Os investimentos em ferrovias apontados como prioritários para o agronegócio foram incluídos no novo PAC, o que poderá contribuir para reduzir, futuramente, o custo do frete, de acordo com a avaliação de algumas entidades do setor.
A Confederação Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por exemplo, já cruzou a lista de mais de 500 obras previstas no plano lançado na semana passada com aquelas classificadas como prioritárias pela entidade em documento apresentado aos candidatos nas últimas eleições.
"Em ferrovias e hidrovias, todos os pleitos aparecem na lista. Já no caso das obras rodoviárias, há alguns itens que ficaram de fora ou que foram parcialmente atendidos", revelou ao AgFeed a assessora técnica de infraestrutura e logística da CNA, Elisangela Pereira Lopes.
Entre os casos "excluídos" está a pavimentação da BR 020, que liga Brasília ao Ceará, atendendo o oeste da Bahia, importante região produtora e que poderia facilitar o transporte de grãos, além de beneficiar a pecuária da região Nordeste.
Já a famosa BR 163, que liga Mato Grosso ao Pará e que, nos últimos anos, permitiu a expansão das exportações de grãos pelo chamado Arco Norte, está na lista do que a CNA classificou como demanda "parcialmente atendida".
"Está prevista a manutenção do trecho já existente, isso foi atendido. É importante porque há tráfego intenso de caminhões, porém a finalização da pavimentação entre Miritituba e Santarém não apareceu no plano", explicou Lopes.
Há destaques positivos, segundo a assessora da CNA, em ferrovias, hidrovias e também em portos.
"No porto de Aratu, por exemplo, era preciso dar continuidade às obras de mais dois terminais de fertilizantes e grãos, o que esperamos para o ano que vem, já que apareceu no plano”, destacou.
Elisangela Lopes esclarece, porém, que são diversas ações relevantes para o agro, que passam pelo porto de Santos, em São Paulo, Vila do Conde, no Pará, Itaqui no Maranhão, entre outros.
"O ponto de atenção é saber qual a capacidade de cumprir os cronogramas e fazer com que o que está previsto realmente se transforme em obras finalizadas”, afirmou a especialista.
Ela lembra que a Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, levou mais de três décadas para ser concluída.
"Dos R$ 349,1 bilhões anunciados para infraestrutura, 63,3% são investimentos previstos para acontecer até 2026. Será? “, indagou Lopes.
Ferrovias podem reduzir custos
O diretor executivo do Movimento Pró-Logística, de Mato Grosso, Edeon Vaz, também avaliou como positivo para o agro o conjunto de obras previstas no novo PAC, destacando a importância das ferrovias.
"Havia uma dúvida se a Ferrogrão estaria no pacote, já que ainda há muitas discussões a respeito dessa ferrovia. Por isso, ter o projeto na lista dos investimentos previstos foi uma grande vitória para o setor", afirmou Vaz.
O Movimento Pró-Logística é formado por diversas entidades de Mato Grosso, entre elas a Aprosoja, que representa produtores de soja e milho e a Acrimat, entidade do setor da pecuária.
Para Edeon Vaz, projetos como a Ferrogrão serão balizadores do frete em Mato Grosso e até em outros estados, isso porque “as três ferrovias vão estar concorrendo entre si, será um intramodal, e nesta competição, o preço vai baixar. É a única oportunidade que temos para que isso aconteça, já que hoje, infelizmente, são poucas empresas operando e não temos acesso aos preços praticados”.
Um exemplo disso é um cálculo feito, no início deste ano, sobre quanto estaria o frete de grãos de Sorriso até a China, caso a rota escolhida fosse via Miritituba e Santarém, o que significa transportar a carga por caminhão, hidrovia e navio.
Na época o valor ficava em cerca US$ 90 por tonelada, enquanto da Argentina até o mesmo porto de Dailan, na China, custava menos de US$ 62 por tonelada.
O maior peso nesta conta era o frete rodoviário, na época estimado em US$ 53/tonelada. " Este frete rodoviário de Sorriso a Miritituba deve cair pelo menos 30% quando tivermos o maior uso das ferrovias”, afirmou o diretor do Pró-Logística.
A Ferrogrão deve ter capacidade para transportar 55 milhões de toneladas. Segundo Edeon Vaz, atualmente já se transporta 15 milhões de toneladas via rodoviária neste trecho.
"Acreditamos que até 2032, com o crescimento da produção em Mato Grosso, a Ferrogrão já seja inaugurada transportando 40 milhões de toneladas", avaliou o dirigente.
No PAC estão previstos 3 projetos principais em ferrovias: a Norte-Sul, a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste). O plano do governo é, no prazo de 10 anos, concluir uma triangulação entre as três ferrovias.
Entre as obras está, por exemplo, a finalização de um trecho da Fico que começa na Ferrovia Norte-Sul em Mara Rosa (GO) e vai até Água Boa (MT), que vai escoar a produção de soja e milho daquela região.
A assessora da CNA, Elisangela Lopes, também lembrou a importância de que a Ferrovia Norte-Sul finalmente chegue ao Sul do Brasil, já que hoje seria uma espécie de “centro-norte". Atualmente os trilhos vão de Estrela D`Oeste, no estado de São Paulo, até São Luís, no Maranhão.
O plano agora é que a Norte-Sul seja estendida até o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, segundo Elisangela.
Ela destacou ainda a importância de outros estudos, que vão além destas rotas já iniciadas. “O plano também prevê um estudo para construir a ferrovia do frango, em Santa Catarina, outro projeto a ser observado”.