Presidente Prudente (SP) - Depois de um hiato de 10 anos, a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte), um dos principais eventos do setor no País no passado, está de volta.
Até o fim desta semana, no interior paulista, participam da feira mais de 500 animais das raças Wagyu, Nelore, Guzerá, Caracu, Brahman, Senepol, Angus, Simental, Brangus e Santa Gertrudis, pelo Recinto de Exposições Jacob Tosello, localizado em Presidente Prudente, cidade do interior paulista.
A abertura do evento, nesta terça-feira, 19 de novembro, reuniu autoridades como o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, e o secretário da Agricultura paulista, Guilherme Piai, que viajaram até Presidente Prudente.
A preferência pelo interior do estado é uma novidade em relação às edições anteriores, que eram realizadas na capital paulista, no antigo Centro de Exposições Imigrantes, atual São Paulo Expo.
Uma série de anúncios foram feitos ao longo da abertura por Tarcísio e Piai - antecedidos por uma propaganda exibida antes, que dizia que o agronegócio de São Paulo está "à frente de todos".
A principal iniciativa anunciada foi o lançamento de um sistema voluntário de rastreabilidade individual de bovinos e bubalinos, o Sirbov-SP.
A ferramenta vai garantir melhor controle sanitário dos animais, trazendo dados de ganho de peso, crescimento, alimentação e produção na pecuária paulista.
O rebanho bovino de São Paulo é de 11 milhões de cabeças. A intenção do governo é rastrear todos os animais. "Em pouco tempo a gente vai estar com 100% do rebanho do estado de São Paulo rastreado", afirmou Piai a jornalistas, sem indicar, no entanto, se há um cronograma para isso acontecer.
Seguindo o exemplo de ferramentas semelhantes adotadas por estados como o Pará - onde o rastreamento será obrigatório até 2026 - e Santa Catarina, a ideia é que os pecuaristas interessados possam fazer o monitoramento individual de cada animal.
"O sistema de identificação e rastreabilidade bovina e bubalina aqui no estado de São Paulo é fundamental para a gente acompanhar a vida desde o início, para a gente garantir a segurança do alimento, mas, sobretudo, para a gente garantir novos mercados. O mercado é cada vez mais exigente e cobra cada vez mais de nós", afirmou o governador Tarcísio em discurso durante o evento.
Adotando a ferramenta, que não é obrigatória, a pecuária paulista poderá atender às exigências da lei antidesmatamento da União Europeia, que acaba de ser adiada para entrada em vigor apenas ao fim do ano que vem. A legislação europeia prevê o rastreio de cada animal durante o seu ciclo de vida.
"Os mercados internacionais estão colocando posições cada vez mais severas, principalmente a União Europeia e, agora também a China está olhando para o quesito rastreabilidade. Não podíamos esperar mais. A gente tirou do papel esse projeto de uma forma que o produtor vai ter a liberdade de começar escolhendo se vai rastrear ou não", afirmou Guilherme Piai em entrevista a jornalistas.
A ideia do governo é colocar esse sistema em prática já no começo do ano que vem, com a publicação de portarias sobre o tema, adiantou Luiz Henrique Barrochelo, coordenador da Defesa Agropecuária de São Paulo, em entrevista ao AgFeed.
A identificação será composta, segundo Barrochelo, com o número do animal, código de barras e um botton eletrônico. Esses equipamentos poderão ser adquiridos pelos pecuaristas em lojas agropecuárias. "O pecuarista compra o conjunto, brinco e boton, identifica o animal dele e lança no sistema os dados", afirma.
Hoje, os animais em São Paulo já recebem a identificação de que foram vacinados contra brucelose. De acordo com Barrochelo, além de qualificar a produção, a inserção do sistema de rastreabilidade também representará uma economia para os produtores.
"Quando identifico os animais individualmente e vou vacinar, não preciso botar outro marco no animal. Ele já tem um número. Eu vou poder usar esse número e dizer: 'a bezerra já está vacinada, porque ela já tem brinco", afirma Barrochelo.
O governo também anunciou que deve encaminhar à Assembleia Legislativa de São Paulo, até o fim desta semana, um projeto de lei criando o Fundo de Defesa Estadual da Sanidade Animal.
A iniciativa, já existente em outros estados, prevê o ressarcimento de pecuaristas em caso de novos focos de febre aftosa. Em maio, uma portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária reconheceu o estado de São Paulo como livre da aftosa sem vacinação.
"É o fundo que vai proteger os nossos produtores da situação da febre aftosa. Ou seja, um fundo indenizatório, compensatório, voluntário, que vai ajudar aquele produtor quando ele tiver algum problema dessa natureza", disse Tarcísio.
Para financiar esse fundo, que atende a uma demanda da Federação de Agricultura de São Paulo, a ideia é que cada produtor pague um valor por cada cabeça de gado declarada.
Em maio, durante a Agrishow, Luiz Henrique Barrochelo disse que o custo seria de 0,0028 UFESPs (unidade fiscal do estado de São Paulo), que corresponde a R$ 0,99 por cada animal declarado.
Desta vez, o secretário Piai não detalhou qual será o valor por cada animal, mas salientou que está "muito atrativo". "Ficou bem mais baixo do que só o custo variável da vacina", disse ele.
O governo também anunciou a entrega de 502 títulos de regularização fundiária no Pontal do Paranapanema, região de Presidente Prudente.
“O Pontal do passado, do pedágio, do presídio [de Presidente Venceslau, cidade da região], virou o Pontal da prosperidade. Nossa região está sendo transformada pela regularização fundiária, com muito orgulho”, disse Guilherme Piai.
A meta do governo paulista é chegar a 600 mil hectares regularizados, segundo disse o secretário Guilherme Piai durante o evento.
Também houve a assinatura de um protocolo de intenções entre a Fundação Florestal, órgão ambiental do governo paulista, e Itesp – Fundação Instituto de Terras, de regularização fundiária, para criação e ampliação de unidades de preservação florestal.
O jornalista viajou a convite da organização da Feicorte.