A colheita da soja vai chegando ao fim no maior estado produtor do Brasil, o Mato Grosso, e a decepção com o rendimento das lavouras e com os preços que o mercado oferece aumenta a cada dia.
Neste cenário, o principal líder dos produtores de grãos no País, o presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan, tem adotado medidas mais drásticas desde a semana passada.
A entidade recomendou aos agricultores, por exemplo, que parem de fechar novas vendas da safra e também interrompam a compra de insumos. É uma forma de tentar, na visão de Galvan, forçar uma reação no mercado.
“Já vimos uma melhora nos preços esta semana e algumas indústrias estão procurando o produtor para fazer ofertas”, disse Galvan ao AgFeed, avaliando que a postura da entidade já começa a trazer reflexos.
Produtor de soja em Mato Grosso e ex-presidente da Aprosoja do estado, Galvan é um dos “desafetos” do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que também já presidiu a entidade. Como seguiram partidos políticos distintos e acabaram em campos opostos, principalmente em períodos eleitorais, o diálogo ficou mais difícil.
Antonio Galvan garante, no entanto, que tem solicitado reuniões com os atuais integrantes do Ministério da Agricultura e diz que um encontro acabou sendo cancelados pelo próprio governo. Reiterou que a entidade está de portas abertas para conversar com os titulares da pasta, mas ressaltou que a falta de segurança jurídica no campo continua sendo o maior entrave para a aproximação.
Na entrevista a seguir, o presidente da Aprosoja explica os detalhes de sua estratégia para forçar que os produtores endividados ganhem mais prazo para pagar seus compromissos e analisa as atuais estimativas para a safra brasileira de soja.
A Aprosoja procurou o governo para apresentar suas demandas em relação ao momento delicado que os produtores enfrentam nesta safra? O Ministério tem dito que está aberto ao diálogo, mas que tem dificuldades em Mato Grosso...
Nós fizemos um pedido, apresentando um ofício. No ano passado, a Aprosoja Brasil não foi respondida porque se criou aquele marasmo com a Aprosoja Mato Grosso. E como sou daqui (Mato Grosso), nos botaram no bolo. Houve algumas discussões durante a eleição de 2022, o Fávaro falou algumas coisas, nós respondemos, mas isso foi a questão política, partidária. E não teria que trazer eleição para dentro do problema. Aí solicitamos uma audiência com ele (ministro Carlos Fávaro), em março do ano passado, por email, mas não tivemos resposta.
Integrantes do Ministério da Agricultura têm repetido que querem acabar com o “ranço” neste relacionamento com as entidades. Acha possível?
Soube que estiveram em Alta Floresta e falaram mal da entidade, tinha delegados presentes. Pelo que soube, a Aprosoja Mato Grosso não procurou (o governo), mas a Aprosoja Brasil, sim. Tem ofício lá protocolado. Ano passado foi solicitado. Esse ano, de novo mandamos as nossas reivindicações e ficam falando que não receberam nada.
É difícil se comunicar dessa forma. É uma divergência. Eu não tenho culpa se a grande maioria hoje é contra o atual governo.
E qual o motivo desta contrariedade?
Somos contra porque o que ele (governo) prega é o contrário do que a gente faz aqui no campo. Não tem mais segurança jurídica. O Bolsonaro não deu vantagem nenhuma para a nossa atividade financeiramente, mas deu a segurança jurídica. Somos donos da nossa propriedade e hoje não tem mais isso. Se o presidente Lula viesse com discurso e na prática executasse essa fala, dando a segurança que o campo precisa para produzir, não teria problema nenhum de você até dar um apoio para o governo. Mas anteriormente esta conversa foi assim e tivemos invasão de terra para todo o lado. Agora se vê até indígenas do Paraguai invadindo áreas de terra lá no Paraná e outros lugares.
O senhor diria que, apesar disso tudo, está aberto a este diálogo que o governo diz estar propondo?
Essa conversa de que o governo quer diálogo é muito da boca pra fora de quem está hoje dentro do Ministério da Agricultura. Eu posso falar pela Aprosoja Brasil. Eu não posso falar pela Aprosoja Mato Grosso, porque não sou da diretoria atual. Mas nós procuramos sim o Ministério. Eu até tive uma conversa muito séria com o Cadore (ex-presidente da Aprosoja Mato Grosso) sobre esse assunto, de que nós não podemos misturar alguma picuinha política, com a representatividade das duas principais commodities, soja e milho.
