Na teoria econômica, existe uma regra muito clara. O preço cobrado importa menos que a margem de lucro em uma operação comercial. Claro que isso vale também para o agronegócio.

Uma das grandes preocupações expressas por produtores rurais nesta primeira metade de safra 2023/2024 é exatamente com a margem. Nas últimas semanas, o tema clima se sobrepôs, mas no final da colheita tudo tem a ver com o dinheiro no bolso.

Para o período 2024/2025, a perspectiva é de que as margens dos produtores comecem a se recompor. Este é o cenário traçado por Anderson Galvão, CEO e fundador da Céleres Consult, que atua como analista de agronegócio há quase 30 anos.

“Acredito que a safra 2023/2024 é uma espécie de ‘quebra-mola’ na estrada de crescimento do agronegócio brasileiro. Serve para ajustar a velocidade, arrumar a casa. E a partir de 2024/2025, vamos voltar a ver uma trajetória ascendente”, diz Galvão.

Durante o Fórum Getap Inverno, realizado nesta terça-feira, dia 28, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, Galvão, que é curador do prêmio distribuído a agricultores de milho com as melhores produtividades da safra anterior, afirmou que espera inclusive um aumento de área plantada mais intenso do que o visto em 2023/2024.

“Ainda não temos uma projeção em números. A área tem um crescimento inercial entre 1 milhão e 1,5 milhão de hectares e devemos ver uma retomada mais intensa”.

“O produtor rural não pode olhar para o cenário como uma foto. O agronegócio é um filme. Se nesta safra, as cotações dos grãos baixaram, os insumos também tiveram queda nos preços. Estes insumos devem continuar baratos para 2024/2025 e as cotações já mostram sinais de recuperação”.

O indicador Esalq/B3 para o milho, por exemplo, mostra que a saca de 60 quilos atualmente está acima dos R$ 61, enquanto que no começo de junho, a cotação estava abaixo dos R$ 54 por saca.

No caso específico do milho, Galvão aponta a demanda global crescente por etanol como um fator decisivo para o preço nos próximos anos.

Segundo projeção da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), divulgada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a produção deve atingir 6 bilhões de litros na safra 2023/2024, crescimento de 36%. Confirmada a produção, o volume terá sido multiplicado por nove em cinco anos.

Além do etanol, Galvão atribui esse aumento de preço recente à “irregularidade climática”, que resulta em produção menor que a expectativa inicial. “A demanda é constante e crescente. A grande variável do preço é realmente a oferta”, explica.

A margem sustentável

Outro ponto muito abordado durante o Fórum Getap foi a relação entre práticas sustentáveis e margem de lucro no agronegócio.

Augusto Teixeira, diretor do Instituto Brasileiro de Agricultura Sustentável, afirma que o caminho mais correto para a maior disseminação da agricultura regenerativa é a integração entre agricultura, pecuária e florestas (ILPF).

“Nós temos clientes que somam 300 mil hectares de terras. E, na prática, conseguimos ver como cuidar bem do solo com bioinsumos aumenta a produtividade e diminui os gastos com defensivos e fertilizantes, elevando a margem do produtor”, afirma.

Teixeira afirma que, em alguns casos, a produção de grãos aumenta em até 20% com a adoção de sistemas integrados e dobra a possibilidade de produção de carne por área, em alguns casos.

Hoje, as estimativas são de que uma área total de 17 milhões de hectares adote esse sistema integrado.

“O Brasil é o país que mais adota esse tipo de prática e precisamos mostrar isso ao mundo. Mas ao mesmo tempo, ainda há muito o que melhorar. São 100 milhões de hectares de pastos degradados que devem ser melhor aproveitados”, diz Teixeira.

No prêmio aos produtores de milho inverno, destaque para Adalberto Ceretta, de Campos de Júlio, no Mato Grosso, que conseguiu produzir 237,6 sacas por hectare no sistema sequeiro, ou seja, sem irrigação.

No irrigado, o vencedor do prêmio oferecido pela Getap foi João Cornélio Michels, de Buritis, Minas Gerais, com produção de 214,6 sacas por hectare.

O prêmio contou com 210 produtores inscritos, dos quais 129 foram auditados. Eles atuam em nove estados que representam cerca de 90% da área plantada de milho inverno do país.