O ritmo lento na compra dos insumos para a próxima safra segue como marca registrada de 2024, mesmo com a melhora nos preços da soja, em função da alta recente do dólar.
Depois de uma palestra no GAFFF, Global Agribusiness Forum, no Allianz Parque, em São Paulo, o country manager da Mosaic, que é líder em vendas de fertilizantes no Brasil, conversou com o AgFeed. Eduardo Monteiro também é presidente da Anda, Associação Nacional para Difusão de Adubos, que representa as empresas do setor, por isso acompanha ainda mais de perto o ritmo de vendas a cada safra.
“Houve um descasamento. Neste momento, estimamos que aproximadamente 70% do mercado de fertilizantes, daquilo que a gente espera entregar em 2024, já rodou. Esse número é exatamente o mesmo, coincidentemente, do que se via nessa mesma época do ano passado, os mesmos 70%. Porém, quando se compara com os três anos anteriores, está 10% atrás, portanto, um pouco atrasado”, avaliou Monteiro.
Os principais nutrientes utilizados na agricultura são a chamada cesta NPK, composta de Nitrogênio, Fósforo e Potássio. Cada um deles teve comportamento diferente no que se refere a ritmo de vendas e variação de preços.
O country manager da Mosaic no Brasil diz que “o cloreto de potássio rodou bem esse ano, porque no começo estava um preço bom e uma relação de troca vantajosa”.
Já as vendas de fosfatados ficaram um pouco mais atrasadas. Segundo Monteiro, algumas consultorias indicavam ao agricultor que talvez o preço do fósforo tivesse espaço para queda.
“O preço não caiu e o que aconteceu é que agora a gente começa a entrar em um período importante de pico de safra, onde quando você olha os estoques brasileiros de fertilizantes, estamos com 10 milhões de toneladas, nesse mesmo período do ano passado eram 11 milhões de toneladas - esse 1 milhão a menos está no fósforo”, revelou o executivo.
Com a demanda menor, as misturadoras importaram 22% menos fósforo até agora, na comparação com o ano passado, segundo o presidente da Anda.
“O que vai acontecer agora é uma concentração de demanda, que faz com que o preço suba”, alertou Monteiro.
Nesse cenário, segundo ele, o preço do MAP (principal fosfatado usado na soja) já subiu US$ 50 por tonelada nas últimas quatro semanas. Outro ponto de atenção é o maior risco de gargalo logístico, com fila nos portos, à medida que a importação fica mais concentrada em determinado período.
Como o dólar tem se valorizado em relação ao real, o impacto nos preços dos adubos pode ser maior. “Mas para as culturas que são indexadas em dólar, preço de venda, essa desvalorização acaba sendo positiva no final do dia porque ele também tem uma receita em dólar”, argumentou.
Entre os motivos para a alta no preço do fósforo está a menor exportação chinesa. “Existiu uma falsa esperança de que a China traria mais produtos e a China, ao longo dos últimos anos, vem reduzindo suas exportações, claramente trabalhando numa política interna para reter seus recursos localmente e também revendo a sua matriz de abastecimento para outros segmentos”.
Monteiro diz que o Brasil chegou a ter esse ano “o menor preço do mundo para o fósforo, mas agora já está em linha com os mercados internacionais”.
A expectativa é que a tendência de alta para os preços dos fosfatados siga fortalecida, segundo ele, “podendo se perpetuar por mais alguns meses”.
O executivo diz que a Mosaic trabalha com um cenário de manutenção da mesma área plantada com soja em 2024/2025.
Perguntado sobre como a indústria espera recuperar esse atraso na importação, Monteiro disse que “o setor a cada ano se supera” e que a prova disso foi como lidou com a pane no início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
“Faltar não falta, mas não vai chegar no período em que o agricultor tinha expectativa para algumas regiões e para aqueles que compraram tardiamente”, disse ele. Neste cenário, o executivo recomenda mais cuidado na escolha dos fornecedores, para reduzir o risco de não receber o produto a tempo, afinal, “conflitos geopolíticos estão acontecendo ao redor do mundo”.
Monteiro afirma que a Mosaic tem “o abastecimento mais seguro do Brasil”, já que tem fósforo e cloreto de potássio produzidos no País.
Fertilizantes para o milho
No caso das vendas de adubos para a segunda safra de milho, que é a maior do Brasil, Monteiro avalia que 15% do que se espera comercializar já foi negociado.
“Nesse mesmo período do ano passado, tinha rodado 20% ou mais. E safrinha tem uma janela de plantio e de entrega bem menor”, ressaltou.
O executivo da Mosaic diz que a recomendação ao agricultor é para que siga fazendo gestão de risco, olhando para as relações de troca, “porque elas não estão ruins ainda”.
“Daqui a pouco a fila do porto aqui pode estar estourando 60, 90 dias e nessa safrinha a gente chegou a ter anos aqui em Santos que a fila bateu 100 dias, mais de 100 dias. Então essa concentração é algo que nos preocupa bastante”, afirmou.
Enquanto na soja e no milho, a indústria não espera grandes avanços nas vendas, a expectativa é de melhora para outras culturas, segundo Monteiro. “Temos algodão, cana, laranja, café, todas estão indo muito bem”.
Ele prevê que as entregas de fertilizantes em 2024, considerando todas as culturas, fiquem no mesmo nível do ano passado ou cresçam entre 2% e 3%.
“Soja e milho estão em uma condição normal de pressão e temperatura, não é aquela condição extraordinária que se via 2, 3 anos atrás quando os preços estavam lá em cima, mas é uma condição recorrente, é o novo normal”, disse o country manager.
Monteiro lembrou que, neste cenário, mais do que nunca, é importante olhar o custo de produção e decidir bem o momento de comercializar os grãos e comprar os insumos, além de fazer o manejo adequado porque “qualquer ineficiência pode dar problema”.
Para as indústrias, o executivo diz que o cenário de atraso nas entregas pode variar. Lembrou que a Mosaic, por exemplo, tem terminal próprio em Paranaguá e um direito de atracação exclusivo em Santos. “Então não temos o gargalo logístico, mas não são todas as empresas de fertilizantes que têm essa situação e acabam se sujeitando a filas dos terminais públicos”, acrescentou.