"Posso iniciar a conversa com a felicidade de dizer assim: o Brasil não tem influenza de alta patogenicidade em frangos comerciais. Não tem mais, já acabou. Então essa é a boa notícia”.
Assim, sem ser questionado, Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), abriu a entrevista concedida ao AgFeed na tarde desta sexta-feira, 23 de maio, uma semana e um dia após o primeiro caso de influenza aviária registrado em um plantel comercial no País, em Montenegro (RS).
Resumo
- Para ABPA, ausência de mortes em série de aves e de novos testes positivos desde primeiro foco registrado garantem ausência de influenza aviária em plantéis comerciais
- Presidente da entidade aponta que cenário atual possibilita reabertura gradativa de mercados fechados para exportação de frango
- Mesmo com restrição pontual, associação mantém otimismo em superar recorde de 2024 para vendas externas de frango brasileiro
Lá morreram mais de 15 mil aves e ao menos outras 2 mil foram sacrificadas. Uma barreira sanitária foi instalada e um processo de desinfecção foi realizado com sucesso.
Aliado a isso, as informações recebidas pela ABPA deram ao presidente da entidade que representa o setor produtivo e exportador a firmeza de sustentar que não há mais casos ou focos em granjas comerciais.
“O Brasil está livre de influenza aviária em aves comerciais hoje. Não tem nem sequer investigação em andamento de influenza aviária de alta patogenicidade. Por quê? Porque nas investigações que estão em andamento, se tivessem influenza de alta patogenicidade, a mortalidade continuaria”, disse o presidente da ABPA.
Na avaliação de Santin, os sinais mais claros da letalidade da influenza aviária são físicos e comportamentais nas aves e se unem aos testes de laboratório para fechar os diagnósticos. Além da morte, secreções e outras reações nervosas, como animais cambaleantes e com pescoço caído, são sintomas de contaminação.
“Esses sinais são externos quando você vê, por exemplo, uma ave prostrada com gripe e ainda com problemas neurológicos. Não é o que acontece hoje nessas propriedades investigadas”, disse Santin.
De acordo com o presidente da ABPA, as secretarias estaduais que investigaram prováveis focos informaram que as possíveis infecções não são de doenças de alta patogenicidade como a influenza aviária.
“O caso de Montenegro está totalmente superado, as informações já foram mandadas ao mundo e para a Organização Mundial de Saúde Animal”, disse.
Segundo o Ministério da Agricultura, além do foco confirmado em uma granja comercial no município do Rio Grande do Sul e outro em animais silvestres em Sapucaia do Sul (RS), vizinha a Montenegro, outras 12 investigações estão em andamento no País.
Após a confirmação do primeiro foco, oito dias atrás, faltam 20 dias para que o Brasil volte a se autodeclarar livre de gripe aviária em plantéis comerciais, desde que não existam mais registros. Com isso, a expectativa é que mercados sejam reabertos ou que as barreiras sejam regionalizadas.
“Da mesma forma que eu estou te dizendo que hoje não tem nenhum caso no Brasil, pode ser que apareça um novo suspeito. Mas hoje, decorrente daquele caso do Montenegro, não tem mais nenhum caso”, ponderou.
Segundo a ABPA, 128 mercados seguem abertos para a compra de carne de frango do Brasil, alguns com restrições ao Rio Grande do Sul, e Japão e Emirados Árabes Unidos deixaram de comprar apenas da região de Montenegro. Outros 23 estão fechados, mas a avaliação é que a flexibilização continuará.
Mesmo com o fechamento dos mercados e possíveis novos embargos decorrentes de focos no futuro, o presidente da ABPA diz ter certeza que as exportações brasileiras de carne de frango em 2025 vão superar as 5,295 milhões de toneladas de 2024.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços apontam que, no acumulado anual até a semana passada, as exportações de frango somaram 1,955 milhão de toneladas, alta de 8% sobre igual período de 2024, com 1,811 milhão de toneladas.
Notícias Relacionadas
Segundo Santin, deve haver uma diminuição pontual no fluxo de comércio em maio e nas semanas iniciais de junho. Mas é impossível calcular a queda no volume e na receita com exportações. É provável, segundo ele, que volumes retidos possam ser enviados no curto prazo e a demanda reprimida volte aos poucos.
“Você tem a possibilidade de redirecionamento, ou mesmo do envio, nas próximas semanas, de um produto estocado que não foi liberado antes por causa das restrições”, explicou.
Para Santin, a lição que o País leva após o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial é que “vale a pena se preparar”.
Ele lembra que o Brasil vinha trabalhando há tempos para o ocorrido, desde o Plano Nacional de Sanidade Avícola, há cinco anos, quando começaram a ser firmados certificados sanitários, os quais previam a regionalização nas barreiras sanitárias, já aceitas por cerca de 130 nações.
“Outro ponto é que a biosseguridade brasileira se mostrou eficiente. Os impactos existem, estamos com impacto de logística, de custo de armazenagem, de perda de preço nos redirecionamentos de produtos, mas a prova que eu tiro desse aprendizado é que o Brasil está preparado”, completou Santin.
O presidente da ABPA garantiu que o Brasil está pronto para conviver com a influenza aviária, como o mundo já está há mais de uma década. “Faz mais de cinco anos que estão comprando dos Estados Unidos cheio de influenza. A Europa faz três anos que está tomada e hoje está com 88 casos ativos na Polônia, seu maior produtor”.
Por fim, Santin, que também preside o conselho administrativo do Instituto Ovos Brasil (IOB), afirmou que nesse mercado o impacto da influenza aviária é “infinitamente menor” do que no de frango.
Apenas 1% da produção brasileira é exportada e, dos três principais compradores, Japão e Emirados Árabes Unidos restringiram as compras à região gaúcha e os Estados Unidos mantiveram as importações.