Quem ficou surpreso com os números altos da Conab divulgados hoje para a safra de milho que está sendo colhida deve preparar o coração para ver as projeções da próxima temporada, que terá ainda mais grãos dourados em todo o País.
O comentário entre lideranças no interior do Brasil, em tom de brincadeira, é que pela primeira vez na história o produtor está admitindo: "estou colhendo muito, a safra foi muito boa”. Afinal são montanhas de milho a céu aberto ou mesmo espalhados por longos trechos de silos bag já que os armazéns estão lotados.
Esse milagre de fazer o agricultor "comemorar” a boa colheita é pelo fato de realmente o tamanho da safra de grãos 2021/2022 ter ficado acima das expectativas mais otimistas.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aumentou em mais 2 milhões de toneladas a estimativa de produção de milho no ciclo de inverno deste ano e com isso a safra total do cereal no país – incluindo primeira, segunda e terceira safras - agora é projetada em 130 milhões de toneladas, ante 127,8 milhões de toneladas previstas em julho.
Sempre bom lembrar que a produção total de milho na safra anterior foi bem menor, de 113 milhões de toneladas.
Mas o momento agora é de projetar a safra 2023/2024, que começa muito em breve com o plantio de milho verão em algumas regiões do Rio Grande do Sul e com a soja em Mato Grosso.
O AgFeed conversou com o sócio diretor da Céleres Consultoria, Anderson Galvão, sobre as perspectivas para o novo ciclo.
"No milho a safra de inverno seguirá crescendo porque o agricultor tem que otimizar o retorno que já está investido, especialmente em terra, em todo lugar que ele puder plantar soja no verão e milho na segunda safra, vai fazer, ele tende a tirar milho do verão, para colocar soja, e plantar milho na segunda", afirmou.
O relatório da Céleres projeta que a safra de milho inverno, ou segunda safra, que é a maior do país, chegará a 18,4 milhões de hectares em 2023/2024, avanço de 400 mil hectares em relação ao ano anterior.
Por outro lado, a safra de milho verão deve ter queda na área plantada, de 200 mil hectares, mas como hoje ela é bem menos expressiva, não mudará o cenário geral para a cultura no ano.
Somadas as três safras brasileiras de milho, a produção total de milho deve atingir 140 milhões de toneladas, ou seja, 10 milhões de toneladas a mais do que estimou hoje a Conab para a safra total 2022/2023.
É muito mais milho no campo do que já estamos vendo este ano.
Margem operacional do produtor será mantida
O mercado de milho em 2023 foi marcado pela queda expressiva nos preços. O indicador Esalq/USP, por exemplo, mostrava milho acima de R$ 86 por saca em fevereiro, enquanto este mês está em R$ 53. O principal motivo foi a super safra no Brasil, além dos problemas logísticos no País.
Apesar disso, a Céleres avalia que o estímulo ao plantio do milho permanece em função dos custos, que estão mais baixos do que na safra anterior.
E o mais interessante é que, apesar de toda a derrocada nos preços do milho, a margem operacional média calculada pela consultoria para o milho segunda safra no ano que vem deve ficar em R$ 704 por hectare, até levemente acima da safra 2022/2023 quando estava em R$ 680 por hectare.
No milho verão a margem média no Brasil também está projetada para subir de R$ 967 para R$ 1024 por hectare.
Enilson Nogueira, que também é analista da Céleres, explica que os custos são fundamentais para garantir estes níveis, mas cita também uma demanda consistente da indústria de etanol de milho como “importante regulador de mercado”, o que não traz a expectativa de nova queda significativa para o cereal em 2024.
"Além disso, voltamos a observar margens positivas na suinocultura brasileira, que vinha no negativo há quase um ano, em função do alto custo da ração", explicou Nogueira.
A Céleres também prevê oportunidades de crescimento para culturas alternativas na segunda safra, como o sorgo, que volta a chamar a atenção e até o gergelim, que vem demonstrando boa tolerância à falta de chuva em regiões de Mato Grosso e Tocantins.
"O agricultor precisa otimizar o retorno do capital investido, e esse retorno mais importante é o da terra, então ele tem que buscar algo que remunera a terra, e é difícil você remunerar apenas com uma safra, ou vai ser soja e milho, soja e sorgo, soja milho e sorgo, ou soja e capim para fazer integração com a pecuária", acrescentou Anderson Galvão.