Dois dias após o governo federal, finalmente, lançar o Plano Safra 2024/2025 com R$ 475,5 bilhões disponíveis para agricultura empresarial e familiar, foi a vez do Banco do Brasil revelar os recursos disponíveis para os próximos 12 meses.
Para o novo ciclo agrícola, a instituição financeira quer aumentar, ainda que pouca coisa, sua participação no conjunto total das verbas oficiais destinadas ao financiamento da agropecuária.
Nesta sexta-feira, 5 de julho, o banco estatalBB anunciou que pretende oferecer R$ 260 bilhões para esta safra, iniciada em 1º de julho, quase 55% do montante total do plano do governo.
O montante é o maior da história do BB e 13% acima dos R$ 230 bilhões disponibilizados na safra anterior, que correspondeu a 52% dos R$ 435 bilhões do Plano Safra 2023/2024.
Para chegar a esse pequeno crescimento, o banco tem previsão de R$ 142 bilhões destinados à agricultura empresarial, aumento de 10% ante 2023/2024.
Mas deve dar especial atenção à agricultura familiar e aos médios produtores, que terão R$ 50 bilhões para financiamento da safra, sendo R$ 26 bilhões por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e R$ 24 bilhões pelo Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
O volume total recebeu um incremento de 44%, segundo o BB, após pequenos e médios produtores responderem por 60% das 635 mil operações para acesso aos recursos do ciclo anterior.
“Dada a nossa presença territorial, de atender todos os estados, chegamos onde muitas instituições não chegam. É natural que a maior parte das nossas operações sejam realizadas por pequenos e médios produtores”, diz o diretor de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil, Everton Kapfenberger, em entrevista ao AgFeed.
Com tamanha representatividade desses produtores, o banco acredita que pode ter papel mais relevante no Pronamp. O executivo conta que, na safra 2023/2024, o BB teve um desafio um pouco maior para atender médios produtores. Com isso, nesta safra, a perspectiva é de melhora no atendimento a esses produtores.
“No Pronaf, temos uma presença bastante marcante. E o médio produtor é um setor que vamos dedicar ainda mais atenção”, afirma Kapfenberger.
Para a safra 2024/2025, o BB aumentou para R$ 119 bilhões os recursos para custeio e para R$ 44 bilhões para as operações de investimento, que levam tecnologia ao campo.
Além disso, R$ 29 bilhões ficam à disposição para comercialização e industrialização. Produtores rurais ainda terão R$ 40 bilhões disponíveis para títulos do agronegócio, crédito agroindustrial e giro.
Taxa de juros
Diante da Selic ainda em dois dígitos, a 10,50%, a taxa de juros é o principal ponto de preocupação do setor desde o começo das conversas para definir o Plano Safra 2024/2025.
“Como a gente tem uma grande capilaridade de clientes e atendemos a todos os segmentos, temos uma customização e a melhor solução para os clientes”, pondera o diretor de agronegócios e agricultura familiar do banco.
O BB terá taxas entre 0,5% a 6,0% ao ano para produtores que contratarem os recursos por meio do Pronaf, enquanto médios produtores farão financiamento da safra com juros de 8,0% para custeio e de 10,5% para financiamento de máquinas e equipamentos, o Moderfrota.
Por sua vez, a taxa de juros do BB para custeio de grandes produtores ficará entre 7,0% e 12,0% ao ano. Na agricultura empresarial, a taxa para o Moderforta será de 11,5%, menor em relação à taxa de 12,5% na última safra.
“Por não sermos um banco de nicho específico, a gente vai entender todos os produtores e em todas as faixas de taxa”, comenta o executivo, indicando que o BB terá uma flexibilidade nas taxas de financiamento.
Apesar de a taxa Selic ter caído cair 3,25 pontos percentuais (p.p.), saindo de 13,75% em agosto do ano passado, o patamar alto segue impactando pequenos, médios e grandes produtores rurais.
Um retrato disso é que o índice de inadimplência da carteira agro do BB atingiu 1,19% ao fim de março deste ano. Foi a maior taxa desde o terceiro trimestre de 2020.
A inadimplência do setor vem crescendo desde o segundo trimestre de 2023, quando estava em 0,58%.
“Vimos essa inadimplência crescer, muito decorrente do aperto da margem dos produtores em meio ao aperto dos preços de commodities, principalmente, soja e milho. Isso levou o produtor a buscar alternativas de prorrogação para pagamento de dívidas”, observa.
Recursos para o Rio Grande do Sul
Os pequenos e médios produtores impactados pelas enchentes no Rio Grande do Sul em abril e maio deste ano continuam contando com o apoio financeiro e crédito emergencial oferecido pelo Banco do Brasil.
Segundo o banco, até a quarta-feira (03), já haviam sido contratados R$ 60 milhões das linhas emergenciais do Pronaf e Pronamp para reconstituição das atividades agrícolas. No fim de maio, o BB anunciou um crédito emergencial de R$ 2 bilhões para esses produtores.
Durante o lançamento do Plano Safra 2024/2025, a presidente da instituição, Tarciana Medeiros, disse que tem um montante de R$ 175 milhões a caminho para ajudar os produtores afetados pela tragédia climática que atingiu o estado.
“O Rio Grande do Sul merece atenção de todo o sistema e que recupere a sua capacidade de produção. Houve prorrogação das operações rurais no estado para 15 de agosto (deste ano)”, acrescenta Everton Kapfenberger.