O agro tomou conta do noticiário nacional no último final de semana. O motivo não é positivo: uma série de incêndios tomou conta de diversas áreas produtivas do interior de São Paulo, região conhecida pelo cultivo da cana-de-açúcar.

As imagens das chamas e das fumaças não se restringiram ao oeste paulista, e até na capital houveram relatos de fuligens e céus escuros nos últimos dias.

Segundo estimativas da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), foram 59 mil hectares queimados em áreas de cana e rebrota, com 1,8 mil focos de incêndio na sexta e outros 305 no sábado.

Em pronunciamento na manhã desta segunda-feira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que não há mais focos de incêndio ativos. Autoridades estaduais e federais suspeitam que os incêndios foram criminosos. Além de inquéritos já abertos, três pessoas já foram presas.

O governo não divulgou mais informações sobre as operações. O estado estima que cerca de 25 cidades enfrentaram focos de incêndio no final de semana.

O governador instaurou, no sábado, uma situação de emergência em 45 municípios da região de Ribeirão Preto, e no domingo (25), anunciou um pacote de R$ 10 milhões para ajudar produtores afetados no estado.

O prejuízo estimado pela Orplana até agora é de R$ 350 milhões. A organização possui 33 associações de fornecedores de cana e representa mais de 12 mil produtores em sua base. A Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), pontuou que as cidades com mais risco de novos incêndios são Ituverava, Barretos, Severínia, Viradouro, Cravinhos e Descalvado.

A entidade pontuou, em nota, que os incêndios podem trazer multas que variam de R$ 1 mil até R$ 7 mil por hectare, a depender do tipo de vegetação queimada.

“Repudiamos veementemente os incêndios criminosos que vêm atingindo propriedades rurais na região de Ribeirão Preto. A organização e seus associados seguem rigorosamente as diretrizes do Protocolo Agroambiental como o Etanol Mais Verde, que proíbe o uso de fogo na colheita de cana no Estado de São Paulo”, afirmou a Orplana em nota enviada ao AgFeed.

A organização ainda pontuou que os produtores de cana-de-açúcar e as usinas não são os responsáveis pelos incêndios, e que trabalharam para afastar o fogo de suas produções.

“A Orplana enfatiza que as queimadas prejudicam o meio ambiente, a segurança das pessoas e também a rentabilidade dos produtores rurais. Diante da baixa umidade do ar, falta de chuvas e temperaturas elevadas, toda a cadeia de produção da cana está mobilizada contra os incêndios e comprometida com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente”, acrescentou a instituição.

Em paralelo, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) informou que suas associadas colocaram à disposição do governo estadual toda estrutura de combate ao fogo das usinas.

São mais de 1,5 mil caminhões-pipa e cerca de 10 mil brigadistas do setor sucroenergético atuando nesse esforço conjunto sob coordenação do governo estadual, segundo a entidade.

Procurados, grandes players do setor disseram ao AgFeed que ainda apuram os efeitos em suas plantas e canaviais. A São Martinho informou que deve se posicionar nesta segunda (26), em uma nota enviada assim que o mercado fechar.

Já a Raízen informou que na sexta-feira, paralisou temporariamente parte de suas operações no Bioparque Santa Elisa. Sem feridos, a empresa teve que tomar a decisão após um incêndio atingir uma plantação próxima da planta.

As chamas foram controladas, e atingiram parte do estoque de biomassa da unidade, equipamentos da companhia que estavam na área de plantação e APP (Área de Preservação Permanente).

Há cerca de um mês, a Raízen informou que investiu R$ 165 milhões em uma campanha de conscientização, prevenção e combate a incêndios em canaviais na safra até julho. O valor é recorde, e mostra um avanço ante os R$ 153 milhões do ano passado.

Açúcar volta a subir com incertezas

Na semana passada, o AgFeed noticiou que o preço do açúcar no mercado internacional e nacional estavam em uma trajetória de baixa devido a uma safra brasileira de cana com alta produtividade.

Em um levantamento divulgado antes dos incêndios, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima a previsão para a safra brasileira de cana de açúcar, indicando que o volume ficaria abaixo do ano passado, mas ainda assim será a segunda maior produção da história.

A projeção é de uma safra de 689,8 milhões de toneladas. Na temporada anterior, foram 713,2 milhões de toneladas. O cenário de uma safra recorde, seguido de uma moagem que possivelmente será quase tão boa, estava pressionando o preço do açúcar no mercado há algum tempo.

Segundo dados do Cepea/Esalq, o preço da saca de 50kg teve uma desvalorização de quase 20% nos últimos 12 meses. O movimento também foi visto lá fora, na na bolsa de Nova York, que é referência para o mercado mundial, o contrato mais negociado atingiu  o menor patamar desde outubro de 2022 na semana passada.

Hoje, o cenário mudou. Nesta tarde, os contratos da bolsa americana apontavam uma valorização de mais de 7% na saca, que era negociada por 19,12 centavos de dólar durante a tarde.

Dados do Food Outlook, pesquisa feita pela FAO, da ONU, mostram que a produção de açúcar no Brasil deverá aumentar para 43,8 milhões de toneladas neste ano, representando um aumento de 1,4% em relação ao nível de 2022/23.

 

Com reportagem de Sabrina Nascimento e Marcelo Moura