Sob efeito do momento positivo da safra de soja no país, que deve bater novo recorde nesta temporada 2024/2025, dos estoques cheios e das cotações em quedas, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revisou para baixo os preços médios das remessas de grão e óleo que são exportados pelo Brasil.

Em contrapartida, as projeções para o ano continuam as mesmas: a produção de soja deve alcançar 169,7 milhões de toneladas, enquanto o processamento segue projetado em 57,5 milhões de toneladas. As estimativas constam no levantamento mensal feito pela Abiove e divulgado nesta terça-feira, dia 10 de junho.

A estimativa de preço médio da soja exportada pelo Brasil passou de US$ 415/tonelada na estimativa anterior para US$ 405/tonelada agora. A projeção do preço do óleo de soja exportado também recuou, indo de US$ 1.050/tonelada na projeção do mês passado para US$ 1.015/tonelada agora.

“A gente acompanha a questão dos preços a partir de dois indicadores, daquilo que já foi exportado, pra gente ter um preço realizado, e o o preço futuro que é praticado na Bolsa de Chicago, considerando também um prêmio médio histórico”, afirma Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Abiove em entrevista ao AgFeed.

“Esses indicadores têm mostrado certa acomodação, os estoques internacionais estão voltando à normalidade e isso faz com que tenha uma pressão sobre os preços”.

Furlan Amaral diz que a queda nos preços também se reflete no comportamento do preço de óleo bruto degomado no mercado interno, que tem caído. Esse fator contribui, segundo o diretor da Abiove, para o que o governo federal possa mudar o nível de mistura de biodiesel ao diesel, subindo de 14%, percentual chamado no setor de B14, para 15%, o B15. “É o momento ideal para o B15”, sintetiza o diretor da Abiove.

O setor esperava que o Executivo fizesse a alteração em março, em linha com o que previa a lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo, no entanto, ficou preocupado com o impacto que a medida poderia trazer na inflação de alimentos, sob pressão no começo do ano, e não fez a alteração na data prevista.

A Abiove agora aguarda novas manifestações do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), do governo federal, que define a quantidade de mistura, e avalia que já há possibilidade de a mistura subir.

“Hoje a restrição não faz mais sentido, visto que o preço está caindo e já tem espaço para retomar a mistura”, afirma.

Ainda assim, com preços em queda, devem ser geradas menos divisas com as exportações no complexo soja. As estimativas da Abiove apontam que o valor deve atingir US$ 53,384 bilhões em 2025, número levemente inferior aos US$ 53,942 bilhões registrados no ano passado e bastante abaixo dos US$ 67,317 bilhões aferidos em 2023.

Apesar da queda de preços de soja e de óleo, as divisas do grão devem subir de US$ 42,942 bilhões no ano passado para US$ 43,821 bilhões neste ano, assim como a receita das exportações de óleo, passando de US$ 1,312 bilhão para US$ 1,421 bilhão em 2025.

O que está pesando na conta são as divisas vindas com as exportação de farelo, que devem recuar neste ano com a queda nos preços. O farelo fechou 2024 cotado a US$ 419/tonelada e, agora, está a US$ 345. Dessa forma, a receita deve recuar dos US$ 9,688 bilhões aferidos em 2024 para US$ 8,142 bilhões neste ano.

De qualquer forma, as perspectivas para o volume exportado não mudaram e são de alta em relação a 2024. Na prática, o país vai remeter mais produtos por preços mais baixos.

A Abiove continua projetando que o Brasil vai exportar neste ano 108,2 milhões de toneladas de soja em grão, 15,3 milhões a mais que no ano passado.

As remessas de farelo também aumentar, passando de 23,1 milhões de toneladas para 23,6 milhões, assim como as de óleo de soja, de 1,367 milhão no ano passado para 1,4 milhão de toneladas neste ano.

Os volumes produzidos, considerando tanto mercado interno como externo, também devem crescer. A produção de soja em grão deve passar de 154,3 milhões de toneladas em 2024 para 169,7 milhões neste ano, igual a um aumento de 15,7 milhões.

O processamento de soja também deve crescer, passando de 55,8 milhões de toneladas em 2024 para 57,5 milhões de toneladas neste ano. A projeção é a mesma divulgada no último levantamento, mas Furlan Amaral diz que o viés é de alta.

“Talvez até já pudéssemos ter alterado esse dado, março e abril já trouxeram um comportamento muito positivo no lado do esmagamento, com o aumento da oferta de farelo e óleo. Mas a gente preferiu ser um pouco mais conservador e aguardar o comportamento dos próximos meses por enquanto”, afirma.

A expectativa da Abiove é de aumento também de volume produzido de farelo, chegando a 44,1 milhões de toneladas, 1,4 milhão a mais que no ano passado, e 11,4 milhões de toneladas de óleo de soja, 108 mil a mais em relação a 2024.

Nos estoques, a situação também continua estável. A projeção é de atinjam 5,8 milhões de toneladas, ante 4,1 milhões registrados em 2024.

Resumo

  • A Abiove revisou para baixo a estimativa de preços médios da soja e do óleo exportados devido a maior oferta, estoques cheios e cotações em queda
  • O Brasil exportará mais soja, óleo e farelo em volume, mas por preços mais baixos, o que deve gerar US$ 53,384 bilhões em 2025, abaixo dos US$ 53,942 bilhões de 2024
  • Queda no preço do óleo de soja abre espaço para o governo elevar a mistura obrigatória de biodiesel no diesel de B14 para B15