A avassaladora produção da cadeia sucroenergética do Centro-Sul, na comparação com o resto do mundo produtor, reserva várias curiosidades pouco conhecidas fora do contexto dos agentes do setor.

Examinado apenas pela oferta e transformação da cana-de-açúcar – nacional e internacionalmente - o protagonismo dos 10 maiores grupos produtores salta à vista, inclusive com as discrepâncias entre eles, segundo levantamento da consultoria FG/A baseada no levantamento da safra 22/23.

Pela ordem de moagem a lista é: Raízen, BP Bunge, Atvos, São Martinho, Tereos, Lincoln Junqueira, Cofco, Coruripe, Adecoagro e Pedra Agroindustrial, que terminaram por operar com 225,4 milhões de toneladas.

Nesse ciclo, concluído em março, a macrorregião de Goiás ao Paraná moeu 548,2 milhões de toneladas, quase 5% acima do difícil período de 21/22.

Conforme a tabela da FG/A, não houve alteração no ranking do 1º ao 9º lugar, com a Raízen – sociedade entre Cosan e Shell – dominando, disparadamente como sempre, em 73,4 milhões de toneladas processadas. A 10ª posição, na safra recém-concluída, é que sofreu mudança, saindo o Grupo Zilor e entrando a Pedra Agroindustrial.

Enquanto a temporada 23/24 já está sendo colhida, com números que vão romper as 600 milhões de toneladas de matéria-prima, segundo a FG/A e o consenso do setor, ainda sobre a temporada anterior deve-se traduzir outras avaliações.

As empresas do top 10, por exemplo, processaram em torno de 5 milhões de toneladas a mais sobre 21/22, mas com média de produtividade de 2% positivo, mas abaixo da média do Centro-Sul.

Aleatoriamente, sem necessariamente seguir qualquer ordem de importância, AgFeed preparou uma lista de 10 tópicos que ilustram algumas características e perfil do setor produtivo, com base nesses 10 grupos protagonistas, cotejando-os com outros dados do Brasil e a outros países produtores.

1- As 225,4 milhões de toneladas de cana trabalhadas nesses grupos representaram quase 44% das 548,2 milhões de toneladas processadas no Centro-sul, quando dessa região, que compreende de Goiás ao Paraná, houve crescimento de 5% acima do difícil período de seca de 21/22.

2- O número de unidades somadas dos 10 é de 85 plantas, em um total pouco acima de 140 que operaram a última safra.

3- Enquanto a Raízen contou com 35 indústrias, pode-se ver pela tabela acima que seu total de cana processada, 73,4 milhões de toneladas, é superior à soma dos outros três grupos subsequentes, BP Bunge (11 usinas), Atvos (9) e São Martinho (4).

4- Ainda se pode destacar que somente o que o maior grupo brasileiro e mundial processou - ou os três outros somados –, bate o volume de cana de fornecedores independentes do Centro-Sul do Brasil, que está em torno de 60 milhões de toneladas de acordo com a Orplana, entidade que reúne várias associações regionais de produtores.

5- Para efeito de comparação com a região produtora do Nordeste e Norte, cujo regime de safra é de setembro a fevereiro, só as usinas das companhias da 6ª à 10ª bateram em praticamente 10 milhões de toneladas a produção de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão, que foi de 57 milhões de toneladas.

6- Pelo top 10 das usinas, pode-se ver que o setor de cana-de-açúcar industrial é um dos mais transnacionais do agronegócio brasileiro, com cinco controlados por estrangeiros. A BP Bunge é a mistura da British Petroleum e a trading e processadora de grãos dos Estados Unidos, Bunge; a Atvos, ex-Odebrecht Agro, que está em recuperação judicial e foi adquirida pelo fundo árabe Mubadala Capital; a Tereos do Brasil (7 unidades) pertence à cooperativa francesa Tereos; a Cofco (4), em 5º lugar, é da chinesa do mesmo nome, outra gigante de grãos; e a Adecoagro (3) tem o investidor internacional George Soros entre seus acionistas.

7- O poderio desse grupo, com 85 unidades, perdeu por cerca de 75 a 100 milhões de toneladas de cana para o total operado pela Índia, o segundo maior player global, cujas estimativas mitigadas entre dados da Isma (entidade regional) e de consultorias como a FG/A foram de 300 a 320 milhões de toneladas. Com a diferença de que o país da Ásia Meridional fechou a última temporada, em fevereiro, com 400 usinas.

8- Pouco se sabe da quantidade da chamada “cana própria” das usinas, sobretudo da Raízen, que é a que mais compra matéria-prima de terceiros, mas uma avaliação da FG/A estima uma produção assentada em 3 milhões de hectares, em todas as 10 companhias, o que seria maior que a área total da Bélgica e quase do tamanho de Portugal.

9- No caso específico da Raízen, se a companhia fosse um “país”, seria o terceiro ou quarto maior processador de cana do mundo, disputando com a China, e muito a frente de Paquistão, o quarto colocado, com estimadas cerca de 50 milhões de toneladas.

10- Uma outra comparação pode ser feita com beterraba sacarina, de onde sai 20% do açúcar mundial, e é majoritária na Europa também na produção de etanol, com centro produtor na França. Ainda que a quebra na campanha anterior foi severa pela seca, a oferta total das lavouras francesas foi de 30,7 milhões de toneladas, enquanto só a Tereos do Brasil, subsidiária brasileira do maior produtor daquele país, transformou pouco mais de 50% daquele volume em cana-de-açúcar.