A Aprosoja Brasil solicitou uma audiência com o próprio ministro e infelizmente não tivemos resposta do ministério até hoje. Tem quase um ano que foi mandado o email sobre esse assunto. Inclusive com o próprio Neri (Geller, atual secretário de política agrícola) tivemos uma audiência marcada, na segunda-feira retrasada, mas também, de última hora, simplesmente ligamos no Ministério e disseram que houve um caso urgente, que foi chamado na Casa Civil e também não nos deu mais resposta. Não marcou outra data para sentar e conversar.
O que pretendia apresentar ao governo?
Queríamos levar essa pauta lá pessoalmente, um ofício com as sugestões que nós tínhamos para atender de imediato esse problema que o produtor está enfrentando hoje, que é a quebra de produção e, principalmente, os preços achatados e os compromissos que estão vencendo agora.
Queremos que se protele esses compromissos. Não estamos levando proposta de pedir um dinheiro novo, imediatamente, mas sim uma protelação, no mínimo de seis meses, de acordo com os vencimentos (das dívidas). Se vencesse agora, final de fevereiro, que desse mais seis meses de prazo, final de março também, para esse produtor poder pagar esse custeio agrícola ou qualquer dívida com o governo.
"O produtor vai ficar inadimplente, não vai pagar se ele tiver que vender o produto dele agora"
Nas máquinas agrícolas, que pegasse a parcela desse ano, jogasse ela para o final do financiamento. Alongasse uma lá atrás e essa, agora, não fosse paga, para que o produtor possa reter um pouco do produto que venha a sobrar de outros compromissos. Para tentar ver se esse produto reage o preço, até para pagar esse custeio daqui seis meses, porque da forma como está hoje, o produtor vai ficar inadimplente, não vai pagar se ele tiver que vender o produto dele agora.
A margem está realmente negativa?
Hoje nós trabalhamos com prejuízo, falando- se aí em R$ 90 e poucos (por saca), hoje aqui na nossa região (Vera, no Mato Grosso). Não sei se tem relação com a nota que a própria Aprosoja Brasil fez na semana passada, alertando o produtor, mas parece que essa semana melhorou um pouco (o preço).
Divulgamos que a safra não está muito longe do que a própria Conab estimou. Achava que ela (Conab) ficaria acima de 150 milhões (de toneladas). E veio um pouco abaixo. O que nos deixa indignados são as empresas privadas de consultoria dizerem um absurdo, que fica 155, 157 milhões de toneladas. Isso, com certeza, mexeu um pouquinho com o mercado. Vimos nessa semana uma pequena melhora nos preços, em ofertas feitas ao produtor. Vimos algumas empresas chegando aí nos patamares entre R$ 95 e R$ 100, me refiro à região de Sorriso. Carrega agora fevereiro com pagamento para março. Antes estava R$ 90.
A Aprosoja Brasil recomendou aos produtores na semana passada que interrompessem as vendas da safra e a compra de insumos. Acha que a melhora de preços foi resultado desta medida?
Fizemos esta nota recomendando ao produtor não vender o excedente dele, não fazer nenhum tipo de negócio no momento, nem comprar os próprios insumos para a próxima safra, para aguardar. Se não mexer no preço da soja, para ela subir, como é que você vai começar a adquirir produto? Se fizer um novo compromisso de uma nova safra com os atuais patamares de custo de produção, com o atual preço de venda do nosso produto, ele não paga a conta, não paga a despesa, não cobre custo.
Por isso, na sexta-feira passada fizemos essa nota e deu uma repercussão grande, muito boa. Claro que depois saíram algumas fake news aí no meio, falando um monte de bobagem. A nossa recomendação foi para o produtor aguardar, o que ele puder segurar de produto, para cumprir com seus compromissos. Isso se ele colher o suficiente. Porque eu estou apavorado. Lá na minha área a seca pegou praticamente tudo. É um absurdo a quebra que tem de produção. Meus vizinhos lá tem 20, 30 sacas de soja (por hectare). As áreas com colheita boa não passam de 20% dentro do estado de Mato Grosso.
Há também problemas com pragas e doenças?
