A poderosa indústria brasileira de suco de laranja vive um raro dilema entre vendas excelentes e demanda despencando. E ainda não sabe como resolvê-lo. Maior fornecedor global, o setor comemora a disparada no faturamento das exportações da bebida e procura uma estratégia para retomar, no futuro, a perda de mercados justamente por causa dos preços recordes da commodity.

“Provavelmente, hoje a laranja é um dos melhores negócios do agronegócio brasileiro em termos de remuneração. Mas não existe nada melhor para destruir a demanda do que esse tipo de elevação de preços, e temos diversos sinais de que a demanda está caindo no mercado internacional”, resumiu Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

O preço médio da tonelada do suco do suco de laranja no mercado internacional, que já havia praticamente dobrado em 2023, para US$ 3.962, subiu mais 35,4% em 2024, para US$ 5.364. A restrição na oferta da fruta é a causa da disparada nas cotações.

A Flórida, segunda maior região produtora, tem a pior safra de laranja desde 1930. O Brasil, maior produtor global de laranja e de suco, registra a menor oferta desde a safra 1988/1989.

Com os seguidos picos de preços, a receita das exportações brasileiras da bebida saltou 42,7% nos seis primeiros meses da safra 2024/2025, entre julho e dezembro do ano passado, em comparação ao mesmo período da safra anterior, de US$ 1,32 bilhão para US$ 1,88 bilhão.

Com a alta nos preços e queda na oferta, o volume exportado nos seis primeiros meses da safra foi de 430.078 toneladas, queda de 19,70% em relação às 535.604 toneladas embarcadas no mesmo período da safra anterior. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e foram compilados e divulgados nesta terça-feira, 15 de janeiro, pela CitrusBR.

Para o diretor-executivo da CitrusBR, com o atual nível de remuneração e a queda na demanda, em algum nesse algum momento o consumo se adequará à oferta da bebida. “Em algum momento teremos a recuperação da safra brasileira com as novas regiões produtoras entrarem no mercado. Tem muita gente plantando em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás”.

Mas a falta de uma oferta confiável do Brasil, que domina o mercado, e com as empresas locais tendo de se desdobrar para cumprir contratos, permite que "concorentes" cresçam e tomem o lugar do suco de laranja.

Entre elas estão as bebidas mistas e os néctares. Além disso, é comum ver embalagens de suco de laranja diminuírem e uma menor área de exposição da bebida nas gôndolas.

Indagado sobre como as processadoras brasileiras irão fazer para recuperar as sucessivas quedas na demanda, Netto, da CitrusBR, admite que, sem oferta da fruta, no curto prazo, não há solução. Uma aposta das empresas é que os novos e pequenos mercados possam ser ampliados se a oferta vier no futuro.

Ele cita, por exemplo, a Coreia do Sul, que liberou, a partir de 2025, uma cota de 6 mil toneladas anuais de suco brasileiro com 10% de tarifa. “A tarifa cheia é de 54%, o que inviabiliza as exportações”, disse o diretor-executivo da CitrusBR.

Mercados

Entre os principais mercados atendidos pelo Brasil o cenário é semelhante ao das vendas globais. A Europa, principal destino das exportações, com 42,72% de participação, recebeu 228.692 toneladas de suco de laranja entre julho e dezembro, redução de 22,21% em relação às 294.033 toneladas embarcadas no primeiro semestre da safra 2023/2024. Em receita, o valor chegou a US$ 1,04 bilhão, alta de 41,01% entre os períodos.

Os Estados Unidos registraram embarques de 161.641 toneladas de suco de laranja, uma redução de 7,17% em relação às 174.128 toneladas exportadas na safra de 2023/2024. A receita disparou 56,37%, para US$ 675,81 milhões.

Para o Japão, as exportações de suco de laranja caíram 14,07% entre os mesmos períodos avaliados, para 11.441 toneladas, e o faturamento, de US$ 62,96 milhões, teve um crescimento expressivo de 79,75%.