Santo Antônio de Posse (SP) - A volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos pode, indiretamente, ajudar as exportações de soja e a zerar um estoque da oleaginosa, que deve crescer mais de três vezes entre as safras 2023/2024 e 2024/2025. A avaliação é do consultor Luiz Fernando Gutierrez, especialista em soja e milho na Safras & Mercado, em conversa com o AgFeed.

No cenário atual, o maior produtor mundial de soja deve, assim, sofrer diretamente o impacto de um crescimento de oferta global em 40 milhões de toneladas, ante um aumento de 20 milhões na demanda.

Com uma oferta estimada 13% maior entre os períodos, de 152,3 milhões para 171,8 milhões de toneladas, o Brasil deve mais que triplicar o estoque de passagem de soja ao final do atual período e saltar de 3 milhões para 10 milhões de toneladas da oleaginosa sem escoamento. Ou seja, guardaria mais da metade do excedente global.

Mas, se o cenário do primeiro mandato de Trump, que abriu uma guerra comercial com a China, se repetir, o Brasil “pode exportar toda a soja que der” e “zerar os estoques de passagem”, na avaliação de Gutierrez.

Ele lembra que, naquela época, a China taxou em 50% a soja norte-americana em retaliação aos Estados Unidos, o Brasil abasteceu o gigante asiático e as exportações locais, estimadas entre 72 milhões e 74 milhões de toneladas, encerraram o período em 86 milhões de toneladas.

“Um novo movimento como esse tem de partir da China em retaliação a uma possível ação do governo Trump. Mas, se isso acontecer, podemos exportar tudo que der, superar as 107 milhões de toneladas estimadas e o cenário de 10 milhões de toneladas (de estoque no Brasil) não se repete mais”, afirmou o consultor.

Dedos cruzados

Na torcida de que o Brasil seja beneficiado por uma possível demanda chinesa “com todos os dedos cruzados”, o vice-presidente Soluções para Agricultura Brasil da Basf, Marcelo Batistela, segue a mesma linha de Gutierrez.

Para ele, independentemente da questão política, o grande consumidor global de soja é a Ásia e, basicamente, a China, que hoje não tem dificuldade de adquirir a oleaginosa no mundo porque há um excedente.

“Mas se, por qualquer motivo, você tiver uma dificuldade de trade entre qualquer país que vende soja para a China, e os Estados Unidos são um grande fornecedor, isso abre uma oportunidade para o Brasil aumentar a participação da commodity na China”, disse.

Para Batistela, a mudança no cenário ajudaria o Brasil a “vender mais e um melhor para a China, inclusive com um prêmio de exportação”, completou também em conversa com o AgFeed em evendo da Basf no centro de pesquisas da companhia em Santo Antônio de Posse (SP).

Saída pelo biodiesel

Se o cenário geopolítico não se concretizar e os estoques seguirem elevados, a única saída para desovar produção e estoques elevados é o biodiesel, avalia Gutierrez, da Safras & Mercado. Para ele, o aumento da mistura do biocombustível no diesel de petróleo para até 20% ajuda muito na cadeia da soja.

“O biodiesel é um novo driver para o setor, o que que foi a proteína animal há alguns anos, e é capaz de reequilibrar o mercado para o produtor”, disse o consultor.

“Como 70% do biodiesel produzido no Brasil é de soja e novas plantas industriais estão previstas, esse cenário já é real”, concluiu.