ESTEIO (RS) - Foi um longo de dia de conversas, negociações e expectativas entre os estandes e pavilhões da Expointer, maior feira agroindustrial do Sul do País, em Esteio, na Grande Porto Alegre.

E que terminou apenas com uma boa notícia para boa parte do setor rural gaúcho. No final da tarde desta quarta-feira, 31 de agosto, o ministro da Agricultura e da Pecuária, Carlos Fávaro, confirmou que o governo federal vai disponibilizar uma linha de crédito emergencial para socorrer produtores gaúchos que tiveram severas quebras nas últimas duas safras -- e cujas dívidas comprometiam até mesmo a saúde financeira de cooperativas agropecuárias do Estado.

Fávaro informou que os recursos disponíveis serão superiores a R$ 3,5 bilhões. “Posso lhe adiantar que será mais que isso, será o necessário”, afirmou ao AgFeed. De acordo com o ministro, esses valores devem ser liberados em “no máximo em 15 dias”.

Em público, durante uma cerimônia para assinatura de convênios, Fávaro havia informado que só daria detalhes do plano na quinta-feira, quando manterá sua agenda na Expointer. No entanto, minutos depois, já adiantava alguns pontos ao ser questionado pelo AgFeed.

Além de antecipar o valor, ele informou que as taxas de juros devem ficar entre “7,5% a 8% ao ano em dólar, ou taxas em reais e também com a opção em dólar mais o swap”. “Temos várias conjunturas para deixar confortáveis as cooperativas tomadoras, de acordo com a atividade econômica do produtor”.

Os créditos poderão ser acessados via BNDES, através dos bancos conveniados. Uma condicionante para esse acesso, segundo Fávaro, será a adesão a um programa de conservação de solo, uma das bandeiras da atual gestão do Mapa. A inclusão do programa havia sido uma sugestão das próprias cooperativas.

A severa estiagem verificada no Estado, sobretudo no período da safra de verão 2022/23 comprometeu, no entanto, a capacidade dos produtores de honrarem esse pagamento. Segundo presidentes de cooperativas que falaram com o AgFeed, para alguns produtores, a quebra na safra de soja chegou a 50% nesta última temporada.

Foram as próprias cooperativas que levaram o pleito a Fávaro, já há algumas semanas, e conduziram boa parte das reuniões com representantes do governo e do BNDES durante o dia. Elas tentam renegociar uma dívida estimada em R$ 3,9 bilhões pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro-RS).

A entidade calcula que cerca de 30% dos financiamentos do Estado passam pela mão das cooperativas. Por isso, as 27 cooperativas gaúchas pediam ao governo uma linha que permitisse dar mais prazo para pagamento e garantindo capital de giro para manter as operações nas próximas safras.

Pela manhã, elas já haviam ouvido de Fávaro a promessa de que a ajuda viria, mas não havia um número que indicasse o volume de recursos.

“Viemos trazer boas notícias e anunciar recursos”, disse o ministro em um pronunciamento logo no início de sua agenda na feira. Fávaro reconheceu que as cooperativas detinham nas mãos a maior parte das dívidas dos produtores, por terem fornecido os insumos a eles com o compromisso do pagamento com o resultado das colheitas.

Os representantes das entidades fizeram questão de mostrar ao ministro que, diferentemente do que aconteceu há cerca de 20 anos, quando houve uma crise sistêmica no cooperativismo da região, desta vez elas estão saudáveis, mas seus associados, não.

Fávaro demonstrou ter ouvido a mensagem. “Elas não estão com problemas financeiros”, disse, referindo-se às cooperativas. “Mas vamos criar um programa para dar capital de giro”, afirmou. Ao final do dia, segundo disse ao AgFeed, cumpriu a promessa.