A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima a previsão para a safra brasileira de cana de açúcar, indicando que o volume fica abaixo do ano passado mas ainda assim será a segunda maior produção da história.
O levantamento da Conab, divulgado nesta quinta-feira, indica que a safra 2024/25 de cana-de-açúcar no Brasil será de 689,8 milhões de toneladas se concretizar, só ficará atrás da temporada passada, quando o País colheu 713,2 milhões de toneladas.
O número ficou acima da estimativa de abril, que indicava 685,86 milhões de toneladas. Um total de 8,63 milhões de hectares foram destinados à cultura, o que representa um aumento de 3,5% frente ao ciclo passado.
A queda de 3,3% na produção de cana se deve, segundo a Conab, a um desempenho um pouco pior nas lavouras.
“Esperamos uma queda na produtividade de 6,6%, em 79,9 mil quilos por hectare. Os baixos índices pluviométricos aliados às altas temperaturas registradas na região Centro-Sul do país são os principais fatores que devem reduzir a produção em relação à safra passada”, pontuou a companhia, em nota.
No mix, a produção deve ficar 50/50 entre açúcar e etanol, e a expectativa é de 46 milhões de toneladas para o adoçante e 28,4 bilhões de litros para o biocombustível.
O cenário de uma safra recorde, seguido de uma moagem que possivelmente será quase tão boa, tem pressionado o preço do açúcar no mercado há algum tempo. Segundo dados do Cepea/Esalq, o preço da saca de 50kg teve uma desvalorização de quase 20% nos últimos 12 meses.
Há um ano, a saca estava cotada num patamar de R$ 156. No fechamento de quarta (21/8) estava cotada por R$ 130. O movimento também é visto lá fora, na na bolsa de Nova York, que é referência para o mercado mundial. O contrato mais negociado da commodity atingiu 17,52 centavos de dólar por libra-peso (cents/lbp) na terça-feira, o menor patamar desde outubro de 2022.
Segundo uma reportagem da Bloomberg, os contratos futuros já caíram cerca de 7% este mês, impulsionados justamente pelo forte ritmo de moagem de cana no Brasil. “Isso impulsionou a perspectiva de oferta, mas os participantes comerciais também ficaram cada vez mais preocupados com o impacto do tempo seco”, diz o texto do site.
Apesar da queda, o cenário no mercado internacional para o açúcar continua favorável e, segundo a Conab, a demanda pelo produto brasileiro continua aquecida.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), entre abril e julho deste ano a comercialização do adoçante no mercado internacional totalizou mais de 11,6 milhões de toneladas.
O volume é 27,1% superior ao volume embarcado no mesmo período da safra anterior.
O valor dessas exportações alcançou US$ 5,6 bilhões, alta de 24% em relação ao período de abril a julho de 2023.
“Para os próximos meses, a expectativa é que o cenário positivo de preços para os produtores se mantenha, uma vez que é projetada queda na produção na Ásia”, afirmou a Conab.
Empresas do setor também têm projetado safras doces para o cultivo. Em uma call com jornalistas realizada na última semana, o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, projetou entregar "mais um ano recorde", avaliando que a produtividade da empresa está melhor que a dos concorrentes.
A empresa também aumentou seu estoque para o adoçante no período, e encerrou o mês de junho com 1,6 milhão de toneladas de açúcar, avaliado em R$ 3,1 bilhões.
Essa perspectiva de safras maiores e subsequentes já era prevista por analistas há algum tempo.
Em uma entrevista ao AgFeed no início deste ano, o empresário Hugo Cagno, referência no setor, afirmou que nunca tinha visto um ano tão bom para a cana-de-açúcar como o de 2023.
"Choveu muito na hora certa, a produtividade aumentou uma barbaridade e nunca tivemos tanta cana na vida com um preço tão bom para o açúcar", disse Cagno em janeiro.
Nesta quinta-feira, o contrato do açúcar para outubro 24 da Bolsa de Nova York operava em leve alta, cotado a 17,82 cents/lbp.
Os números da Conab
Por região, o Sudeste deverá colher 442,8 milhões de toneladas, queda de 5,6% em comparação à safra 2023/24, com a maior redução, de 27,22 milhões de toneladas, observada em São Paulo.
No Centro-Oeste, a estimativa é de uma safra de 149,17 milhões de toneladas, alta de 2,8% quando comparada com o ciclo passado.
“A alta na produção é influenciada pela maior área destinada à cultura em virtude de novos arrendamentos próximos às unidades de produção”, afirmou a Conab.
No Nordeste a estimativa de produção de cana-de-açúcar é de 59,62 milhões de toneladas, crescimento de 5,6% em relação à obtida na safra anterior, enquanto que no Norte é esperada uma produção de 4 milhões de toneladas, alta de 2,6% quando comparada com 2023/2024.
No Sul, a região deve produzir 34,21 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma leve redução no volume obtido no ciclo anterior em razão da estimativa de menor produtividade e área.