O primeiro levantamento oficial da Conab para a safra 2024/25 indica uma temporada recorde em produção e área cultivada.
Em documento divulgado nesta terça-feira, 15 de outubro, o órgão anunciou a perspectiva de um avanço de 8,3% da produção na safra iniciada em junho, chegando a 322,47 milhões de toneladas de grãos como soja, milho, algodão, feijão e arroz.
Os números praticamente repetem a perspectiva anunciada há cerca de um mês pela estatal, em entrevista que marcou o início das previsões para a nova safra.
Se confirmado, o resultado representa acréscimo de 24,5 milhões de toneladas na comparação com o ciclo anterior. Para a área a ser semeada, o órgão prevê um crescimento de 1,9% sobre a safra anterior, saindo de 79,8 milhões de hectares para 81,3 milhões de hectares.
Contudo, o momento da divulgação da Conab vai de encontro com as perspectivas de plantio no País divulgadas por algumas consultorias especializadas.
Segundo um relatório da semana passada do Pátria Agronegócios, o plantio da soja brasileira avançou na última semana, atingindo 9,3% da área concluída, mas ainda de forma modesta.
A questão é que em 2023, o montante plantado chegava a 17,40% e em 2022 era de 22,60%. A média dos últimos cinco anos apontava 17,5% de área plantada para esse período, o que mostra que o ritmo da safra 2024/2025 está bem lento.
“O avanço do plantio segue concentrado no Centro-Sul brasileiro, com destaque para o Paraná. No Centro-Oeste, o plantio caminha lentamente, aguardando melhores chuvas que são projetadas para a próxima semana”, pontuou o Pátria Agronegócios.
Outra consultoria, a AgRural, afirmou que, até a última quinta-feira, 10 de outubro, apenas 8% da área prevista para ser ocupada pela oleaginosa havia sido plantada. Nesse mesmo momento no ano passado, o índice estava em 17%.
Já de acordo com a Safras & Mercado, o plantio da soja esperado até o dia 11 seria de 8,2% da área total. Na semana passada, entretanto, o realizado efetivamente era metade disso, 4,1%. “A semeadura está atrasada em relação a igual período do ano passado, quando o número era de 15,8%. A média dos últimos cinco anos é de 11,3%”, anotou a consultoria.
Mesmo a Conab, que prevê um aumento de 2,8% na área de soja na safra e uma produção de 166 milhões de toneladas, ponderou, no documento divulgado nesta terça-feira, que o atraso no início das chuvas no Centro-Oeste vem atrapalhando os trabalhos de preparo de solo e plantio, que segundo o órgão, atingiu 5,1% na primeira semana de outubro.
No milho, a estatal estimou a produção total do Brasil em 119,7 milhões de toneladas, crescimento de 3,5% frente ao ciclo anterior. A área plantada com o cereal, somando as três safras, foi prevista em 21 milhões de hectares, estável frente à temporada passada.
A perspectiva, entretanto, é que esse atraso na soja atrapalhe o cultivo do milho de segunda safra. Marcos Araújo, sócio-diretor da Agrinvest, pontuou em entrevista dada ao AgFeed na última semana que, mesmo diante de um cenário mais favorável para o milho em termos de preço no ano que vem, o atraso do plantio da oleaginosa poderia comprometer a janela ideal do cereal na safrinha
“É um dos anos mais difíceis para falarmos de direcional de mercado para o Brasil. Com o comprometimento da janela ideal de plantio do milho safrinha, vejo uma possível migração das áreas marginais para o gergelim”, afirmou.
Matheus Pereira, analista e sócio do Pátria Agronegócios, afirmou ao AgFeed que o relatório não trouxe nenhuma grande surpresa ao mercado. Pela metodologia da Conab, mudanças em áreas plantadas na segunda safra geralmente acontecem entre janeiro e fevereiro.
“Comparando com a safra 2023/2024, também houve atrasos nessa época, mas não tão agressivos, principalmente no Mato Grosso, que vive o maior atraso ,de plantio da história do estado. São atrasos vertiginosos, que preocupam a segunda safra”, afirmou Pereira.
Ele explica que, em média, o ciclo da soja dura de 115 a 118 dias no País, fazendo com que a oleaginosa semeada agora se estenda para uma colheita na segunda metade de fevereiro.
Somado a isso, a janela ideal de semeadura do milho safrinha se encerra entre 15 e 20 de fevereiro. Já as sojas precoces, de ciclos de 95 dias, podem trazer a janela ideal para o milho. Historicamente, ele afirma que os primeiros milhos são semeados no ano novo e que, em fevereiro, atinge mais da metade da área nacional.
“É cedo pra Conab trazer alguma redução de área na segunda safra, pois algo semelhante acontecia nesse mesmo período do ano passado e o órgão só fez essa projeção de redução quando começou a semeadura da safrinha”, disse.
O Pátria Agronegócios projeta uma redução na área plantada de milho segunda safra de 1,5% a 2% frente à temporada anterior.
“A temporada 2023/24 foi a primeira desde 2017 a ter encolhimento na área de milho segunda safra. Podemos viver dois anos consecutivos de diminuição de área, o que causa uma preocupação na oferta de milho no País”, afirmou Matheus Pereira.
A Conab já havia sinalizado a expectativa de uma safra recorde há um mês atrás. Em uma estimativa prévia ao primeiro levantamento divulgado nesta terça, a companhia estimava uma produção de 326,9 milhões de toneladas de grãos e 46,1 milhões de toneladas de proteína animal, contando as produções de aves, bovinos e suínos.
Somado a isso, esperava um aumento da área cultivada em todas as culturas. Na época, o superintendente de gestão da oferta da Conab, Wellington Teixeira, afirmou que, se o clima for dentro da normalidade projetada pela instituição, a produtividade total do Brasil poderia subir cerca de 6% na safra, numa média de 4 toneladas por hectare.
"Será uma safra cheia, robusta e capaz de assegurar abastecimento interno e continuidade das exportações", afirmou Teixeira.