As indústrias de máquinas agrícolas mal digeriram a queda de mais de 13% nas vendas do ano passado e já começam o ano no mesmo ritmo, precisando frear a produção enquanto a demanda não vem.

Um exemplo desta situação é a fábrica de colheitadeiras da John Deere, no município gaúcho de Horizontina.

O vice-presidente do sindicato dos metalúrgicos da região, Alexandro Bach, disse ao AgFeed que os trabalhadores estão em negociações com a direção da John Deere para acertar os termos do que chamam de “lay-off”, uma paralisação das atividades da fábrica por um período entre 2 e 5 meses.

A proposta foi apresentada ao sindicato, mas rejeitada pela categoria, em assembleia. Segundo Bach, este modelo de interrupção prevê que haja uma remuneração dos funcionários por meio de programas públicos, que envolvem programas de capacitação e uma parte dos salários e benefícios é mantida pela companhia.

O sindicato busca melhorias nessa proposta para evitar que funcionários sejam demitidos. O dirigente diz que na fábrica de colheitadeiras e plantadeiras trabalham 1,7 mil pessoas. No ano passado a John Deere demitiu cerca de 300 funcionários na unidade.

Enquanto isso, Alexander Bach diz que a produção está reduzida. Segundo ele, estão sendo produzidas 12 colheitadeiras por dia, bem abaixo de outras épocas, quando eram montadas 20 unidades diariamente, o que representa um corte de 40%. “Alguns estão em casa, em férias ou licença remunerada”, afirmou.

O AgFeed procurou a John Deere, que não quis dar entrevista. Em nota, a empresa afirmou que “está em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos de Horizontina e Região, em busca da solução mais adequada para ajustar a taxa diária de produção em sua fábrica". A empresa disse que “reitera o respeito e a transparência com todos os profissionais envolvidos nessa operação”.

Vendas despencam no setor

A situação em Horizontina materializa os dados apresentados esta semana por duas das principais entidades que representam o setor de máquinas agrícolas. Elas divulgaram números que mostram o desempenho negativo do setor desde o ano passado.

A Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, informou que as vendas de tratores e colheitadeiras caíram 13,2% em 2023, na comparação com o ano anterior.

Ao contrário de outros segmentos, que recuaram logo após o auge da pandemia, o presidente da Anfavea, Marcio Leite, destacou em entrevista coletiva que no agro em 2022 houve recorde de vendas, com 70 mil unidades comercializadas.

Somente em 2023, em meio aos preços mais baixos das commodities agrícolas e taxas de juros mais elevadas, o mercado cedeu, caindo para cerca de 61 mil unidades. A redução foi maior nas vendas de colheitadeiras de grãos, que tiveram queda de 18%.

Outro fator prejudicial para a indústria foi a queda nas exportações. Nos últimos anos o principal mercado das máquinas agrícolas produzidas no Brasil era a Argentina, que agora caiu para o sexto lugar no ranking. As exportações recuaram quase 18% em 2023 e o principal destino agora é o Paraguai. Estados Unidos permanecem na segunda posição.

A Abimaq, que também inclui implementos agrícolas na estatística, informou que em janeiro de 2024 houve queda de 32,8% na receita líquida das empresas, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

A entidade diz que as vendas no segmento recuaram 21,9% em 2023 e devem seguir caindo, cerca de 10%, este ano, com previsão de melhora só a partir do segundo semestre.

A Anfavea também prevê que a queda persista em 2024, com recuo de 11%, o que reduziria as vendas para 54,3 mil unidades.