Inteligência artificial e imagens de satélites combinadas vêm ajudando empresas e agentes financeiros a monitorar cada vez mais de perto os riscos de perda na produção. É o caso da ferramenta chamada “Rural.Uno”, desenvolvida pela startup A de Agro, que viu as vendas triplicarem em meio às incertezas quanto ao tamanho da quebra de safra do Brasil.

Com base nessa ferramento, a agtech mapeia as condições de lavouras em várias regiões do País, emitindo relatórios que servem como referência para se entender o real potencial das safras.

O AgFeed teve acesso ao mais recente desses relatórios. Ele traz notícias ainda preocupantes, porém em menor nível se comparado ao enviado aos clientes em dezembro.

Pelo diagnóstico, que se concentra nas principais regiões produtoras de Mato Grosso, ao todo 11 municípios do estado estão classificados como “risco muito alto” no sistema que calcula um índice de quebra de safra. No relatório anterior, eram 24 municípios nessa condição.

Se considerada a lista completa do estudo, incluindo municípios menos relevantes para a produção, o número de “risco muito alto” caiu de 71 para 34. Já aqueles considerados com risco muito baixo ou baixo, que eram 21, agora são 59.

“Quando montamos o primeiro índice de quebra desta safra, vimos um cenário muito catastrófico, uma quebra histórica para Mato Grosso, com pouca chuva, alta temperatura, temperatura do solo muito alta, todos os indicadores que poderiam estar ruins, realmente estavam”, lembrou Eduardo Souza, CPO, ou diretor de produtos, da A de Agro.

Souza ressaltou, no entanto, que o destaque da análise deste mês de janeiro é a constatação de que há dois padrões diferentes entre os produtores. O primeiro se refere ao grupo que fez o replantio da soja.

“Estes conseguiam recuperar a produção. E o mesmo ocorreu com quem atrasou o plantio”, afirmou o especialista.

Segundo ele, a maior parte dos produtores que fizeram o plantio “na janela correta” estão sob alto risco de quebra e podem ter perdas, no caso de Mato Grosso, de até 20%.

“Mas os outros podem reverter a tendência de quebra ou até mesmo ter produtividade superior ao esperado”, acrescentou.

As diferenças ocorrem porque não dependem apenas de uma condição climática mais favorável, mas também do estágio de desenvolvimento da cultura.

Os produtores que tiveram sucesso no replantio ou que atrasaram a janela, pelo diagnóstico atual, devem ter perdas de no máximo 5% no total a ser colhido em sacas por hectare.

Nesse grupo, chamado de padrão 1 pela empresa, espera-se uma produção levemente abaixo da média, mas ainda suficiente para cumprir compromissos e evitar uma quebra significativa na safra.

A startup também destaca em seu relatório o chamado padrão 2, onde a normalização das chuvas no período mais delicado para a soja mitigou a tendência de perdas significativas e, em alguns casos, até reverteu esta tendência em diversas cidades do Norte do Mato Grosso.

Souza destacou que deixaram a lista de alto risco municípios importantes para a soja em Mato Grosso como Diamantino, Nova Mutum e Sapezal.

Além destes também deixaram a condição mais crítica cidades como Porto dos Gaúchos, Feliz Natal, Brasnorte, Campo Novo dos Parecis, Primavera do Leste e Sorriso.

Segundo a startup, os algoritmos avaliaram que os municípios que respondem por 30% da produção de soja do Mato Grosso saíram do risco muito alto de quebra de safra.

A quantidade de soja recuperada nesses municípios, até agora, em virtude da regularização das chuvas, que favoreceram lavouras de soja mais tardias, é de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas, quase 10% da produção destas cidades, de acordo com o estudo.

A empresa ressalta, no entanto, que apesar de quase um terço da produção ter sido recuperada pela melhoria das condições climáticas, ainda persistem sob alto risco de quebra, cerca de 2,5 milhões de toneladas de soja no estado do Mato Grosso.

Há casos na lista da A de Agro que mostram um agravamento das condições da soja. “São José do Xingu, Comodoro e Novo Mundo, por exemplo, não estavam sendo tão afetadas pela irregularidade das chuvas, mas depois começou a ficar ruim e no enchimento de grão a soja não conseguiu se desenvolver”, conta Eduardo Souza. As cidades citadas por ele saíram da condição de risco alto para “muito alto”.

De qualquer forma, como a maior parte das cidades mais importantes para a produção de soja em Mato Grosso tiveram melhora, a expectativa é de que elas puxem para cima as estimativas para a safra do estado.

O diretor da A de Agro diz que, no começo, previam quebra de 15% para o estado como um todo, mas agora já acreditam em percentual menor.

No último levantamento da Conab, divulgado no início de janeiro, a previsão foi que Mato Grosso colha 40,2 milhões de toneladas na safra 2023/2024, queda de 12% em relação ao ano anterior.
Para o Brasil como um todo, Eduardo Souza diz que a previsão atual, por enquanto, é de uma redução de 5% em relação ao que foi produzido na safra passada – 155,2 milhões de toneladas, segundo a Conab.

Além de Mato Grosso, o mapa da startup mostra alguns problemas graves em Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, mas neste último bem pontuais e sem relação com déficit hídrico – ao contrário, já que houve excesso de chuvas.

A metodologia da A de Agro é baseada em inteligência artificial e usa imagens de satélite da empresa americana Planet, que oferecem melhor qualidade e frequência no monitoramento.

“Treinamos o modelo para identificar plantas saudáveis, com determinado índice de produtividade”, explica Souza. No caso do índice de quebra de safra também são cruzadas informações hídricas de 30 anos, correlacionando com produtividade ano a ano.

Perguntado sobre os questionamentos que devem receber sobre a acurácia de seu modelo, o CPO da empresa diz já “superaram essa fase” à medida que grandes bancos e companhias já são seus clientes e a demanda só cresce.

Ele diz que praticamente triplicou a venda no produto de monitoramento da produção. “Um banco que viu um produtor rural em recuperação judicial, por exemplo, tem buscando ampliar essa contratação, é no momento em que todos estão com medo que buscam mais ferramentas para se proteger”, afirmou.