São áreas irregulares, a falta de chuva acabou prejudicando. A mosca branca é um inseto que tem danificado bastante as lavouras. A doença até que não se caracterizou muito, mas teve reclamação de ferrugem. No sul do Brasil, ela está dizimando muitas áreas. Tem a doença de final de ciclo, que volta novamente danificando os grãos no enchimento dele. Isso veio dar uma quebra bastante substancial novamente. O que podemos dizer é que é uma safra bastante comprometida em todo o Brasil. O único estado que melhora a produção é o Rio Grande do Sul, já que não tem como ser pior que o ano passado, com a seca intensa que enfrentaram.
Pode dar detalhes sobre esta conta que não está fechando?
É difícil calcular um custo médio da lavoura, temos o Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agrícola) que faz esse cálculo. Se eu bancar o meu negócio, com meu recurso, eu tenho um custo, porque estou plantando a vista. Se eu buscar dinheiro 100% de outro, com certeza ficará bem mais caro, porque vou ter o juro para pagar. Agora, quando coloca o custo da terra, esquece. Está todo mundo no vermelho e no vermelho grande.
Iniciou-se o plantio do ano passado e se falava em uma rentabilidade de R$ 100 a R$ 120 a saca para a soja aqui na nossa região. Depois ela veio caindo, caindo, chegando a esses patamares absurdos, de R$ 90 como nós falamos. Não cobre o custo. Para quem é dono da terra, você precisaria em torno de R$ 100 a saca, tendo uma colheita aí acima de 50, 55 sacas para você mais ou menos bancar a custo. Mas ninguém trabalha só com o custo da lavoura, porque 100%, quase do produtor rural, tem um investimento. E um trator, uma plantadeira, são implementos que você acaba adquirindo e financiando. Você tem essas parcelas para serem pagas.
Neste cenário, o senhor continua recomendando que o produtor não venda a safra e não compre insumos?
Com certeza absoluta. Enquanto eu não sei balizar custo de produção com o preço de venda, que o produtor evite ao máximo de fazer. Não tem como a gente proibir o produtor de negociar, mas a recomendação da entidade é que ele evite fazer negócio nesse momento, enquanto os preços não se atualizarem, porque de nada adianta ele vender a soja hoje nesses valores e não baixar o custo de produção dele. Agora, ele tem compromissos a cumprir. Então, que se faça, dentro dos compromissos, o mínimo possível.
"Não tem como a gente proibir o produtor de negociar, mas a recomendação da entidade é que ele evite fazer negócio nesse momento"
E que o governo tenha agilidade justamente dentro desse processo que falei inicialmente. Que protele para seis meses essa dívida, porque não é dinheiro novo, é um dinheiro velho, é pago dentro do ano, vai ser pago dentro do ano. Então, essa questão orçamentária não teria nada a ver. A única coisa a dizer seria um protelamento dessa dívida, no caso de custeio agrícola de recursos do governo. Já o financiamento de máquinas, é para jogar para última.
Tudo isso está no ofício já protocolado junto ao Mapa?
Sim, no dia que Neri Geller foi chamado na Casa Civil, o ofício foi protocolado naquele dia. Se não me engano, foi 29 de janeiro.
Falava algo mais além da prorrogação do pagamento das dívidas?
Apontamos também a questão da classificação da soja. Queremos que haja uma média ponderada do padrão de qualidade das diferentes cargas que o produtor entrega, para evitar o desconto.
Se a reunião for marcada, o que vai colocar como prioridade na conversa?
Nessa semana temos a Abertura da Colheita da Soja, em Tapera, no Rio Grande do Sul. Quero aproveitar para convidar todos os produtores para que compareçam. Quero ver se, em março, conseguimos fazer essa reunião, pessoalmente. Já que se fala que tem ranço, vamos tirar o ranço. A Aprosoja Brasil está de porta aberta. Sentando com o ministro ou com o secretário de Política Agrícola, o que nós temos que buscar é uma solução para esse problema que temos hoje dentro do segmento. A prioridade são os seis meses para pagar a dívida. É questão imediata para o governo, para o produtor poder segurar esse produto. Porque nós confiamos muito, temos certeza que a demanda que existe hoje de soja no mundo não caiu assim. Até brinquei outro dia se por acaso os suínos vão fazer uma dieta, reduzindo a ração para eles. Porque essa supersafra aí que se fala, não existe no Brasil.
