Foz do Iguaçu (PR) - O cenário preocupante que atinge a produção de soja no Brasil deve continuar pelo menos por mais dois ou três anos, segundo um alerta feito nesta sexta-feira, 24 de maio, pelo CEO da Agroconsult, André Pessoa, para uma plateia de 300 produtores de sementes.
O consultor fez a primeira palestra do dia na programação do Enssoja, Encontro Nacional de Produtores de Sementes de Soja, promovido em Foz do Iguaçú, no Paraná, pela entidade nacional que representa o setor, a ABRASS.
André Pessoa avaliou os resultados safra 2023/2024, estimada agora em 154,5 milhões de toneladas pela Agroconsult, considerando perdas nas lavouras do Rio Grande do Sul.
Há dois meses a consultoria projetava um volume acima de 156 milhões de toneladas, mas fez um corte na previsão, à medida que indica perdas de no mínimo 2 milhões de toneladas na produção gaúcha.
“Ainda falta colher o equivalente a 1,5 milhão de toneladas, uma colheita que está sendo feita com dificuldade. E ainda não dá para saber quanto foi perdido nos armazéns do Rio Grande do Sul”, ponderou Pessoa.
Neste cenário, ele acredita que as perdas ainda possam evoluir para 2,5 milhões de toneladas. “Ainda assim é uma safra gaúcha bem melhor do que nos últimos dois anos”.
Em relação à safra brasileira, o consultor lembrou que foi uma das temporadas mais difíceis para fazer estimativas, o que gerou divergências sobre qual seria o tamanho da quebra e a real extensão de área plantada.
Segundo ele, a Câmara Setorial da Soja reuniu consultorias privadas e representantes da Conab para discutir as diferenças nas projeções, onde cada um apresentou suas metodologias.
Antes disso, a Agroconsult havia reportado uma área plantada de soja com 1,2 milhão de hectares a mais que a Conab, em função do uso, por exemplo, de tecnologias por satélites.
“Essa reunião foi importante, vimos que a Conab já revisou para cima sua projeção de safra, e agora a diferença em relação ao nosso levantamento caiu para 700 mil hectares”, disse Pessoa.
Projeções para 2024/2025
A consultoria prevê uma área plantada de 46,2 milhões de hectares de soja em 2024/2025, o que representa uma queda de 0,4% (500 mil hectares) em relação ao ano anterior. A produção foi estimada em 171,3 milhões de toneladas, alta de 11% na comparação com o ciclo 2023/2024.
Entre os motivos para a redução de área está o alta alavancagem dos produtores, que tem recorrido a recuperações judiciais e renegociação de dívidas, “carregando financiamentos a pagar para a próxima safra”.
André Pessoa disse que a margem ebitda na soja “está próxima de zero, e será um longo processo, pode demorar 2 a 3 anos para que haja mudança significativa”.
O consultor considera que neste momento o produtor muito provavelmente está contando com a melhor relação de troca do ano, já que os prêmios ficaram positivos dois meses antes do previsto e a taxa de câmbio tem sido mais favorável.
Ele relata melhora de R$ 15 por saca no preço da soja nas últimas semanas, o que fez acelerar a comercialização da safra e a compra de insumos nos últimos 15 dias.
Porém, como o clima tem favorecido a safra norte-americana, não previsão de novas altas no preço. Para a safra 2024/2025, a consultoria considera um preço médio na Bolsa de Chicago de US$ 11,40 por bushel.
A margem ebitda histórica no setor, segundo o analista, é de 15% e 20% e deverá permanecer abaixo disso, no curto prazo. Recentemente, segundo Pessoa, chegou a picos de 40%, mas ficou zerada na safra 2023/2024 e deve permanecer abaixo xde 10% em 2024/2025.
Ele prevê uma rentabilidade média de 20 sacas por hectare, mas nesta conta não está o arrendamento, que em alguns casos chega a 15 sacas por hectare.
O cenário preocupante não leva em conta apenas a produção brasileira, mas os dados de oferta e demanda globais no mercado da soja. Enquanto a produção mundial chegou a 400 milhões de toneladas, o consumo atingiu um volume recorde, de 382 milhões de toneladas.
Para a próxima safra é possível que esse consumo siga aumentando e alcance 398 milhões de toneladas. Mas a produção tem chance de atingir 430,7 milhões de toneladas.
Apesar de prever um período difícil por até 3 anos, André Pessoa finalizou dizendo que, no longo prazo, para os próximos 10 anos, poderá haver uma nova onda de crescimento expressivo para a agricultura brasileira, em função a transição energética, com mais demanda por grãos na produção de biocombustíveis.