percevejo”, acrescentou André Debastiani.
André Pessoa, CEO da Agroconsult, vê que a safrinha de milho foi marcada por contrastes, com regiões apresentando resultados muito distintos a depender do clima.
No Mato Grosso, a produtividade ficou em 118,2 sacas por hectare, queda de 1,4% na comparação entre as safras. A maior baixa ficou no Mato Grosso do Sul, que viu sua produtividade cair 25,5% em um ano e deve encerrar a temporada 2023/24 com 72,6 sacas por hectare.
O estado de Goiás foi a surpresa positiva, com uma produtividade média de 119,4 sacas por hectare, avanço de 1,9% na comparação com o ciclo 2022/23. Outro estado que também mostrou alta na produtividade foi Tocantins, com 90 sacas por hectare.
Os estados do Paraná, Maranhão, Piauí, São Paulo e Minas Gerais também registraram queda na produtividade.
A Agroconsult estima que a área da safra 2023/24 dedicada ao milho fique em 16,7 milhões de hectares, 4,5% menor do que na temporada anterior.
“A queda na área em 23/24 não foi tão acentuada. Com a antecipação do ciclo da soja, a janela de plantio do milho acabou sendo muito favorável, e o plantio foi o mais adiantado desde 2018/19 em alguns estados”, pontuou Debastiani. Antes do Rally, a consultoria projetava uma área de 15,9 milhões de hectares.
Juntando a safrinha de milho com a safra de verão, a produção total brasileira na safra 2023/24 atingirá as 126,5 milhões de toneladas. “Mesmo sendo 15,3 milhões de toneladas menor do que a anterior, ainda é um grande volume e certamente traz desafios para o seu escoamento em num ano em que a comercialização segue atrasada”, explica André Debastiani.
André Pessoa ainda lembrou que outra cultura que vem ganhando espaço na safra de inverno é o sorgo, principalmente em estados do Nordeste.
“Em regiões em que o milho não teve uma janela adequada, a produção foi complementada com sorgo. Vejo uma animação no Nordeste com a chegada de plantas de etanol, já sinalizando preços para o ano que vem para os grãos. A segunda safra vai ficando cada vez mais robusta”, afirmou.
Mais demanda no mercado interno
Dentre os destinos da comercialização do milho da safra 2023/24, a expectativa é que 85,1 milhões de toneladas sejam destinadas para o mercado interno, com 60,1 milhões de toneladas para empresas de proteína animal e 16,6 milhões para indústrias de etanol.
O consumo no mercado interno cresceu 6,1% frente ao ano passado. ”10 anos atrás o consumo de milho para etanol era zero. Existe uma tendência de crescimento forte para os próximos cinco ou seis anos dobrarmos esse montante”, afirma Debastiani.
A Agroconsult também previu que as exportações brasileiras de milho devem cair, com um mercado mais frio na China e a concorrência de uma safra argentina de cerca de 50 milhões de toneladas do grão.
Os agricultores brasileiros devem exportar cerca de 42,1 milhões de toneladas no ciclo atual, o que representa uma redução de 23% na comparação anual.
De olho na próxima safra
A Agroconsult estima que a colheita desta segunda safra já passa dos 60% no País, principalmente nos estados com maior produção.
Segundo André Pessoa, a comercialização da safrinha de milho 2023/24 está em 35% atualmente. “Isso preocupa, pois deveria andar mais”, afirma.
Já as vendas de soja da temporada 2023/24 estão em 70%, um patamar equivalente ao da safra passada.
Para a safra 2024/25, que começa a ser plantada em setembro, a comercialização da oleaginosa está em 30%. “Um patamar razoável do ponto de vista da cobertura de risco. A comercialização da soja acelerou nos últimos dois meses por conta do câmbio”, pontua Pessoa.
Avaliando a área plantada na safra 2024/25, a Agroconsult estima que a área de soja deve apresentar uma pequena redução por conta dos acontecimentos no Rio Grande do Sul. Se isso se confirmar, será a primeira redução desde 2006.
Na safra de inverno, a tendência, segundo a consultoria, é de uma estabilidade ou queda inferior a um milhão de hectares. A justificativa é a La Niña que deve tomar conta da temporada e trazer escassez de chuva para estados do Sul do País.
As vendas seguem lentas, e a comercialização da cesta de insumos para a nova temporada acompanha o ritmo.
Segundo Ademir Mazotti, vice-presidente de cadeia de suprimentos e inovação na OCP do Brasil, mesmo com uma demanda forte, as vendas estão atrasadas e geram problemas de logística, com fila nos portos brasileiros.
Apesar disso, a empresa marroquina está reforçando sua presença no Brasil. Segundo o executivo, a empresa deve trazer 3 milhões de toneladas de produtos para o País nessa safra. Ele estima que o Brasil seja responsável de 25% a 30% das vendas do grupo.
“Crescemos nossa capacidade de produção de 4 milhões de toneladas de produtos para 14 milhões. Há 10 anos, trazíamos 10% do que trazemos hoje para o Brasil. Vamos avançando de forma lenta, no ritmo que conseguimos”, afirmou.
Ele adiantou que a OCP estuda passar a produzir localmente, e que esses projetos estão em fases de engenharia e de parcerias. “Queremos trazer produtos adequados para cada região, cultura e bioma, adaptando nosso parque industrial para que ele se torne cada vez mais digital e com produtos biológicos”, acrescentou.