Depois de registrar a primeira queda de produção em 2022, quando o percentual de mistura de biodiesel no diesel ficou “congelado" em 10%, as indústrias do setor confiam em um período de retomada do crescimento, com a possível concordância do atual governo de acelerar o programa.

Pelo que está definido até agora, a atual mistura de 12% subiria para 13% em abril do ano que vem.

"Mas o setor está pleiteando junto ao governo que o aumento seja feito de forma mais acentuada, passando a vigorar o B15 já em março do ano que vem”, disse o diretor superintendente da Aprobio, entidade que representa as indústrias de biodiesel, Julio Cesar Minelli, em entrevista ao AgFeed.

O executivo ressaltou, no entanto, "que para que isso ocorra é necessário um tempo mínimo de planejamento, por isso aguardamos para as próximas semanas uma sinalização por parte do governo".

Minelli lembrou que três ministros do atual governo, entre eles o titular da Agricultura, Carlos Fávaro, já se manifestaram a favor do aumento da mistura.

A expectativa é de que no início de setembro haja uma reunião extraordinária do CNPE, Conselho Nacional de Política Energética, órgão responsável por autorizar a mudança no percentual de mistura.

Uma notícia que ganhou destaque no segmento nesta segunda-feira, 21 de agosto, foi a confirmação da multinacional Cargill de que está fazendo uma oferta para adquirir três indústrias de esmagamento de soja da Granol, empresa tradicional do setor de biodiesel.

Se concretizado o negócio, que ainda será submetido aos órgãos reguladores, a trading norte-americana ficará com as três fábricas de biodiesel da Granol, no Rio Grande do Sul, em Goiás e Tocantins, além de quatro armazéns.

Cerca de 70% dos 6,2 bilhões de litros de biodiesel produzidos pelo Brasil no ano passado tiveram a soja como matéria-prima, segundo a Aprobio.

Fontes próximas ao setor acreditam que o movimento da Cargill seja mais um sinal de maior confiança no biodiesel, que poderá expandir a produção com um ritmo mais rápido no aumento da mistura. Há dúvidas, porém, sobre a continuidade da operação da planta da Granol em Cachoeira do Sul, onde a produção estaria abaixo de 50% da capacidade “e não tão competitiva quanto as unidades do Centro-Oeste”.

Prontas para o crescimento

Caso a mistura aumente para 15% a partir de março do ano que vem, a produção de biodiesel deve subir para 9,5 bilhões de litros, o que não demanda novos investimentos.

"As empresas estão prontas porque houve um atraso no programa durante o governo passado, o mercado já havia investido e estava preparado para dar conta do B15 em 2023”, explicou Minelli.

O diretor da Aprobio revela que a capacidade já instalada nas empresas de biodiesel hoje está próxima de 14 bilhões de litros.

“Portanto é só uma questão de planejar a cadeia como um todo, sabemos que hoje 60% da soja em grão é exportada, com antecedência, não dá para ampliar de um mês para outro", reforçou.

Segundo o Aprobio, o aumento da mistura para B15 traria uma demanda adicional de quase 10 milhões de toneladas de soja.

Enquanto isso, o setor também se organiza para diversificar as matérias-primas. Além da soja, destacam-se o sebo bovino e óleos de algodão e palma. “Já temos também 2% atendidos pela reciclagem de óleo de cozinha”, acrescentou o dirigente.