Piracicaba (SP) - Os recentes episódios de recuperação judicial no agro, em especial o do grupo AgroGalaxy, não indicam que o setor vive uma hecatombe generalizada, na avaliação de Octaciano Neto, especialista de mercado de capitais e ex-diretor de agronegócio do grupo Suno.
"Não existe crise estrutural no agronegócio. Existem problemas pontuais em algumas regiões do Brasil, em algumas culturas", afirmou ele em um painel do primeiro dia da 10ª edição do Agtech Meeting, evento tradicionalmente promovido pela PwC em Piracicaba (SP), onde está o hub de inovação para o agro da empresa.
"A mídia não especializada começa a pegar casos isolados de recuperação judiciais como se fosse a realidade brasileira”, disse ele.
“Temos 250 RJs. Se dividirmos por 450 mil produtores (o universo de produtores relevantes em termos de mercado) não é nada, é pouco representativo", emendou.
Octaciano Neto, que também jpa foi secretário de Agricultura do Espírito Santo, avalia que a curva de crescimento de captação dos mecanismos financeiros do agro, como CRAs, Fiagros e LCAs, deve arrefecer, mas não cair.
"Talvez nos próximos meses, não. Mas no início do ano que vem, acho que volta a crescer no mesmo ritmo", disse, em entrevista à reportagem do AgFeed, após sua fala ao público.
Segundo o especialista, os instrumentos de captação junto ao mercado de capitais vinham crescendo de forma acelerada. Agora, ele acredita que os valores nominais devem permanecer em ascenção, com redução, entretanto, nos indicadores de crescimento.
“Nós saímos de zero investidores há três anos no Fiagro e estamos batendo 600 mil", apontou, para comprovar a evolução do setor.
Ao AgFeed, ele detalhou que essa realidade é fruto de um momento de maturação do mercado financeiro que, em sua avaliação, ainda tem dificuldades de entender as oscilações do agronegócio.
"O mundo mudou. Antes, o financiamento era só público e agora passa a ser privado”, lembrou. “Então, qualquer impacto que a gente tem com esse mundo de conexões se espalha muito rápido e dá a impressão que a gente está vendo uma crise muito maior do que existe", disse.
"A turma está aprendendo a financiar o agro agora", reforça Octaciano. Ele lembra também que o agronegócio é muito diverso e que cada cultura tem uma realidade diferente, algo que, na sua avaliação, ainda não é bem percebido nas casas do mercado financeiro.
"A Faria Lima reverbera (essas RJs) como se o agro fosse somente a soja no Mato Grosso. Mas o Brasil é muito mais que a soja no Mato Grosso. Tem setores que estão bombando, como o café, que está dando 70% de Ebtida", afirmou.
Esse aprendizado, segundo ele, também deve vir do produtor rural, que precisa melhorar o padrão de governança. "E eu falo de governança nas coisas mais básicas, como não misturar dinheiro da fazenda e comprar carro para o filho para pagar menos imposto".
O repórter viajou a convite da PwC.