Na quinta-feira passada, dia 23 de novembro, os alunos da Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires se perfilaram ao final de uma aula especial. Ao atravessar o corredor humano formado por eles, o professor Fernando Vilella foi aplaudido e cumprimentado efusivamente.
Vilella encerrava ali 48 anos de vida acadêmica. E caminhava em direção à vida política. Embora não tenha sido oficialmente anunciado, seu nome é dado como certo como o responsável pela área de Agricultura no futuro gabinete do presidente eleito Javier Milei, que deve ser empossado no próximo dia 6 de dezembro.
Alguns detalhes aguardam a confirmação. Um deles é uma conversa de Vilella, de 68 anos, com membros da equipe econômica de Milei, que deve acontecer logo no início desta semana. O objetivo seria "conciliar certos aspectos da macroeconomia que são substanciais", segundo afirmou o próprio professor no programa de rádio Mitre y el Campo, da Rádio Mitre, de Buenos Aires.
Um possível ponto é a maior autonomia da área, que foi rebaixada, no governo atual, de ministério para secretaria, subordinada ao Ministério da Economia, então comandado pelo candidato derrotado Sergio Massa.
Vilella é colunista regular do programa e, logo no dia seguinte à sua derradeira aula, falou abertamente sobre sua participação no novo governo. Afirmou que não se trata de “um acordo feito” e que "ainda falta confirmação".
Já adiantou, no entanto, que se prepara para assumir. “Montamos um programa e tenho uma equipe de 25 a 30 pessoas dispostas a jogar", confirmou.
Até mesmo o nome da secretaria foi alterado para se adaptar ao novo titular. A partir da posse, será Secretaria de Bioeconomia, abrangendo um conceito defendido pelo acadêmico nos últimos anos – sua coluna no rádio também tinha esse nome. Era essa a disciplina que ele lecionava e que tem como princípio a visão da agropecuária como centro de um modelo econômico associado a questões ambientais e científicas.
Com uma carreira sólida, Vilella – que também é produto rural – é uma das mais respeitadas vozes do agronegócio platino. Conciliou funções de liderança em associações de agricultores com uma prolífica produção intelectual.
Foi diretor da Faculdade de Agronomia e professor em diversas disciplina. Também é autor de 15 livros, 12 capítulos em obras científicas e 39 publicações internacionais.
"No meu tempo de reitor, com a ajuda da comunidade docente e não docente, fizemos uma tarefa da qual me orgulho muito: triplicar o número de alunos de graduação e de pós-graduação", disse, em seu discurso de despedida na universidade.
Também foi o responsável pela criação do bacharelado em Economia e Administração Agrícola e criou os cursos de Técnico em Gestão de Alimentos e Técnico em Culturas Orgânicas. E também lançou o único curso de graduação que trata do Meio Ambiente, o Bacharelado em Ciências Ambientais, que está completando 20 anos.
"Foram muitos anos de crescimento e de tentativas de ações que, com a maior honestidade intelectual, buscavam ajudar o que eu acreditava que era o bem comum, sempre acompanhado por muitos que se juntaram em cada etapa", disse.
Críticas ao modelo atual
Durante o programa da Rádio Mitre, Vilella não economizou nas críticas ao governo eu se despede. Para o professor, Javier Milei receberá uma herança "muito ruim" do atual presidente Alberto Fernández.
"Nos aspectos econômico, social, educacional, produtivo, não há um parâmetro em que tenhamos ido bem", disse. “Temos que remar com uma meta, que é aquela em que 56% dos argentinos votaram", disse.
Para o provável futuro ministro, a situação da Argentina é fruto de uma combinação de fatores negativos: “uma inflação muito alta, uma campanha eleitoral irresponsável que gastou 2% do PIB, falta moeda estrangeira para importações, uma armadilha com lucros para amigos e tarifas desalinhadas", disse.
“O modelo desse governo é ter salários baixos, subsidiar passagens e alimentação com impostos, quando só com investimentos a produtividade e, portanto, os salários podem aumentar”, disse.
“Tenho vergonha como argentino. A minha geração falhou”, admitiu.
Seu plano de ações no governo incluiria a eliminação, logo no início do mandato, das retenciones, taxas cobradas na fonte sobre a produção de soja, trigo e milho, os três produtos que mais contribuem para a arrecadação de impostos no país.
Além disso, Vilella pretende avançar gradualmente com a retirada de todas as regulamentações do setor. Atualmente o setor sofre com a necessidade de autorizações de exportação, proibição de sete cortes de carne para venda no exterior, fundos fiduciários e fundos para óleo e farinha que distorcem a atividade.
Além do nome de Vilella, a equipe do novo ministério deve contar com experientes executivos do agronegócio argentino, como Pedro Vigneau, ex-presidente da Associação Argentina de Produtores Diretos de Sementes (Aapresid) e presidente da Associação Argentina de Milho e Sorgo (Maizar), como chefe de gabinete, e Germán Paats, produtor e ex-presidente da Fundação Barbechando, para a Subsecretaria de Agricultura, Pecuária e Silvicultura.