É a maior crise que o senhor já viu no setor?
Acho que não, porque estamos entrando nela. Nós não sabemos a proporção dela e onde ela vai parar. Em 2005 e 2006 tivemos dois anos seguidos de preços estapafúrdios e extremamente baixos. A soja saiu de R$ 45 para R$14 na região de Sinop. Aquela, para mim, foi a maior crise. Mas lá nós tivemos uma grande safra.
Não acredito que se repita, porque nesse ano o que nos deixa assim, até perplexos, é que estamos com o inverso. Normalmente você tem supersafra justificando a queda de preço. Nós temos aí uma quebra de safra enorme e queda de preço também no mercado.
Como está o nível de endividamento do produtor? Temos visto o aumento do número de pedidos de recuperação judicial...
A recuperação judicial foi uma ferramenta dada como opção para todo mundo. Acreditamos que possa ter sim, alguma recuperação judicial fraudulenta. Não tenha dúvida que você tem muita notícia aí. Até negação de alguns juízes, mas a grande maioria está dando esse benefício também ao produtor rural. Quando eu falo fraudulenta, não é só aquela do produtor rural, é principalmente de quem compra do produtor rural, como já aconteceu aqui. O cara encheu o armazém, esperou acontecer a safra, daí terminou a safra, o cara pediu RJ e ficou com toda a produção, deixou o produtor na mão.
O preocupante desse endividamento é que ele tem juro bem maior do que eram os juros dos patamares normais lá atrás. Para virar uma bola de neve em cima disso, dessa dívida, não é nada difícil acontecer. Então o pessoal vai usar sim essa ferramenta, está usando. Na verdade, eu acredito que deva aumentar e muito, que é uma das válvulas de escape que foi dada e a grande maioria tem conseguido retornar a atividade. Ganhou tempo para poder pagar essa dívida. Tem muitas delas que a gente já viu aí que conseguiram sanar as dívidas ou estão pagando em dia.
A dívida está em patamares recordes?
Eu não tenho esse número, mas acredito que sim, porque sempre você tem plantado áreas maiores e esse ano vai ter muita dívida. Sei que o produtor não vai conseguir pagar, então vai ter que ver como é que ele vai protelar essa situação, né?
O que faria a Aprosoja mudar essa recomendação de não vender a safra?
O melhor dos mundos seria que o preço recuperasse rápido, porque daí ele não precisaria que o governo alongasse essa dívida. Mas sabemos que para descer a escada, desce rolando, é rapidinho assim. E para você subir a escada, os degraus, é bem mais pesado. Então, normalmente, quando o produto volta a subir seus valores, ele sempre é mais demorado do que para cair.
Está difícil dizer se preço vai subir semana que vem, daqui a 30 dias. Pelo que a gente vê da quebra de safra, vai ser mais rápido. Para o produtor que colheu dentro da normalidade, se chegar nos R$120, ele pode começar a respirar mais aliviado, consegue cobrir custos sobre produção e consegue também começar a pagar investimento. Acho que não deve demorar, porque estamos vendo empresa ligando atrás do produtor, querendo comprar. É raro, normalmente o produtor vai atrás para vender. Acho que teremos melhor patamar no meio do ano. Mas eu acredito que recupere antes sim. Por isso que a gente precisa o alongamento de seis meses.
É uma forma de seguir pressionando o governo?
O governo não prometeu nada, na prática. Eles estão tentando buscar as ferramentas para poder aliviar. Mas também não adianta o governo vir aí em abril ou maio para dar alongamento de dívida e os vencimentos foram em março, porque a grande maioria vence agora no final de março.
Nós precisamos que o governo tenha agilidade dentro disso. E, infelizmente, não é prerrogativa hoje do atual governo, de quem está frente ao ministério hoje. Isso sempre aconteceu em outros governos também, independente de época. É muito moroso, principalmente para quem colabora tanto do jeito que colabora o setor.
Quero voltar a frisar, não é prerrogativa única desse governo. O próprio governo Bolsonaro também, quando teve algum probleminha demorado anteriormente, aqueles dois anos que o Temer ficou, como com a presidente Dilma, também Lula lá atrás, Fernando Henrique Cardoso, sempre foi lento.
Chegou a receber críticas após essa recomendação ao produtor?
