O começo de um ano safra é de muitas definições para os produtores rurais. A principal delas é a decisão de qual cultura apostar e se o momento é de seguir ampliando área. As primeiras estimativas indicam cenário bem mais favorável para a soja e muitas dúvidas quanto ao milho, apesar do recorde de produção na safra que está terminando.
Durante evento do Rally da Safra sobre os resultados da segunda safra de milho em 2022/2023, a consultoria Agroconsult mostrou que a produção e a produtividade foram recordes. Mas segundo os especialistas, nas áreas em que o produtor escolhe entre milho e outras culturas durante o verão, é praticamente certo que haverá uma diminuição no plantio do milho.
“Para a safra de verão, já está cristalizada uma perda de área para o milho, com substituição principalmente pela soja, e pelo algodão em algumas regiões, como a Bahia”, afirma André Pessoa, presidente da Agroconsult.
A consultoria ainda não tem números projetados para a safra total de milho 2023/2024, mas em entrevista recente ao AgFeed, André Pessoa disse que a segunda safra, que é três vezes maior do que a safra de verão, ainda poderá ter crescimento, é cedo para saber. Se isso ocorrer, a safra total de milho ainda tem chance de avançar.
Já a Pátria Agronegócios, em estimativa divulgada esta semana, prevê que a safra total de milho fique em 124 milhões de toneladas, redução de 5,6%.
Enquanto isso, a consultoria Safras & Mercado até concorda que a produção total de milho pode cair levemente na próxima temporada, incluindo as três safras plantadas no Brasil, mas aposta em volume maior, de 137,4 milhões de toneladas, ante 139,4 milhões de toneladas colhidas na safra 2022/2023.
O resultado, na visão do analista Paulo Molinari, deve ser influenciado pela redução de área no verão, o que supera a influência de uma produtividade esperada um pouco maior já que o El Niño tende a causar menos preocupações na região Sul.
Um fator que será determinante nesta decisão de plantar ou não o milho é o patamar de preços. Segundo André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, a dinâmica do calendário de plantação do milho na safra 2022/2023 fez com que o período de colheita e comercialização se estendesse. “Em algumas áreas, a colheita vai se estender até setembro”, diz.
O problema é a queda da cotação do milho do começo da safra para cá. “Quem não antecipou a venda do produto, e fará a comercialização neste segundo semestre, deve fechar a safra sem lucro”, projeta Debastiani.
Nem mesmo a queda nos custos de produção deve ser atrativa para os produtores. “A cotação pode ficar abaixo desse custo. O que pode acontecer é o milho ter uma margem de contribuição na conta final do produtor, somando todas as despesas. Aí pode até ficar interessante”, diz Pessoa.
Soja deve avançar
Ao contrário do milho, no caso da soja, as três consultorias estão projetando um avanço de área plantada em 20223/2024.
A mudança deve ser no ritmo de expansão, que agora deve desacelerar, na opinião da Agroconsult, que ainda não divulgou números da soja para a próxima safra.
A consultoria Safras & Mercado projeta um aumento de 2,5% na área plantada de soja na safra 2023/2024. A produção total de soja foi estimada pela consultoria em 163,2 milhões de toneladas nesta safra, aumento de 4,5% ante o registrado em 2022/2023.
A produtividade da soja também deve aumentar, passando de 3.525 quilos por hectare na última safra para 3.597 quilos por hectare em 23/24, segundo a Safras & Mercado.
“Boa parte dos produtores ainda trabalha com margens mais apertadas e não querem avançar tanto para novas áreas. De qualquer forma, este novo crescimento da área brasileira deve permitir a colheita de uma safra superior a 160 milhões de toneladas de soja pela primeira vez na história", afirma Luiz Fernando Gutierrez Roque, consultor da Safras & Mercado.
Já a Pátria Agronegócios espera um avanço menor, de 0,48% na área de soja. Seria o menor crescimento desde o período 2006/2007.
“A desaceleração na expansão vem pela dificuldade na projeção de rentabilidade para o próximo ciclo e pelo sentimento generalizado da contenção de riscos”, diz Matheus Pereira, fundador da Pátria.
A consultoria prevê uma produção de 155,8 milhões de toneladas, aumento de 1,6% sobre 2022/2023.
Milho safrinha recorde
O levantamento feito pelo Rally da Safra mostra que foram produzidos 107,2 milhões de toneladas de milho na segunda safra do período 2022/2023, um aumento de 16,1% em relação ao ciclo anterior, em uma área de 16,9 milhões de hectares.
A produção esperada pela Agroconsult era de 102,4 milhões de toneladas. A produtividade média nacional ficou em 105,5 sacas por hectare, aumento de quase 15% em relação à safra passada.
Segundo André Debastiani, as condições climáticas foram muito favoráveis para o produtor de milho, mesmo com o atraso registrado em boa parte das plantações.
“Tivemos boas condições de chuvas mesmo em períodos que geralmente são mais secos, como maio e junho. Mesmo com a colheita indo até setembro, as possíveis perdas por clima serão reduzidas”, conta o coordenador do Rally da Safra.
Segundo o levantamento, 27% da colheita de milho safrinha deve ocorrer em agosto, índice maior que em 21/22, que teve 20% da colheita no mesmo mês.
Em setembro, a proporção de milho colhido será mais que o dobro em relação à safra passada, de 11%, contra 5% em 21/22. No total, serão 15,8 milhões de toneladas colhidas nos dois últimos meses da safra.
Entre os maiores estados produtores, o Paraná está mais atrasado, com somente 5% do milho colhido, ante 22% na safra passada, nesta mesma época. Em Mato Grosso do Sul, o índice de colheita está em 8%, ante 20% no ano passado.
Mesmo os estados mais avançados estão com índices abaixo do ano passado. O Mato Grosso está com 70% colhido, ante 79% na safra 21/22. Goiás está em 31%, ante 45% da safra anterior.
Ainda na medição por estados, São Paulo apresentou queda de 8% na produtividade em 22/23, para 85 sacas por hectare. O maior crescimento foi registrado em Goiás, com 44%, chegando a quase 117 sacos por hectare.
A maior produtividade de milho segunda safra continua sendo de Mato Grosso, com mais de 120 sacas por hectare, crescimento de 15% em relação a 21/22.
Debastiani destaca os bons resultados no Nordeste, especialmente no Maranhão, onde a produtividade subiu 4% em um ano, para 91,4 sacos por hectare.
Para André Pessoa, o El Niño pode trazer alguns problemas para a produção na região do Matopiba em 2023/2024, mas em escala menor do que a vista há 10 anos. “Hoje, o produtor lá sabe manejar bem o solo, tem experiência em lidar com os fenômenos climáticos”.