Mesmo com uma das maiores crises da sua história, com um rombo de R$ 26 milhões em 2024 e um déficit de R$ 200 milhões entre o necessário e o obtido para o custeio das 43 unidades, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ainda vê espaço para crescer.
As obras de uma nova unidade serão apresentadas neste sábado, 8 de março, pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em seu reduto eleitoral, há pouco mais de um ano do início da campanha política para as eleições gerais.
Trata-se da Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi) da Baixada Cuiabana, em Nossa Senhora do Livramento (MT), cerca de 40 quilômetros da capital Cuiabá.
Como mostrou o AgFeed, os salários e benefícios dos 7,4 mil funcionários consomem R$ 4 bilhões por ano. Para a máquina funcionar, o comando da estatal precisaria de R$ 500 milhões em custeio, mas pediu R$ 376 milhões e teve aprovados R$ 176 milhões no Orçamento de 2024.
Após contingenciamentos, a Embrapa encerrou o ano passado sem receber R$ 26 milhões, o que levou a cortes de serviços e renegociação de dívidas com fornecedores e até a proibição de utilização de aparelhos de ar condicionado em unidades.
“A Embrapa apresenta problema de orçamento, não consegue pesquisar porque não tem recursos e vai abrir uma unidade em Mato Grosso?”, indagou Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção e Comércio do Ministério da Agricultura, membro do Grupo de Estudos Avançados de Aprimoramento do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária.
Criado pelo próprio ministro Fávaro, o grupo foi formado ainda pelo ex-presidente da Embrapa Silvio Crestana, os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues e Luís Carlos Guedes Pinto, e pela professora e pesquisadora Ana Célia Castro. Os notáveis entregaram uma proposta de reestruturação do modelo institucional vigente da Embrapa.
Segundo Camargo Neto, o cenário atual de crise climática e seus impactos nos preços dos alimentos deveria ser combatido com investimentos em pesquisas e novas variedades para se adaptarem às mudanças.
“A Embrapa tem pesquisadores capacitados, mas não tem recursos para pesquisas nas 43 unidades já existentes. É ridículo criar uma nova unidade”, afirmou.
Em Mato Grosso, a Embrapa possui a unidade Agrossilvipastoril, em Sinop, responsável por pesquisas para a produção de alimentos de forma integrada entre lavoura, pecuária e floresta.
Ao AgFeed, a Embrapa informou que a unidade Baixada Cuiabana “está dentro de um modelo de cooperação entre instituições com compartilhamento de infraestrutura e recursos para cooperação regional ou territorial”.
Na unidade, segundo a estatal, a parceria é com a Unidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e o Senar-MT.
“Esse arranjo institucional, liderado pelo Ministério da Agricultura, permite expandir a atuação da pesquisa agropecuária, incluindo Embrapa e demais instituições parceiras, sem a necessidade da criação de novos centros de pesquisa com estrutura completa”, informou, em nota.
Ainda de acordo com a Embrapa, não haverá desembolso de recursos pela estatal e a unidade terá foco em pesquisa, validação e transferência de tecnologia para a agropecuária em solos pobres e rasos, baixa altitude e clima quente. As principais atividades incluirão fruticultura, mandiocultura, piscicultura, horticultura e sistemas produtivos integrados.
A Embrapa informou que o Ministério da Agricultura poderia dar mais informações sobre o evento, custos e dados sobre a nova unidade. A Pasta foi procurada desde a manhã desta sexta-feira, 7 de março, informou que o pedido tinha sido encaminhado à área responsável, mas não se manifestou até o momento.
No portal do Ministério, um release sobre o evento informa que a Embrapa Baixada Cuiabana atuará no desenvolvimento de pesquisas para uma região com “características desafiadoras para a agropecuária, como as condições de solo, a baixa altitude e as altas temperaturas durante todo o ano”.
De resto, repete as mesmas informações da Embrapa e não informa o valor do investimento na unidade.
Já o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, informou que não iria comentar sobre o assunto por não ter informação de quanto seria destinado em recursos para a obra.