Por onde passou esta nota, só ouvimos elogios. Era uma necessidade que já vinha sendo cobrada justamente do produtor, que a entidade tomasse uma atitude a respeito disso e fosse atrás do governo, porque fica esse ranço aí colocado, que da nossa parte não existe. Nós procuramos, só não fomos atendidos até o momento também.
Houve comentários sobre risco de desabastecer mercado nacional... Viu isso?
Não sei de onde saiu isso. Nós, em nenhum momento, falamos na nossa nota para o produtor deixar de entregar o produto. O que ele vendeu, vai entregar, sem dúvida nenhuma. É o que vendeu antecipado, num preço melhor, claro, no ano passado. Eu mesmo, me ligaram esta semana sobre 10 mil sacas de soja, para embarque até o fim do mês, vai dar uns R$ 110 por saca mais ou menos. Então, não tem porque você não entregar, porque normalmente quem vendeu lá atrás foi num preço melhor que o mercado oferece hoje.
Há quem diga que na comparação de fevereiro 2024 com fevereiro 2020 o preço ainda está 20% mais alto. Considera esta conta?
É preciso perguntar a quem diz isso quanto subiu o custo neste período. A questão é a margem. Em 2020 eu comprei o fertilizante a R$ 300, agora paguei, a vista, R$ 435. É quase 40% de aumento. A semente dobrou de preço. O custo demora muito a cair. O combustível não cai. Para comprar uma máquina antes seriam necessárias 25 mil sacas de soja, agora são 40 mil.
Sobre a estimativa de safra, quanto a Aprosoja está considerando para a colheita 2023/2024?
A nossa diretoria avaliou esta semana e estamos mantendo a estimativa de 135 milhões (de toneladas) com tendência de queda. Vamos dizer que o tempo vira um reloginho agora. Mato Grosso está encerrando colheita. Não tem mais milagre aqui.
"Estamos mantendo a estimativa de 135 milhões (de toneladas), com tendência de queda. Não tem mais milagre aqui"
Aonde que você tem milagre ainda para fazer alguma coisa? Está um pouco mais atrasado lá no Matopiba, que plantou mais tarde, saiu fora do melhor ciclo. E lá o Rio Grande do Sul está plantado, mais tardio. Tenho Santa Catarina plantada mais tarde, mas é um estado pequeno, não representa lá uma grande área de plantio. Na minha área eu imaginava fechar uma safra de no mínimo umas 40 sacas (por hectare), mas estou vendo que vai ficar entre 30 e 35.
A maior parte das consultorias, inclusive a Conab, ainda indica safra acima de 145 milhões de toneladas. Como se explica esta diferença?
Esse povo não vai a campo, não vai ver colheita. Eles olham muito por satélite. Eu andei lá no meio da minha lavoura, fui lá para ver. Um cara me mandou uma previsão de 43 sacas numa área que se esperava 60 sacas. Não é uma área pequena. São 660 hectares. Mas a maioria, principalmente USDA, olha por satélite. Você vê uma lavoura com aspecto bonito, mas que não produz. No visual, você já percebe muita vagem brotada, muita vagem antes do ciclo já apodrecendo, estragando por conta dessa anomalia. É o produtor que vê de perto, tem que olhar o pé de soja. Quantos deles que fazem isso?
Qual o recado final que gostaria de dar ao setor?
É preciso que o governo tome uma providência rápida. O doente, como se fala, está na UTI. É preciso que se faça alguma coisa rápido, não adianta vir com medidas daqui a três meses, quatro meses. O produtor já entrou no endividamento, aí já vai estar como inadimplente nos seus pagamentos. Não gostaríamos que chegasse a esse ponto. Queremos essa protelação imediata, de no mínimo seis meses. Se vence em março, vamos colocar um padrão final de setembro para todo mundo pagar. E também para que possamos ir ao mercado.
Mas é para ontem essa medida aí. Porque mesmo produtor que colheu bem, que consiga aferir o lucro, ele vai pagar a conta igual. Não estou pedindo que jogue de todo mundo, mas, para aquele que solicitar, vai lá por escrito no banco. Mas só aquele que necessitar. Se melhorar o preço, ele teve a sorte de colher bem, ele vai querer pagar a conta. Mas aquele que colheu mal, mesmo que melhore o preço, você não vai conseguir pagar a conta por conta disso.