No café, um ano recorde para as exportações. Segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), o mix de preços elevados ao longo de 2024 ajudou o setor a atingir o melhor ano de sua história nas vendas para fora.
O patamar histórico já havia sido posto em novembro, um mês antes do fechamento do ano. Até lá, as embarcações já batiam 46,3 milhões de sacas e superaram o ano de 2020, que havia sido o melhor até então.
Com os números fechados e apresentados nesta quarta-feira, 15 de janeiro, o País somou 50,4 milhões de sacas de 60 kg exportadas de janeiro a dezembro de 2024. A receita cambial somou US$ 12,5 bilhões, avanço de 55% frente a 2023.
Nos cafés verdes, robusta e arábica, os volumes bateram 46,3 milhões de sacas comercializadas para fora, sendo 9 milhões do primeiro e 36 milhões do segundo.
No café industrializado, a exportação do café torrado e moído bateu 48 mil sacas e o solúvel 4 milhões de sacas.
O número mostra uma alta de 28,5% frente ao exportado em 2023. No fechamento daquele ano, o número veio estável frente a 2022, numa base de 39,2 milhões de sacas do grão e uma receita de R$ 40 bilhões, queda de 13% no faturamento ante 2022 por conta da baixa do preço da saca ao longo de 2023.
Em dezembro de 2024, as exportações de café somaram 3,8 milhões de sacas de 60kg.
Apesar de uma baixa de 8% nos volumes em comparação com dezembro de 2023, a receita cambial, por conta do dólar alto, avançou 42,2% e atingiu R$ 1,14 bilhão. A média por saca foi de US$ 300,6. No ano passado, a saca custava, em média, US$ 194.
Ao longo do ano, analisando bimestralmente, todos os períodos em 2024 ficaram acima da média de 2023.
O melhor bimestre de exportação foi o quinto, que engloba setembro e outubro, quando foram comercializadas 9,7 milhões de sacas, com uma receita de quase US$ 3 bilhões.
Considerando a primeira parte do ano safra 2024/2025, que ainda se estenderá até junho, as exportações já estão 13% maiores do que na temporada anterior, em 26 milhões de sacas e uma receita de US$ 7,1 bilhões (60% maior do que na outra safra).
“As receitas são mais expressivas pelo patamar do preço médio elevado”, explica Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé.
Os Estados Unidos foram o principal parceiro comercial dos cafés do Brasil no ano passado.
Os norte-americanos importaram 8,13 milhões de sacas de janeiro a dezembro, o que equivale a 16,1% de todas as exportações e 34% acima do que comprou em 2023.
O ranking segue com a Alemanha, com 15% de representatividade em 7,5 milhões de sacas compradas.
Na sequência, vieram Bélgica, com a importação de 4,3 milhões de sacas (+96,4%); Itália, com 3,9 milhões de sacas (+25%); e Japão, com 2,2 milhões de sacas (-6,3%).
Por bloco, o continente europeu ainda é o maior cliente do café nacional, com 43% de todas as exportações encontrando seus destinos no Velho Continente. Foram 23 milhões de sacas de janeiro a dezembro de 2024 considerando a União Europeia.
Se contarmos países que não fazem parte do bloco mas que estão no continente, o patamar atinge 26 milhões de sacas. Em receita, a UE comprou US$ 5,8 bilhões.
“A Europa, representada pela União Europeia, cresceu as importações em 46,8%, e esse é um bloco que exige rastreabilidade e uma série de legislações ambientais, cerca de 60 regulamentos dentro de um pacto verde”, ressaltou Marcos Matos.
Segundo Matos, o futuro é promissor diante do crescimento das importações em todas as regiões do mundo.
“Todos os 10 maiores países mostraram alta, com exceção do Japão, diante de uma estabilidade que já vemos há anos”, disse o diretor-geral.
Na categoria “cafés diferenciados”, outro recorde, de 9,1 milhões de sacas, 18% do total vendido e uma alta de 31,2% frente a 2023.
O preço médio dessa categoria veio 14% acima dos cafés tradicionais. O principal destino dos cafés diferenciados ainda é os EUA, com 22,2% das importações.
“Vemos países tradicionais da Europa e o Japão no mercado asiático. O mais próximo do recorde foi em 2015, com 9 milhões de sacas”, diz o diretor-geral do Cecafé.
Para 2025, a perspectiva é positiva, mas o recorde não deverá se repetir. Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, espera uma safra um pouco menor no café arábica e melhor no robusta, mas não vê os patamar de exportação superando 2024 por conta de “acidentes climáticos”.
“Seja frio ou seca, algo sempre atrapalha a produção de alguma maneira, e geralmente, os recordes não acontecem em sequência. Vislumbramos um ano bom para a cafeicultura nacional, com preços bons para os produtores”, projeta.
E a China?
Figura carimbada nos últimos rankings do Cecafé, sempre com perspectivas otimistas de alta no consumo, a China ficou de fora do top 10 de 2024. O que aconteceu?
De acordo com o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, vê que o gigante asiático alterna momentos de incremento de volume e períodos mais tímidos na compra.
Em 2023 o país ficou na sexta posição do ranking de maiores importadores, com uma compra de 1,4 milhão de sacas importadas, um crescimento de 278,6% frente aos 12 meses de 2022.
“Tivemos uma boa performance em 2023, o que mostra que eles estavam presentes num momento em que o mercado estava mais competitivo a nível de custo para o consumidor. Não é um mercado que vai se privar de comprar café, mas em 2024 essa estratégia deles não foi de incremento de volume”, afirmou Ferreira.
Ele acredita que, em médio e longo prazos, a tendência é positiva. Ele cita que no primeiro semestre de 2024, a China esteve presente entre os maiores consumidores, mas reduziu bastante seu ritmo ao longo do segundo semestre.
“Em dezembro já tivemos uma retomada dessas compras”, acrescentou.
Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, cita que a China alcançou recentemente 50 mil cafeterias no país, mas que ainda não é um comprador tradicional do café.
“Eles cresceram, até junho de 2024, 40% nas importações, e no e segundo semestre houve essa retração que os tirou do top 10”, diz Heron.
Ele ainda acredita que, diante da perspectiva de compra de café nacional pela rede de cafeterias Luckin Coffe, que tem projetos com a embaixada brasileira em Pequim para os próximos cinco anos, o país deverá voltar a ser um destaque no ranking.
Em setembro, a Luckin Coffe assinou um contrato de US$ 2,5 bilhões com o Brasil, na intenção de comprar 240 mil toneladas de café entre 2025 e 2029.